quinta-feira, setembro 30, 2004

Ministros e funcionários voltam à escola com CET's

Foram adquiridas e licenciadas pelo Ministério das Finanças cerca de 100 CET's (Cadeiras Educativas Telecomandadas) que serão distribuídas criteriosamente pelos vários departamentos de Estado e a sua gerência pertence ao Instituto de Informática, organismo que orienta a PFSTIAP (Promoção e o Fomento dos Sistemas de Tecnologias de Informação na Admnistração Pública).
A CET baseia-se num rudimentar teclado de martelinhos ligado a um ecrãn com software próprio integrado de modo a permitir a idealização e concepção de uma "ideia-chave" por imagens sugestivas impressas em cubos que se vão ordenando e reequacionando no sentido de viabilizar os objectivos a que o operador se propõe.
A genialidade deste equipamento revela-se na simplicidade dos meios e na linguagem básica para os objectivos que podem vir a concretizar-se - este modelo foi inspirado nos jogos infantis de acções simples de associação de palavras a objectos - 1 cubo do professor está para 30 cubos de crianças; 100 cubos de crianças estão para 1 escola, etc.
Na categoria dos comandos (vulgos cubos) estão disponíveis 25.000 imagens representando as acções e cerca de 10.000 palavras para a eficácia da viabilização númerica na verificação do que seria na realidade.
Este primeiro lote foi, a título experimental, personalizado para o Ministério da Educação e adaptado em particular para o SCPEP (Sistema de Colocação de Professores nas Escolas Portuguesas). Segundo Maria do Carmo Seabra, actual Ministra de Educação, "a CET é um instrumento que estimula o bom-senso na adaptabilidade dos vários cenários e obriga o técnico a equacionar com lógica só as variáveis que são importantes, neste caso o n.º de alunos, n.º de professores e n.º de escolas, sem que o software lhe dê espaço para divagações irreais e projectos absurdos. Eu própria já experimentei e se há 3 meses soubesse o que sei hoje...".
A Ministra da Educação está confiante que a CET representa um passo em frente no núcleo organizacional e educativo deste Governo. Constatado que foi este ano lectivo uma "grande confusão" Maria do Carmo Seabra declarou o citado corpo técnico como "notoriamente desajustado e aquém das expectativas".
A empresa detentora da patente está entretanto em negociação pessoal com o Pedro Santana Lopes a desenvolver ainda a CMT (Cadeira-Mix Telecomandada) e a CFT (Cadeira Financial Telecomandada) para que num futuro muito próximo também os próprios ministros que escolhem as direcções dos gabinetes vários possam escolher adjuntos com juízo e responsabilidade para as várias directrizes de acção no terreno.
Na apresentação da nova tecnologia foi o próprio Primeiro-Ministro que se ofereceu como voluntário para a experimentação e exploração do potencial da CET, reafirmando que considera ser uma "aposta para o futuro do meu país e dos meus governantes, seguramente a ferramenta certa para a multidisciplinariedade racionalizante entre os meus diversos ministérios e eu".
Seguiram-se Bagão Félix que parodiou um exercício para as taxas moderadoras e Paulo Portas provou não lhe ficar atrás num aguerrido jogo de batalha naval em que demonstrou ser possível poupar mais no seu Ministério: "um tiro no porta-aviões!!!!".
P.S. - Este texto é fictício mas se não fosse este lindo país...

quarta-feira, setembro 29, 2004

A Morte na livraria

Todos os finais do mês, mal o ordenado cai na conta, tenho o ritual de entrar em livrarias próximas para conhecer as novidades nos escaparates. Hoje conheci o novo livro de Sepúlveda, indignei-me com o desonesto oportunismo comercial de um tal “Código de Davinci, descodificado” e ainda achei duas pechinchas que há muito namorava. Saía orgulhosa com as minhas aquisições senão quando, em descontraído jeito de pescoço para decidir onde tomar o café, tenho novamente a montra na mira e onde sobressai um pequeno livrito de capa clássica acartonada com poesia de Eugénio de Andrade. Olhei à volta, adiei o café e voltei para inquirir o preço do dito "cujo".
Quando me dirijo ao jovem vendedor sobre o preço do grande poeta sou rispidamente ignorada pelo mesmo para em tom paternal advertir a sua colega de que não devia ir fumar. Reparei que a sua colega tinha idade para ser sua mãe e quando o jovem volta a dar-me a cara estou em expressão de surpresa pelo tom sobranceiro com que o ouvira (registo que sou fumadora) mas devo ter feito uma expressão tão estranha (imagino que usei aquela grande ruga que tenho na testa) que olhou para mim, continuava eu a olhar para ele e sem perceber o que queria e esboçou-me um sorriso tímido dizendo com ar muito grave:
- Digo isto à minha colega porque ela é doente - fez um esgar de sobrancelha misterioso.
- Como? - estava eu em expectativa.
O jovem sorriu agora com coragem e muito sarcástico disse-me:
- Eu hoje não posso telefonar à minha mãe, sabe?
- Como? - continuava eu ainda à espera do não sei o quê que ele esperava ouvir para não falar do Eugénio de Andrade que por esta hora já tinha ido à vida - A sua mãe? Não percebo?
- O tabaco matou a minha mãe há dois anos, logo se hoje quisesse telefonar-lhe não podia. Não acha? - olhou-me à espera de resposta.
Olhei algum tempo, pedi-lhe as desculpas que não devia e disse-lhe que estava com pressa. Saí com a perplexidade daquilo tudo.

Contudo, já à porta, achei que se Eugénio ali estivesse ficava triste pela frivolidade com que reagi àquele desabafo enternecedor e voltei atrás para oferecer-lhe o meu contacto:
- Tem aqui o meu telemóvel. Se quiser um dia falar com alguém...
O jovem não respondeu e apenas agradeceu com o mesmo sorriso tímido de antes.
Nunca tal me tinha acontecido: ir à livraria comprar vida e encontrar a morte.


Saga socialista acaba ao centro

O PS entra num novo ciclo histórico de tendência claramente centrista encabeçada por José Sócrates - ontem mais à esquerda próximo do coração e hoje mais ao centro... cada um no seu poleiro.
Temos 1 vencedor, 1 derrotado politicamente correcto e 1 família deposta. Aguardo com expectativa a seriedade com que o novo líder vai gerir a Via Soarista historicamente combativa e derrotada (sem dó nem piedade) e reequacionar o contributo ideológico e sindicante da Via Alegrista que mostrou ter muitos apoiantes.
"Tenho bem a consciência da importância da unidade do partido, mas a unidade constróie-se com Tolerância, na Pluralidade e na recusa de Sectarismos", declara o vencedor, mas atenção: tolerar é aceitar sem contestação mas não legitimar em verdadeiro sentimento a diversidade oposta, o que pode significar a mera paz temporária. A seu tempo veremos...
Conhecidos os resultados das eleições internas no PS surgem a público as inevitáveis demissões que começaram logo por António José Seguro que coloca o seu cargo de Presidente da Bancada Parlamentar à disposição.
O Seguro "abalado" até compreendo mas o militante Vicente Jorge Silva, ex-director e fundador do "Público"?
Vicente tu? Então não sabes que os outros são políticos de carreira, instrumentos feitos à régua das ideologias que representam e propagandeiam- concerteza muitos pertencem a famílias de génese politizada e de acento partidário e frágil aos ventos doutrinais.
Agora tu? O cidadão interventivo, o intelectual renovador muito antes do deputado de casta socialista? Tu que nem a deotonlogia da tua classe te calou a boca "à geração rasca"?
Oh homem, deixares o PS? Mas que julgavas lá encontrar? Um novo PREC? Tu que conheceste a Revolução Portuguesa e que melhor que eu sabe quão frágil é a democracia e quão relativa é a justiça social e humana no que trata a consolidar o entendimento entre os homens? Entregas o teu cartão e passas a deputado independente? Se achas que o PS não te enche as medidas então o que é te enche, ou devo dizer que partido te exorcita?

terça-feira, setembro 28, 2004

Um lugar para mim?

É verdade: tudo se resume ao "pilim", "papel-moeda", "dinheiro", "graveto", "massa", "abono", "maçaroca","carcanhol", etc.
Enquanto uns procuram casa ou marido eu procuro um lugar. Descobri no outro dia que neste mundo não há lugar para mim porque SOU UM TESO!
- Não posso ir votar ao meu partido porque não tenho as quotas em dia;
- Não posso beneficiar de redução nas taxas moderadoras (ou será dos serviços de saúde prestados?) do Serviço Nacional de Saúde porque o meu ministro das Finanças cruzou-me os impostos e descobriu que lá por ter gasto tudo o que tenho, que é pouco, não o sensibiliza por constatar que ganho mais que um ordenado mínimo nacional (300€?);
- Não posso acabar o meu curso na faculdade, interrompido para ajudar os meus pais a criarem-me, porque não paguei as propinas; não posso recorrer também a uma bolsa para me ajudar a pagar as mesmas porque as 8 horas diárias no emprego não me deixam a cabeça fresca de modo a conseguir terminar todos os semestres e não ser penalizado como tal;
- Não posso ir ter com o meu tio a França para garantir melhor sustento porque como estou neste momento desempregado e sem autonomia financeira já não me é permitida a estadia prolongada nesse país;
- Até o Distíco Automóvel de Residente os estupores não me quiseram dar para o meu "chaveco" com 15 anos que me mama quase 5€ de parquímetro por dia, à porta que está porque o motor não quer trabalhar;
Que chatice! Um gajo sem dinheiro é como um leproso, um renegado!
Não faz e não o deixam fazer o que quer que seja porque neste mundo tudo se resume ao "pilim", "papel-moeda", "dinheiro", "graveto", "massa", "abono", "maçaroca", "carcanhola", etc, e como eu SOU UM TESO, logo não tenho lugar no mundo!
OUTRO MUNDO PROCURA-SE!!!

segunda-feira, setembro 27, 2004

Bicicletas

A Fertagus, empresa que gere os comboios da Ponte 25 de Abril, anunciou a passagem à utilização gratuita de bicicletas nesse mesmo percurso ferroviário.
A gratuitidade e o uso durante a semana é extensível ao Metropolitano de Lisboa e à CP até agora apenas permitido ao fim-de-semana e aos feriados.
Além disto foram concertadas reflexões para "dotar os eléctricos e autocarros que circulam nas cidades portuguesas de suportes para estas bicicletas."
Porreiro! Ao invés de termos autocarros cheios e francamente inadaptados à ergonomia espacial e útil do ser humano - cada vez mais gordo - passamos a andar nesses mesmos autocarros que já rebentam pelas costuras e ainda transportam gente de capacetes, bicicletas, malas e malinhas especiais e essenciais à prática.
A lógica diz-me que se se aparelha o autocarro por dentro (lembro o Código da Estrada onde estes veículos pesados não podem ter quaisquer elementos volúmicos exteriores ao seu próprio habitáculo, excepção criada só para bandeirinhas do Euro'2004 e outros), no seu interior tem que necessariamente se roubar espaço para o novo equipamento e ainda repensar os corredores de circulação interior para mais funcionais.
Chegados aqui perturba-me outra questão: se há a "necessidade de uma mudança na mentalidade das pessoas responsáveis, como da população em geral" e constata-se que "é preciso simplesmente fazer algumas adaptações nas cidades" para que "as pessoas comecem a olhar para a bicicleta com um espírito actual", então alguma coisa está aqui errada.
Como utente de transportes públicos desta cidade que é Lisboa, não percebo o que é que esperam que mude nas tais "mentalidades":
- Compre-se uma bicicleta e passe-se a andar de autocarro, metro e eléctrico com ela? - Então para que me serve a bicicleta?
- Quando tiver 70 gastos e empedernidos anos, como representam quase 450 mil habitantes em Lisboa, atrever-me-ei a andar de bicicleta, mesmo que motorizada? - Não.
- Portugal não será "excepção em quase todo o mundo, no uso da bicicleta" porque tem as suas cidades principais assentes numa configuração topográfica acentuadamente irregular e inclinada? - Talvez. A não tradição velocípede dos portugueses, motorizada inclusivé, talvez tenha tido origem na fala dessa planitude.
Uma coisa também sei: a bicicleta "não é um veículo poluente" com diz o Presidente da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, e di-lo muito bem, mas é-a Lisboa inteira e o tráfego monstruoso e preocupante que a assola (alvo de atenção e estudo dados os níveis de poluição que está a atingir) e onde, para mais, se verificam em média mais ou menos 3.500 acidentes de viação por ano.
O que os 118.346 utentes de autocarros, 10.985 dos transportes ferroviários, 14.294 utentes do metro e quase 3.000 das vias fluvais precisam, é que as várias entidades envolvidas assegurem a sua viabilidade e condigna, mesmo que economicamente inviável para o défice do nosso actual país. Que garantam:
- mais quantidade e qualidade nos transportes públicos para deixarmos o carro tranquilo à porta e ainda assim nos sobre uns troquitos para adquirir o velocípedo em causa e comportar o próximo repetido aumento das tarifas de transporte.
- com a circulação de menos carros particulares e a redução da poluição que venham bicicletas, por que não? Por elas deve passar também uma relação lúdica e cívica com a cidade já liberta de máquinas e mais espaço livre para a sua fruição, mesmo para "o combate à celulite" daquelas senhoras.

domingo, setembro 26, 2004

Parar o tempo que não temos...

Acordei. Acordei na mesma cama do dia anterior, nos mesmos lençóis tristes com a mesma almofada inócua debaixo da cabeça e a outra, tão inócua quanto a do lado, longe do corpo e do ventre simbólico que tantas vezes me incomodou, vezes suficientes para me apetecer rasgá-lo porque era oco e seco como os carvalhos velhos que só dão sombra e lenha.
Foi nesse ventre de repente despido que acordei a desejar que o meu tempo parasse, se suspendesse naquela luz parda que tanto nos iluminava como se esquecia de mim e tu ao meu lado.
Agora percebo porque é no ventre e não noutro canto do corpo que nascemos. Geramos física e espiritualmente o indivíduo consumado que não fomos e nascemos para cumprir e dar alma ao tempo que ocupamos ao jantar contigo ao meu lado, na rua de que me proteges, nas dobras do corpo e nos intervalos da consciência córpora de mim e de ti.
Parava aquele tempo e agarrava-o entre os braços e com a boca como me fizeste instantes antes e deixava-me ir, leve e ingénua, abandonando os meus espaços brancos, os que Augustina me mostrou, bem para o centro do meu sopro que o coração não comandava mas tu, nesse olhar distante e imenso, nessa dança surda que não nos destingue nos corpos, tão suave eras tu e eu e nós.
Suspendia aquele momento em que mais parecias corpo entregue a pietá de algodão branco imaculado e protectora deste amor inesperado.
Calava o canto das rolas do vizinho, o desassossego dos cães que à porta nos pressentiam a liberdade, as gentes na rua que te arrancavam para a tua hora, a tua casa, essa que nunca será a nossa.
Parava tudo e não deixava que te levassem para junto dos teus que não conheço, não deixava que no banho desinfectasses o meu corpo no teu, que abrisses aquela porta ao fundo e me deixasses outra vez no tempo anterior.
Nesse tempo onde não tinha os teus óculos na cabeçeira, o teu casaco na minha cadeira ao lado do nosso jornal, ao lado da tua mala onde espreitavam atrevidos aqueles livros que gostava de ter junto aos meus, que gostava que dissessem que eram nossos.
Se pudesse, nessa manhã, quando acordei na mesma cama do dia anterior contigo ajeizado em mim e ao lado dos meus livros, tinha parado o tempo que não é nosso.

Notícias Magazine

Hoje esbarrei com a minha vida bem no meio da Notícias Magazine e estremeci no mais profundo anonimato que ainda consegui encontrar. O médico Vasco Prazeres que eu não conheço de lado nenhum escreveu a vida dos meus dias. Estou perplexa tão exactas eram aquelas linhas.
P.S. De fundo quem dava música aos meus ouvidos era o David Holland Quintet e Léo Ferré acompanhados pelos meus companheiros de sempre.

sábado, setembro 25, 2004

Candidato de cartão impresso

Uns fazem campanha na televisão e outros em qualquer lado e em nenhum porque aplicam-se nos dons da oratória que nem aristóteles modernos.
Afinal há mais: há os que não se vêem, não se ouvem e chegam-nos estampados num cartão mais ou menos fino e de formato considerável e prático para ainda disporem à sua a volta outras figuras (intocáveis e abonatórias?).
João Soares surpreendeu-me porque conseguiu meter na minha caixa de correio de 4 palmos por outros 2 de interior João Paulo II, que não prima em elegância, Dalai Lama que mesmo magrito andava com muitos trapos em cima e ainda, vejam lá que proeza, UMA AVIONETA! Uma avioneta que no mínimo de razoabilidade precisava de pelo menos 2 salas minhas.
Notável João Soares!

sexta-feira, setembro 24, 2004

Alegre/Sócrates/Soares ("En Garde"!)

Não há nada de errado no facto dos políticos terem diferentes abordagens e métodos políticos. Todos eles são (e sabem-no como ninguém) moralmente obrigados a entre si reconhecer, tolerar e aceitar os que parecem divergir. Como peças da mesma engrenagem têm a consciência política que todo o fundamento ideológico, desde que na da mesma génese, é sempre um meio para o mesmo fim maior - o pensamento político aprimorado, empírico e legitimado na aplicação e nos resultados que confirma. Asim, o modos operandus só será questionado verificando-se nele o não reconhecimento dos ideais pelas suas bases internas e humanas.
Aceitando esta premissa - relação do conteúdo e consolidação em objectivos na participação política de qualquer um - pouco importa que armas se escolhem se o sério e dedicado militante tem consciência que deve reflectir e analisar nestes moldes, cumprindo os verdadeiros fundamentos ideológicos da sua organização.
Veio-me isto à baila pelo trio desconcertado e avindo que os candidatos do PS têm protagonizado nos últimos dias.
Lembraram-me - em antítese - "Os 3 Mosqueteiros" de Dumas famosos pelo espírito de equipa e não pela individualização estereotipada como arma de arremesso (contrária a qualquer conduta colectiva) nesta corrida ao poder.
Doutra maneira como explicar então que em campanha eleitoral cada candidato se veja rodeado por minis-PS's, formados pelos apoiantes de candidatura, todos reconhecidas personalidades influentes da orgânica política daquela mesma instituição.
O que significam estas polarizações de estratégicos e responsáveis militantes, senão o reflexo do vácuo político-direcional que o PS enfrenta agora?
Não me parece que possamos ouvir como no clássico de Alexandre Dumas, "todos por um", porque observámos no mínimo que são "cada um por si".
O que esperam as bases destes concorrentes e "falsos mosqueteiros" ao serviço da sua razão e partido?
Não seriam a representatividade escolhida e
inquestionável da unidade e coesão dos ideiais subjacentes?
Não seria um corpo vivo e aglutinador do pensamento político, motor para a acção concertada daquele partido na sociedade?
Quando este Portugal politicamente bipolarizado (PS/PSD) é confrontado pelo esvaziamento da ética e moralidade política da sociedade - produto da demissão de Durão barroso - o que pensar?
Somos obrigados a amanharmo-nos com um PSD sem qualquer "oásis" na manga e com um PS há muito - talvez desde Sá Carneiro - há muito perdido e em (des)construção, o que lhe hipoteca qualquer alternativa à direita.
Constata-se o desmantelamento interno - donde resulta a demissão de Ferro Rodrigues - fenómeno que é mais um sinal do enfraquecimento estrutural e organizacional do PS. Num PS perdido e adoentado este é o primeiro passo de sobrevivência para a sua iminente colagem a outros, a outras forças.
O que se pode esperar deste partido e dos homens que preparam o seu futuro, que ora se abraçam à porta da Judiciária de Lisboa, ora se atacam vulgarmente para a tomada dos comandos?
À semelhança de "Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém têm razão", se eu fosse Guterres o que dizia era mesmo: "No PS escassa a união, todos querem ir ao poder mas ninguém tem coração".
EN GARDE!

Os cães e os blogues (continuação)

Estou danada! Fula! Estupores!
Tenho um drama canídeo na minha casa! - corrijo - Há uma rebelião canídea e eminente lá em casa.
Como decidi há uns dias: cheguei a casa, entrei, olhei para o quarto deles e (ainda estupidamente), voltei a abrir a porta da rua para ver se por acaso não tinham ficado lá fora.
Estou doente, e quero resolver este assunto (e ainda tenho de procurar os meninos em casa, na dispensa, na sala e na cozinha)! Corri tudo e fui encontrá-los atrás da rede de descanso, coitadinhos, que o ar de abandono pedia comiseração.
Pus os pontos nos is, todos os pontos e mais algum, tão danada que estava:
- Alô? Alô? Então pessoal, tudo bem? - estavam num silêncio absoluto que eu nunca tinha observado.
- Então, que se passa? - a Bia franziu o sobrolho e o Scobidoo suspirou.
- Bom! Vamos lá ver o que se passa. Hum? - afastaram-se em direcção ao corredor, virando-me os dorsos.
- BIA! SCOBIDOO! Aqui! Já! Ai, ai, ai, ai... - e dei-lhes uma sapatada no que me pareceu mais à mão. Estraguei tudo.
Reclamavam, tão agitados que estavam, com estes argumentos tão ponderados que fiquei "unspeackless:
- Queremos saber se isto cá em casa vai continuar assim e se assim for não interrompemos a "greve de zelo"!
(Estão bem ensinados, não acham?)
- A GREVE???? - espantei.
- Estamos em greve de zelo e cientes que as nossas reinvidicações são mais que justas!
(Fiquei perplexa, sentia-me numa banda desenhada do Quino)
- Arranjáste um blogrrre (é assim que os cães dizem blogue) e nós deixámos de importar. Sais mais cedo para preparar as tuas leituras e ainda vens mais tarde porque o teu blogrrre tem que ser actualizado todos os dias.
- O meu quê?....
- Sim senhora, o teu blogrrre! Os teus livros, os teus jornais, as tuas escritas, isso tudo para o teu blogrrre, não é?
(Bia parece passar a palavra ao Scobidoo que aos pulos, que ele só tem 2 palmos de altura, enquanto que ela fica a dobrar-lhe, aos pulos toma a palavra)
- Vais carregada de papel para a esplanada e estamos 3/4 horas com uma trela pelo pescoço, que se enrola e aperta a maioria das vezes, que estamos com o cu gelado, que mais parece Inverno (e nós estamos no Verão), que até te esqueçes do queque gostoso do sr. Jorge, que devorávamos sempre.
(Estou à rasca meus amigos)
- Esqueceste-te dos passeios longos que davas...
(aqui pareceu-me que o raio do pequenote estava a ficar maior)
... das vizinhas que nos mimavam no jardim, quando não corríamos atrás da passarada toda, que eu corro mais que a Bia; esqueces-te do areão que já tresanda, para não falar que não escovas a Bia há 3 meses, e sabes que os nós chateiam-na quando se coça. Que achas?
A Bia não come o repolho da sopa que fazias aos fins-de-semana e eu não rôo um osso há já..., que agora não interessa. E o sofá? O sofá, ah? Já não vemos sequer televisão, porque tu tens muito que ler, ler e ler! Olha, eu já não me lembro dum jornalito esquecido no chão para o mijar, porque agora não só tens que ler tudo e mais tudo, como ainda guardas a papelada toda porque ainda podes querer ler, e ler mais, e ler mais..
.
(O meu pequenote já acusa algum cansaço, tanto se esperneia para estar à altura de um verdadeiro orador)
- ACABOU-SE!!!! - Pus ponto de ordem nos trabalhos, tão assarapantada que estava - INTERVALO PARA REFLEXÃO E 1 CIGARRO!
(...1/2 hora passou... Pensei, pensei, pensei... e fiquei na mesma. Mirei-os com cara bem séria e tomei as minhas conclusões, indecisas, por sinal)
- BIA! SCOBIDOO! - chameio-os a mim.
- Meus amigos, a vida não é sempre como a gente quer, portanto, decidi dar-vos 2 folgas intercaladas por semana, e já vão com sorte. Afinal, CÃO é CÃO!
(Os malandros não gostaram desta inferiorização e desaparecem em trote arrogante no corredor, mesmo daquela maneira que eles bem sabem que eu não gosto, e nem quero, porque risca-me o chão e ainda chateia os vizinhos debaixo)
- PARA A CAMA! E não se queixem! Têm muita sorte que não arranjei homem para vos trocar no sofá; filhos que vos puxam o rabo e as orelhas e obrigam-vos a ir na bagageira do carro.
Têm um quarto só para vocês, para onde só levam tralha e mais tralha da rua; têm até fotografias vossas pela casa; mantas e mantinhas; bolas e bolinhas; para não falar da assinatura mensal de uma revista para cães.
Têm avós com quem passam férias e ainda ficam a cagar fininho com todas as guloseimas que lhes cravam.
Têm uma manta só para viajar no carro; champôs para cães de pelo preto e amaciador.
O Scobidoo até já foi pai primeiro que eu, patati, patati, patati,...
JÁ PARA A CAMA!!!!!!

(Espero que começem a comer, pelo menos, senão estou feita. Noto agora que o Scobidoo está mais magro. Amanhã vou falar com o meu amigo bloguista, que eu sei que têm uma gata e talvez já tenha passado por isto.
Bolas!!! Vai concerteza chamar-me a atenção de que continuo a fazer comentários muito longos. Paciência....)

quarta-feira, setembro 22, 2004

Qualquer semelhança com a realidade é pura...

Diálogo imaginário de militantes socialistas no Porto, no almoço do Debate dos Candidatos à Direcção do Partido Socialista.
Primeiro militante [1h30m]: Cá no Porto come-se mesmo bem!
O debate dos três lá em baixo, em Lisboa, não teve piada nenhuma. Digam os alfacinhas o que disserem, a malta cá em cima é que sabe pegar o boi pelos cornos - que chouriço carago!

Segundo militante: Se a capital fosse cá em cima na Invicta, o PS não se lembraria de ir buscar a outra esquerda para derrotarmos o Santana. Caramba, o nosso presidente aqui da distrital até se lembrou do Louçã, vê lá tu!
Sabes o que é que eu acho que se devia fazer? Convidávamos os camaradas de Lisboa para um joguito de futebol cá em cima e ensinávamo-lhes como é que se fazem tácticas e se resolvem diferendos.
Primeiro militante: Isto é uma barraca. Depois daqueles dois mandatos do Governo do Guterres, a coisa no partido nunca mais foi a mesma. Não fizemos mais contas que o Cavaco - para não falar das patacoadas do Guterres com os números - e ainda íamos tendo um infarte do miocárdio de andar por aí de coração nas mãos a convencer o país. Nem a Europa socialista nos valeu da derrota amarga que sofremos a seguir.
Segundo militante: Cá para cima ainda fizémos uns jogos jeitosos...
Primeiro militante: A malta está em estado de depressão e melancolia...
Estes dois últimos anos têm sido uma prova dura e andamos a ver se conseguimos uma "aberta" que seja para fazer alguma coisa... Nem na Assembleia, como oposição, conseguimos fazer brilharete.
Segundo militante: "Tem havido excesso de coração e défice de razão na vida política do partido" disse muito bem o Francisco. O tipo para lá de ter alguma razão ainda fala bem.
O chouriço também me está a saber muito bem...
Primeiro militante: Calma. A campanha do coração foi bestial pá! Tocámos no mais profundo de nós e do povo. O problema é que a malta tem de se desviar da atenção ao umbigo e procurar a "alternativa para fora, para o país", não é? Já não há pachorra para tanta autocrítica e introspecção partidária. As reuniões começam a ser um frete!
Segundo militante: Estás a falar da organização de cá? Daquela história de Narciso Miranda e Fernando Gomes serem a última nata do partido?
Primeiro militante: Não é isso pá! Esses camaradas, os "enquistados" - não é assim que lhe chamam? - esses são pessoas muito importantes e válidas à causa! São o Pinto da Costa do PS pá! É gente notável! - este leitão deve ser da quinta do Ernesto da sede de Fontes.
O problema é que é preciso olear outra vez a máquina. Para mim, e já o disse lá na sede, temos que lançar o Sócrates e o Cardoso. São a geração modernista e o garante na Europa, são mais-valia maior.
O Sócrates é manhoso e inteligente q.b. para aquelas directivas europeias. É como peixe na água. É o melhor que ninguém e todo cheio de classe, que tu sabes que não é para populismos.
O Cardoso é outro tipo janota e incapaz da deselegância estúpida das guerras que o Rui Rio arranjou no Porto. É que até os sociais-democratas cá de cima são feitos de outra cepa.

Segundo militante: Alinhadinho por alinhadinho... Até gosto do Alegre. É como o vinho do Porto, quanto mais velho melhor. O tipo está connosco para ficar...
Primeiro militante: E tu a dar-lhe com os velhos! Eu conheço-o (já fizémos caravanas juntos) mas o Francisco, e ele é que é o presidente cá no Porto, quer desenvolver e projectar um PS moderno e progressista.
Não podemos ter o Alegre - parece que até esreve umas quadras valentes - a discutir as quotas do vinho português lá em Bruxelas com os alemães. Ainda lhe saltava a tampa a meio das negociações e desatava a chamá-los de neo-estalinistas e fascistas da nova vaga. Percebes agora? O Alegre dá cagança como o Fernando Pessa na RTP. Um dia é nosso
ex-libris patrimonial, mas agora temos que representar um partido de última geração, com orgânica tecnocrata-europeísta.
Segundo militante: Mas se queres atrair a esquerda... os comunistas?
Primeiro militante: Está bem. Aí o Alegre junta os antigos e à vista desarmada somos todos unidos, que nem carne e osso. Cá entre nós... a coligação estratégica e ideal é como a que fizemos em Lisboa com o filho do Soares. A lista era coligada mas o rei era nosso. A obra feita será sempre de João Soares e ninguém se vai lembrar dos outros, que até tinham a maioria de vereadores eleitos, segundo dizem...
Segundo militante: O debate vai começar. Vamos ver se sai daqui o presidente da junta, caramba! Bem precisamos!
Primeiro militante [15h30m]: Ai sai! Sai! Nem que seja à força! - hum... fiquei bem aviado...
Sabes que mais? Eu até gostaria de ter candidatos independentes. Aqueles tipos que nós não conseguimos agarrar na altura dos Estados Gerais, lembras-te? Foi como este vinho pá, bons dias no partido.
Ali! Ali estão cadeiras vagas!

segunda-feira, setembro 20, 2004

Os cães e os blogues

Apercebi-me, faz já 3 dias, que os meus companheiros canídeos têm um comportamento como que "apreensivo e ausente", permitam-me estes adjectivos humanos.
Primeiro estranhei e depois entranhei, como a Coca-Cola do Fernando Pessoa. Passaram mais 2 dias, e aqui já me acautelava na observação diária destes dois pequenotes, e nada de novo:
A comida continua nas tijelas e já não me trepam pelas pernas acima quando regresso a casa ao fim do dia, entre outras performances.
Hoje vou pôr tudo em pratos limpos, caramba, que não tarda muito e tenho de ir a correr para o veterinário, mas antes disso, arranjar a folga impossível com a mesma impossível da minha mãe e aturá-la ao telemóvel 1 hora seguida sobre a minha irresponsabilidade.
"Porque tu sabes que eles só têm os donos para os afectos; o Scobidoo têm uma doença muito grave para andares com a cabeça na lua; que não te podes esquecer que o tratamento dele foi um balúrdio; que ora só queres cães, ora esqueces-te de os compensar"; porque a minha mãe é assim como ninguém; porque a ideia foi minha e quem sofre e fica triste é ela e o meu pai; blá, blá, blá.
Garanto-vos que não é nada fácil argumentar com esta senhora justa e coerente, que, espantosamente, e não é por ser minha mãe, que eu não fui fresca quando nova, que surpreendemente põe-me a sentir o Jack, o Estripador, no que toca à partilha da vida canídea lá em casa.
Não passa de hoje, se não estou feita com a minha mãe, com o meu pai que a apoia mesmo quando está distraído da questão em si, e, ainda, com a minha irmã que tem a mania que é esperta, mas que neste caso também teria razão.

domingo, setembro 19, 2004

Parabéns Mafaldinha

"A heroína zangada com o mundo, tal como ele é", segundo Humberto Eco e que subscrevo, faz hoje 40 maravilhosos anos.
Maravilhosos! Geniais! Inspiradores!
Faz 40 anos de impertinência salutar e de uma liberdade contestatária de tamanha modernidade, que só é pena que não a plagiem as gerações actuais e futuras.
Homenageá-la é afrontar todos os dias e em todos os cantos do mundo, todos os que nos parecerem velhos déspotas e mensageiros de ódios decrépitos à dignidade humana.
Mafalda nasceu em 1964, há quase meio século, mas podia ter nascido ontem. Pertence-nos o mesmo mundo que se perpetua devassado por Guerras atrozes; vergonhosas Ditaduras; intolerantes Genocídios; perigosas Potências Mundiais; revoltantes Pactos Políticos; ameaçadores Grupos Armados; infames Extremismos; indecorosa Indiferença Humana à Pobreza/Miséria ou a ofensiva Ostentação da Sociedade de Consumo, etc...
Ainda me rasa a comoção e o desassombro quando a vejo largar um globo terrestre sobre sua cama e dizer a seguir: "O mundo está doente. Sabes porque é que este mundo é bonito? Porque é uma reprodução. O original é um desastre."
Nas palavras de Quino diria que Mafalda está para a hipocrisia medíocre como o humanismo está para a modernidade funcional.

Desconfio que meu amigo bloguista é maçom...

Isto dos blogues é como os maçons: há rituais, segredos e uma fidelidade de princípios de correspondência e protocolos operativos que só se configuram nos blogues e entre os bloguistas.
Trocava impressões com o meu amigo bloguista sobre um filme intenso que está agora em exibição, "O Regresso", quando ele me atira com Homero para cima e soma-lhe ainda uma certa "Teoria de Fé" de outros em que: "precisam e urgem acreditar no que for, neste caso os filhos e os pais que estes não (re)conhecem, para enfrentar medos e avançarem para dentro de si mesmos. Para a sublimação e plenitude como indivíduos, peças de um todo Amor-Mor".
Malandro, ah?! Eu que já tinha T.P.C. atrasado ainda fiquei mais atascada, por assim dizer, de assuntos para deglutar.
Deixei-lhe um adeus mal amanhado e fui a correr para casa, aflitíssima, porque já me esperava Samuel Becket, "O Homem do Bolo-de-Arroz" - inédito do bocadosdegente.blogspot -, o dia 10/09/2004 do ideiaslusitanas.blogspot (que ainda não percebi se é puro exercício questionativamente são) e, vejam lá, para juntar à pilha:
- HOMERO! Homero! Homero!
Que grande barraca. Eu que só li a "Odisseia" e a "Íliada" faz já uma vintena de anos.
Pois é, quem se mete com bloguistas às vezes bloga-se!

sábado, setembro 18, 2004

Alguém lhe explica?

A Marta telefonou ao irmão, com uma Licenciatura em Ciências Políticas da Universidade Nova, que é considerado por todos na família como politicamente promissor e astuto e inteligente q.b.
- Bruno? Sou eu a Marta, estás bom? Olha lá, preciso que me esclareças umas dúvidas.
- Marta, miúda! O que foi desta vez?
- Estive a ler uma crónica daquele teu amigo, o Pacheco Pereira, e não percebi.
Explica-me lá isto: "Em relação ao BE, o PCP é socialmente mais importante. Não só, é muito mais importante eleitoralmente. Só que não é em termos culturais e comunicacionais, e, na sociedade do espectáculo, isso significa não existir politicamente".
- Sim Marta. Qual é a dúvida?
- Não percebo. Do que é que ele está a falar afinal de contas? Do Big Brother? Das discotecas da Cinha Jardim e do Pedro Santana Lopes? Do carnaval do Alberto João Jardim ou do Durão não resistir a vôos europeus mais altos, segundo sei o teu amigo não só não gostou como se despediu.
Eu até achava que o PSD é que era o eleitoralmente reconhecido, o PCP o culturalmente estabelecido, e o Louçã do bloquinho, o "guru" das comunicabilidades!
Explica-me lá o que é que ele quer dar a entender com "politicamente quem é que o espectáculo faz existir ou não"?
Que espectáculo Bruno?

sexta-feira, setembro 17, 2004

Eu, o meu filho e a Becas... (Aborto II)

(Triiiiiiiiiiiiiiiii)
- Estou? Becas?
- Estou. Joana?
- Sou eu. Estou numa embrulhada Becas... Estás sozinha? Com o Pedro?
- Estamos os dois. O que é que foi?
- Estou com uma gravidez de 2 meses e meio...
(...)
- Estou? Joana? - Pedroooooooooooooo! A Joana está grávida!!!!!!!!!!!!! - Desculpa Joana, como é que foi? Estás em tom de velório...
- É o meu enterro, o que é que achas? Tenho uma criança aqui dentro e...
- E não é o fim do Mundo.
- És louca Becas??????
- Pára, vá. Fodeste com um gajo e ficaste grávida. É como se fazem os putos todos.
- Não ponhas as coisas des...
- Ponho, ponho. Deixa-te de fitas. Fodeste com um gajo sem a camisinha. Não esperes discursos ridículos: "Joana, minha querida, fizeste amor com um homem querida. Tens um menino na barriguinha, querida...". Não são horas para puritanismos.
Também, chiça, não estou a dizer que foste para o Ritz - Pedro, larga-me! Estou a falar com a Joana - não te estou a dizer que foste para o Ritz com uma racha até ao pescoço... - deixa-me Pedro, que ela às vezes precisa de ouvir as coisas assim - no Ritz, com uma racha até ao pescoço e a meteres-te com os gajos todos. - Porra Pedro!
- Sim Becas, mas...
- Ouve o que eu te digo - e tu Pedro depois se quiseres mimas a tua amiga, não és tu que a aturas, pois não?...
- Mas...
- Não é contigo Joana, é com o Pedro que consegui que ficasse mais escandalizado que tu, vê lá. Queres o puto ou não?
- Uma criança precisa mais que uma mãe. Precisa da figura paterna...
- Ouve-me. Ele está feito. Agora ou abortas, e ficas a culpar-te para o resto da vida, ou então, têm-lo. Têm-lo! Porque não?

- Não é simples Becas, eu...
- Foi simples fazê-lo, não foi? Ninguém fica mais feliz por abortar, só mais aliviada.
- A minha vida...
- A tua vida? Achas que tirando os putos planeados, as outras mulheres têm alguma vida diferente da tua? A maior parte das gravidezes vêm ao acaso, como as minhas. A diferença entre nós é que eu já tenho que os pedir "por favor", que já estou nos "enta". E tu?
- Eu?
- Sim. Tu estás quase lá e se não os fizeres agora, planeados ou não, vais chagar-me o tempo todo porque queres ir para ali com a Lili, para ali com o Jonas, etc, etc. Quere-lo ou não?
- Sabes que cheguei a considerar essa hipótese, mas...
- Mas o quê? Isso é genial mulher! Desejar o filho que se gerou.
- Becas, ele não estava à espera disto, sabes?
- Ele quê?
- Ele não sabe bem se...
- Deixa-me esclarecer-te. Um homem pode pedir a uma mulher que não aborte, mas que eu saiba... - não é Pedro? - que eu saiba até hoje nenhum homem pôde pedir a uma mulher que fizesse 'O' aborto. Percebes a diferença?
- Sim Becas mas...
- Mas nada. Se queres o puto, mesmo sózinha, têm-lo. Isso é que era bom! Tens o puto, mas não tens o pai. E depois? Depois nós ajudamos caraças. Fazemos todos de pai dele: os teus amigos, a tua família, todos não é?
Essa criança não vai ser menos feliz e mais desiquilibrada que as minhas porque não tem o pai natural para jogar à bola com ele.
Crias esse filho para viver afectivamente com o mundo a que pertences e, quando adolescente, não te preocupes que ele próprio vai procurar o pai e se calhar entender-se.
Provavelmente vai encontrar irmãos e até conseguir ter mais irmãs, mais pais, mais avós.
Joana, mulher, gera orgulhosa esse filho se o desejares. É bonito. Faz-te sentir mais bonita a ti também.
Nós todos, e os teus, estamos cá para te ajudar a compreender que até mesmo este mundo vale por isso. Vale o sacrifício, vale a perda, vale acreditar em vida nova.
- Becas?
- Sim Joana?
- Estou baralhada...
- Sim Joana.
- Estou confusa. Passa-me ao Pedro.
- Beijos amiga. Parabéns mãe.
- Estou? Pedro?
- Estou? Joana?
- PEDRO????????? ESTOU GRÁVIDA!!!!!!!!
- Boa Joana!!!!!!!!! Parabéns, miúda

Aborto I

Há sempre dois abortos: o da Mulher e o dos Outros.
O da Mulher é real e leva-a à culpa sufocante, ao buraco profundo que não consegue jamais tapar, e tapar...
O dos Outros, esse é abstracto e sem a generosidade que demova os que apedrejavam outrora mulheres frágeis e hoje as lançam com protocolo e elegância para as prisões.
O argumento da Mulher é sempre legítimo, como é a sua liberdade de escolha. Mas o aborto, esse já há quem se ache com alvará sobre ele. Direitos sobre o seu desígnio e prerrogativas de existência.
O aborto da Mulher é real. O aborto dos Outros é abstracto e normativo.
Não compreendo que pela dignidade da vida se mate a liberdade do direito a ela das muitas mulheres pelo mundo.
Pergunto-me se o que condenam, não é o aborto, mas essas novas mulheres que descobrimos fortes e corajosas, quando contra si acometem, questionando o direito "per si" da força geradora e criadora de que são totalitárias. Da única benesse que esse deus, que os Outros invocam, esse tal deus lhes considerou.
Estas novas mulheres não são bíblicas, mas muito corajosas...

quarta-feira, setembro 15, 2004

Que disparate menina!!!!!

"Quanto a namorados: não tenho, nem procuro. Tenho a companhia dos meus cães". – Marta Pereira, modelo e actriz
Q'disparate menina!!!!! Olhe, eu lá prá minha casa tenho dois canitos, até bem jeitosos já m'disseram, um mais pequeno qu'o outro. Um casalito até bem parecido mas q'se note: na m'enchem nada as medidas!!!
Veja bem menina: no divã só largam pêlo; na cama na m'aquecem, taditos, que nem dou pr'eles, e as patas qu'têm às vezes arranham. E de que maneira menina!
Na têm jeito nenhum prá quelas coisas qu'a menina sabe: o pequeno-almoço só aquela ração desenxabida e que cheira mal; ao jantar pouco lhes apetece a na ser coçar a pulga até se doer-lhes, taditos, e só p'ra me alembrar da voltinha à rua qu'inda na deram.
Na podemos ir todos ao "Panças", claro, q'é o restaurante lá pró pé de mim e onde gosto de ir comer uma cabidela, q'mê médico disse ser bom pró sangue velho.

Quando vou p'ra férias, pagam umas taxes que na conhecia lá no campista, s'be q'eu lá no meu posto médico também pago, mas aí ainda me posso valer dos desabafos com o mê médico que tem mesmo de m'ouvir na é?. Deles, lá no campista, a valer-me, só se for a carteira mais magra.
Veja q'disparate menina!!!!!!!
Venha você apoquentar-se c'meus vizinhos, UFFFFFFFFFFFF. Todo o santo dia, menina, UUFFFFFFFFFFFFF.....

É de manhã co'o cócó, taditos, como s'nós também na soubéssemos o q'isso é, o cócó q'meus canitos deixam todo no passeio.
É p'lo almoço, lá c'a velhota de cima que precisa da companhia dos pombitos, q'eu até gosto deles mas quem fica co'a roupa toda suja no estendal sou eu, n'a é ela. Como gosta muito dos pombitos, os m'canitos saltam doidos e ladram tanto que até os espantam, veja lá, até assustam os pombitos que só lá n'minha terra é que eu os conheci pouco afoitos, pois cá n'cidade ainda não, até nos entram pelas janelas, na é?
Bom, isto de manhã menina, pois então, porque lá prá noite ela, a velhota, já só quer sopas e descanso.
Olhe menina, na se zangue, mas pensando bem na lhos dou, qu'os canitos são os meus meninos qu'mais quero na vida, e, como n'conheço a senhora, na é, e na lhe estou a apontar nada, veja-me bem, mas como na'a conheço bem vamos ficar por aqui.
Eu co'meus canitos e a senhora, qu'se calhar é menina, fique lá co'os seus. Eu na sei qué qu'a menina faz co'eles, mas também na me diz respeito. N'acha menina?

segunda-feira, setembro 13, 2004

Informação "deformada"?

A Sociedade de Informação e os profissionais que a ela pertencem estão, actualmente, em ampla reflexão e discussão sobre a temática da Ética e a Legitimidade do seu envolvimento (ou da instituição que representam) na contextualização política, social, cultural e cívica dos factos que mandam cá para fora, para a isenção da notícia que produzem.
Simplificando: deve ou não a notícia transparecer opinião ou tendência opinativa, seja pela omissão de factos ou sublimando outros por favorecimento dos mesmos?
Não sei se será simples condicionar racionalmente o jornalista ou o veículo informativo para a simples apresentação factual da notícia.
À partida, e no meu leigo conhecimento, imagino que a produção de uma notícia pelos profissionais (também vulgos cidadãos com opinião), implica essencialmente a avaliação e síntese de um facto, real e confirmável, para construir a notícia no que ela foi de excepção. Como extrair do facto a importância que faz dele notícia e isolá-la do valor noticial que representa para o profissional ou para aquela instituição, que nem sempre está directamente relacionado com o acontecimento em si?:
- (a) A simples conversão da imagem, acção, sons e cor para o formato escrito não implica a interpretação do "acaso", sempre relativa para cada um?
- (b) A contextualização social, cultura, política, etc., da sociedade vigente não interfere inevitavelmente com a avaliação da importância que os factos têm?
- (c) A Imprensa Escrita e os Media não se transformaram-se, nos dias de hoje, em fortes e vitais instrumentos de poder para as várias classes sociais, populares e elitistas?
- (Etc...)
Como leitora conto, acima de tudo e de todas as suspeitas, com a honestidade intelectual e a garantia do rigor e da inquestionável verdade da notícia, facto e até mesmo opinião. Entendo a Imprensa Escrita e os Media como o grande pote no fundo do arco-íris do Testemunho do Mundo.

Sem eles não adquiro o conhecimento, não cresço como cidadão informado e culto...
Não compreendo, nem aceito que este mo seja facultado com Preconceito, Relatividade, Favorecimento, Manipulação ou Mentira .
Quando li no "Diário de Notícias" de hoje:
- "Dos 300 cidadãos portugueses que estavam retidos em Cuba, por causa da aproximação do furacão Ivan, 40 já regressaram a Portugal. Na ilha continuam 260 turistas nacionais, que estão a ser aconselhados a não deixarem os hotéis de categoria superior ou a procurarem abrigo nos túneis militares, pela primeira vez cedidos à população." (...).
Li, constatei a passagem do furacão Ivan a poucas horas e pensei quantos conterrâneos meus não estariam com a população cubana em momentos muito difíceis. No entanto não deixei de sentir o subtil "preconceito (in)formado":
Parece-me suspeito o jeito de destaque da acessibilidade aos "túneis militares, pela primeira vez cedidos à população", quando todos sabemos que instalações militares, em qualquer lado do mundo, são equipamentos de interesse estratégico, militar e de segurança nacional para qualquer nação. Logo inacessíveis ao cidadão comum. Procurei à lupa porque "... pela primeira vez cedidos à população", e esperava encontrar qualquer coisa como, por exemplo, serem de recente construção. Não encontrei qualquer explicação para essa ressalva.

Fiquei com a subtileza no sapato e só me ocorria que: HÁ UMA PRIMEIRA VEZ PARA TUDO!!!!!

domingo, setembro 12, 2004

Palavras e vidas do antigamente….

- Bom dia, N’ita. Já comestéis? Estás de bojo seco?
- Bom dia avó. – beijo-a e sou envolvida num fraterno abraço.
- Ai, minha rica filha, como te saudava…
Ah N’ita, quéreis comer algo? Tenho cevada, lá bem no pote, tenho broa…
Não tenho migas que teu avó leva-as de janta, na almoçadeira p’rá vinha, minha filha.
- Obrigado avó. – Sento-me na laje dianteira da casa a ver o Marão que se ergue dominante.
- Ah N’ita!!! Vai-te alinhar filha que não estás a preceito! Irra! Não és nada andadeira, filha, ou estáis mouca?


Os tempos mudam e a inércia das pessoas está embebida nessas vagas temporais. Como as marés, as palavras vão e vêem, umas vezes iguais, outras vezes um pouco diferentes ou até mesmo inovadas de conteúdo. Não damos por estes avanços que respiram connosco, a não ser quando na contemplação ou no retorno à memória, onde nos surpreendemos com sons e sentidos que não nos dizem nada ou já parecem desajustados.
É isto que me intriga sempre que visito meus avós transmontamos numa pequena e enterrada aldeia entre os vales do Marão.
Fascina-me esta linguagem porque não a compreendo mas seduz-me também. Os seus diálogos são histórias vivas de gente e lugares que já perecerem, que me encantam e suspeitam de códigos e valores de um retrato humano admirável.
Grande parte é-me inantingível, eu que disto sessenta e tal gerações destes camponeses. Para não falar da minha configuração urbana onde esta existência rural, a vivê-la, apresenta-se como mito ou utopia. Dela tenho a percepção idílica e falseada que me dá a literatura e principalmente a pintura. Um imaginário irreal de pureza e simplicidade vivencial com o mundo, que é um mundo contrário ao nosso demasiado grande para nos encontrarmos.
É universo linguístico inacessível e estranho porque não só temos a grande distância temporal do seu léxico como as próprias características sociais e humanas da época recriam outros significados e valores próprios.
Um dia ouvi dizer:

“Filha…. não vale a desgraça transida d’outros se, em morte, puderem voltar para danar e roubar a tua alminha. É força maior que o vento o amor dos que cá ficam. Estima com viço os Teus e deixa os desdenhosos e repimpados, que Deus S’háde amanhar.

A solidão dos blogues

Considero-me amadora, senão básica, nesta coisa dos bloguistas que agora vinga para todos que têm comichão nos dedos e inquietudes de filósofo. Só a criá-lo demorei quase uma semana.
(Calma, não exagerem. Pouco me vale o facto de ter que o fazer no emprego aos bochechos porque ainda não consegui comprar um computador. Notem: aos bochechos durante meia-hora por dia, durante uma semana de trabalho louco e ainda por cima à socapa. Tive que medir forças com o Cérebro-Servidor da empresa que entende (por ordens de um “duvidoso” Gestor de Informática), que os usos são cegos e accionados só no sentido dos objectivos produtivos e directa/exclusivamente relacionados com o mundo do seu Produto e da sua empresa).
Esclareço, com toda a modéstia, que “amadora e básica” compreende não só a operacionalidade da própria linguagem do Blogue como também a verde e ingénua capacidade reflectiva, racionalista e filosófica.
Já me estiquei neste registo, como diria um amigo meu, que com toda a ternura me chamou um dia à atenção:
- “Vi o teu blogue. Tens uma imprecisão na frase que o encabeça, sabes? Está giro, mas fazes comentários muito longos sabes? Vê lá se arranjas o texto, vais ver que fica muito melhor. Não achas? Faz lá isso que eu depois digo-te como ficou. Eu depois vou lá ver, está bem?”
Uma simpatia, não acham!? Uma ternura evidente, não vos parece? Gracioso, não é? (Achei que foi pouco tolerante, afinal fazia uma semana nestas andanças...)
Como sei que ele mesmo está neste preciso momento a ler isto, vou mas é concretizar o headline para que me entendam e tu junto:
Sou solitária por natureza (1), deformação/formação (2) e educação (3).

Quando me disseste um dia que eu devia propor-me a escrever com seriedade e empenho, não te levei a sério sabes?
Tínhamos partilhado demasiados livros lidos nas férias. Tudo se sublimava aos olhos um do outro, essa sedução/revelação pela escrita. O que agora se configurou num blogue, na altura desconfiava qualquer um. Convenceste-me sem que eu tenha dado por isso:
- Em 15 dias me viciei na leitura e interpretação destas novas escritas. Reconheci imediatamente a bloggosfera como mais um instrumento para o conhecimento e de deleite intelectual (3)(2).

- Construí o meu próprio blogue e trato da sua higiene diariamente como se dos meus cães se tratasse (2)(3).
- Quando não arranjo Internet em algum lado, respiro muito fundo, fico nervosa e sinto-me ansiosamente só (1). Mais só do que antes. Eu que já era muito só com os meus livros, jornais, escritas tímidas, etc…
Sabes uma coisa? Também te acho uma pessoa só…

Isto dos blogues tão depressa nos liga ao mundo dos outros como nos ilude. Construímos o nosso e vivemos narcisicamente demasiado confortáveis nele. Na solidão dos blogues...

sábado, setembro 11, 2004

11 de Setembro de 2001

As democracias modernas, na teoria os sistemas políticos mais perfeitos e evoluídos, revelam-se, tragicamente, autênticos labirintos politizados e artilhados do pior que a espécie (desu)humana pode mostrar. A dominância do poder passa pela organização mais astuta e economicamente forte, ao invés da fisosófica e humanamente mais justa e adequada aos anseios dos cidadãos.
Legitimam-se nos dias de hoje, desde Shimon Peres, passando por Franco e porque não o nosso estimado Salazar, os atentados mais suícidas e cruéis à dignidade civilizacional de pequenos e grandes povos.
Quando a prioridade das sociedades modernas inverte a pirâmide humana da consolidação do Homem como projecto de vida – Autonomia; Liberdade Económica; Nacionalidade; Ética; Moralidade, União; Legitimidade; Tolerância; Riquezas Naturais e de Meios; Legado Religioso; Património Cultural; etc. – sobeja-nos, e digo-o assim porque não temos voto ou decisão na opção, sobeja-nos um grande Monstro sem rosto ou bandeira, um imenso buraco negro, onde o Terrorismo contemporâneo deixa de ter protocolo algum e renasce (sufocado que se acha) nas manifestações mais bárbaras e terríveis como o 11 de Setembro.
O terror do 11 de Setembro deve ter uma análise que ultrapasse os 22 terroristas suspeitos e os 3.030 mortos civis. Suplantemos a Nova Iorque "violada" grotescamente, mesmo sabendo que foi o começo do 11 de Março em Madrid. É preciso secundarizar a perda deste centro económico mundial de importância vital para encarar os Osama(s) Bin Laden, as Al-Qaeda(s) que ainda vivem connosco e os ventos desavindos dos movimentos religiosos e políticos extremistas do resto do mundo, etc, etc....
As Torres Gémeas do World Trade Center e Osama Bin Laden são como o inesperado pequeno David e o gigante Golias derrotado.
Sem considerar as "justas políticas" de cada lado que aqui se implicam, estes dois monstros acordaram o Mundo para o terrível futuro da Humanidade.
Adivinham-se futuros "grupo sociais/políticos/económicos" cuja força e poder passa necessariamente por arrasar e aniquilar humanamente tudo o que não constitui força numérica vantajosa, não for economia favorável e potencial, e ainda, tristemente, qualquer nacionalidade que não lhe sirva aos escrúpulos, se também for preciso.
Quando os Senhores do Mundo jogam com a sobrevivência e a dignidade da Civilização Humana como um simples jogo de estratégia, como esperar outra realidade:
- World Trade Center (3.030 mortos) - Azerbeijão (10.000) - Bósnia-Herzegovina (25.000) - Croácia (25.000) - Chechénia (70.000) - Curdistão (30.000) - Angola (500.000) - Argélia (100.000) - Burundi (300.000) - Eritreia (100.000) - Etiópia (100.000) - Moçambique (1 milhão) - Ruanda (500.000) - Somália (500.000) - Sudão e Afeganistão (1,5 milhões) - Iraque (30.000) - Líbano (131.000) - Colômbia (41.000) - El Salvador (77.000).
QUE MUNDO O NOSSO SENHORES!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

A notícia (I)

Jornal o "Público" – 10/09/2004
"A confiança dos Consumidores portugueses apresentou, em Agosto, uma melhoria em relação a Julho, revelou ontem o INE (Instituto Nacional de Estatística). O resultado obtido é justificado pelo sentimento mais optimista em relação às expectativas por parte do Primeiro-Ministro.
Pedro Santana Lopes afirmou, ontem, no Brasil, na entrega do Prémio Camões a Augustina Bessa-Luís: - (...) Eu quero acabar com este modelo. Temos vendido os anéis, temos de pelo menos ficar com os dedos".

sexta-feira, setembro 10, 2004

Tudo recomeçou...

10 de Setembro de 2004 – “Público”: DECO lança alerta importante à população:“DECO aconselha mochilas mais leves e com alças largas. O importante é assegurar que a Herança que as crianças transportam do Passado seja de qualidade e não de quantidade. Os Pais devem ter ainda o cuidado de procurar um “Modelo de Estilo de Vida” adequado às ambições dos mesmos, de modo a que no Futuro não tenhamos adulto deformados e esclerosados.”
10 de Setembro de 2004 – “Público”: Comunica-se a perda para a Humanidade da cápsula carregada de partículas de vento solar da sonda Génesis, com aproximadamente os últimos 7.898 dias da Civilização extra-Terra analisados e registados.
8 de Setembro de 2004 – “Capital”: “A Civilização em que vivemos está a chegar ao fim”.(Emídio Guerreiro)

A notícia directamente proporcional às minhas quadras

O Euro chegou à Cidade
Pela cidade do Euro anda muito povo, vibram hinos e estandartes de uma Europa pouco aliada.
Vamos todos à bola, que isto não é novo e a hora é para a malta se esquecer do país oco e mouco!
A cidade está ao rubro e vaidosa como nunca. É gente convicta aos olhos da Nacção, mas não fosse o futebol e mais parecia tudo fita e muito pouco de razão.
Estão nas luzes da ribalta. Tanto oferecem a camisola, como expulsam o mais incauto, a quem roubam a bola em jogadas certas, que para o voto em Bruxelas jão não se viram as pernas!
O Euro chegou à cidade, a Bruxelas ainda não.
Junto ao Tejo as gentes agraciavam a vitória. Esmoreciam outros que por tão pouco faziam história.
Para quem se abeirava do Marquês e lançava a vista até mais não, a praça mais parecia fortaleza, porém, não era fortaleza não.
Resistia, ferroso e hirto, o Marquês de Pombal, à escalada humana que o consumia. Nem os braços da avenida continham o povo que lhe parecia em liturgia.
Lembranças de outrora, concerteza, mas eram cravos que se viam na aurora.
O Euro deixa a cidade e a taça leva-a os gregos. Como homens chorámos, prostrados no mais profundo dó que arranjámos.
Fortaleza era o Euro, esperança foi o homem, e, desta vez, também o povo.
Agora sem pódium fica a Nação perdida para a glória, anestesiada para a mudança, que o Euro consumia toda a esperança.
O Euro deixou a cidade, que país triste o nosso...

Segundo o INE (Instituto Nacional de Estatística) o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu cerca de 1,5% reais, no 2º Trimestre de 2004, pelos efeitos directos da realização do Campeonato Europeu de Futebol no nosso país.
Eticamente esta informação obriga-me, com preceito, a rever estas quadras que fiz, faz já alguns meses, inspirada que estava pelo país eufórico e inchado. Permitam-me então alterar o último bloco de quadras pelas seguintes frases:

(...)
Agora sem taça fica a Nação perdida para o título póstumo, mas vale-lhe a prata farta que entrou para os bolsos bem a propósito.
O Euro deixa a cidade e chora-se em tormento. Ficou a abastança e para o PIB revelou-se o aumento.
Viva o Euro! Viva o PIB!
Rezem as crónicas deste nosso bom momento.

O que os outros dizem...

“Os velhos dizem o que fizeram, os jovens o que fazem e os políticos dizem o que vão fazer”.
“A Civilização em que vivemos está a chegar ao fim”.
Emídio Guerreiro, “Capital”, 08/09/2004
Este Homem (com um H bem grande, não fossem os seus 105 anos) anunciou o Tomos Ultimus do “Último Testamento” (creio que até hoje não será o único).

Não conheço a Bíblia e muito menos o Último Testamento, embora por mais de uma vez me tenham suscitado curiosidade, do ponto de vista histórico-social, claro.
Agora, de acordo com Emídio Guerreiro, até posso considerar inútil qualquer incursão a estes livros, dada a derradeira fatalidade que me inesperou na prosa do jornalista.
Relendo-o, o que me pareciam clichês ou simples constatações, sublimaram-se cruéis realidades. Pergunto-me se (talvez por timidez ou receio de alvoroços), o que Emídio Guerreiro não queria dizer ou severamente não denunciar, era que os tais velhos afinal não fizeram nada, logo os jovens não vêem o que fazer também e, consequentemente, os vulgos políticos ficam irremediavelmente com nada por querer fazer.
Não é preciso coragem, basta lucidez para se dizer:
Sem velhos feitos, não nascem jovens e não nos restam políticos a reconhecer. É como ele remata, e bem:
“A Civilização em que vivemos está a chegar ao fim”.

Quando nos revemos nos outros

Perguntaram-me um dia quem era. Respondi: sou quem quiseres.
Sou Sujeito no Singular e no Plural. Mulher e Homem, que questões de sexo diluem-se neste espaço cibernético. A bloggosfera encarna, talvez, a Democracia perfeita, apanágio do livre arbítrio (Demos da Ordem, dirão outros).
Somos quem queremos. Entidades unas e colectivas, não primasse esta auto-estrada pela Pluralidade das Ideias e Sentidos. Isentas do sexo perfeito e hermafroditas do Pensamento Livre. E notem que este de casto não se lhe conhece nada, a não ser o que nele convence de puro e inocente.
Sou Orfeu, cantor grego que recebeu das mãos de Apolo uma harpa e a quem as musas ensinaram a arte de cantar. Onde, segundo escreveram, impressionava até os próprios rochedos de Olimpo, tais eram seus dotes e prodígios.
Posso reencarnar Sophia de Mello Breyner ou Marilyn Monroe, que afinal não era loira e mortalmente inteligente.
Sou Dalai Lama, herói dos espíritos iluminados e também sou Isaac Luzia, judeu bem antigo (XI), mas contemporâneo das tuas humanidades: “A Compaixão, que suaviza o Julgamento/a Graça, que destingue a Austeridade da Violência/sustentam o Mundo para Novas Luzes”...
Também me encontrarás no rosto difuso e enigmático de Greta Garbo ou na irrequieta irreverência de Mafaldinha.
Se preferires, sou Rick Blaine e podemos falar de mulheres belas. Conhecer estranhos em Casablanca e oferecer-lhes um bom uísque de malte. Depois deixamos Marrocos e seguimos para França, onde te aguarda Joanne D’Arc, mulher inesperada e fantástica.
Imagina-me por exemplo Corto Maltese, esse marinheiro solitário dos teus mundos tímidos. Ou Mário de Sá-Carneiro, que tão bem nos explicou: “Sou dois a sós./É como se esperasse eternamente/a tua vida certa e conhecida”.

quinta-feira, setembro 09, 2004

Historieta (I)

António hesitou quando meteu a chave à porta. Nos últimos meses, sem saber explicar, sempre que regressava a casa, abria as portas do Inferno. Esperava-o o pior da indiferença e o melhor da piedade.
A casa não parecia a dele, a mulher não lhe lembrava a dele e os filhos já nem sequer os recordava, visto que se trancavam por dentro de seu quarto.
António respirou fundo e engasgou-se. Valeu-lhe no desequilíbrio a longa pega da porta que o amparou.
Abriu a custo a segunda porta e mal se viu lá dentro, assegurou-se que o silêncio era certo e dirigiu-se às apalpadelas no breu para a cozinha. Manteve-se inerte na escuridão que o abraçava e sentou-se a um canto até ganhar coragem para se erguer novamente.
Transpirava de medo sem saber porquê.
- António!- O homem susteve a respiração de susto.
- António!!!!
A mulher aguardava-o do outro lado da escuridão. Não se mexia, apenas o chamava, ao que lhe parecia de muito longe.
O homem, calado e a tremer, não dava qualquer sinal ao chamamento, mas começou a chorar baixinho para a voz feminina, que nem filho que se perde de sua mãe.
- Estás bêbado, António... Estás outra vez bêbado...
Enquanto falava, o choradinho surdo aumentava e o homem enrolava-se em si mesmo de desespero. Já não era medo o que sentia, mas vergonha, fétida e desconfortável. Vergonha do corpo descontrolado, das palavras que se tropeçavam e da reacção que já nem sequer encontrava para a enfrentar.
Meia-hora se passou sem que algum deles se revelasse. António contorcia-se e Luísa observava-o impassível.
- Lu... Luí... Luísa???
Foi quando ouviu o seu nome, quando se reconheceu naquela boca babada e trémula, que se dirigiu até ele e o ergueu no ar como uma Pietá.
A mulher levou-o para o seu quarto. Despiu-o meigamente e pousou-o na cama com jeitos maternais já muito esquecidos.
Cobriu-lhe o corpo gasto com suavidade. Apagou a luz e desapareceu no corredor.
- Lu... Luí... Luísa??? - chamou assustado, sem qualquer resposta.
Ficou no silêncio alguns minutos, até sentir alguém. Era Luísa, que se enfiava nos lençóis.
O homem sentiu o cetim fresco e as rendas atrevidas da combinação que lhe oferecera à já tempo que não sabia.
- Lu... Luí... Luísa??? Estou bêbado, mas ainda lúcido...
A mulher beijou-o e abraçou o seu corpo basso e manso com toda a força.
- Lu... Luí... Luísa??? Preciso que acredites outra vez em mim como o teu homem...
O silêncio. Na noite apertaram-se aqueles corpos vencidos para acreditar que eram reais.
Fizeram um amor diferente.
Velaram-se com a redescoberta do outro e desejaram um filho dessa ternura conquistada.

Historieta (II)

Nos portões dourados do Céu, um querubim interpelou-me com alguma hesitação:
- Dizei-me, donzela, porque não havéis deixado marido nem filhos na terra insana?
Ao que serenamente respondi:
- O que te perturba pequeno querubim? Tens desconfiança dos trinta anos que te ofereço sem remorso? Amei sem perguntas e em toda a liberdade deste meu corpo, até mais não poder. Adorei incondicionalmente todos os que em mim semearam a força da Primavera orgulhosa, os seus frutos carnudos e estimulantes para os sentidos. Sofri a colheita dos aromas silvestres e sabores quentes, enquanto as forças mo permitiram.
É por seres anjo que não o entendes?
Representas o belo e a perfeição em harmonia, e não és justo com os meus sonhos. Em mim homens espoliaram e de fantasias fizeram fortuna, sem que algum ónus lhes tenha sido exigido a não ser o segredo desse mesmo amor verdadeiro.
Embalei com abraços, ora frenéticos no orgasmo, ora ternos de satisfação serenada, e neste meu ventre eles suaram nervosos a sua culpa. Sobre os meus seios jaz a memória do sémen quente e apressado que a paixão libertou.
Fui leito protector do rapaz que se fez homem na noite misteriosa que estas coxas encerram.
Ofereci o repouso aos seus sexos exaustos e a glória para a alma conquistadora.
Se, ainda assim, as tuas dúvidas persistem ou se hesitas mesmo ao meu convencimento, mais não direi.
Reservo estes meus lábios para os segredos desses membros ditadores e mensageiros vorazes que são do amor e da paixão cega e implacável.

Circunstâncias da vida (II)

Apanhámos um combóio.
Impelia-nos o desejo da liberdade pela liberdade de cada um.
Éramos dois em algumas estações, éramos só um noutras.
No regresso ao que não queríamos, faláste de paixão e amor,
mas não de nós neste mundo louco.
Talvez noutro combóio, noutro tempo suspenso,
nos possamos amar, sem saber quando a viagem acaba,
sem saber quando "nós" nos extinguimos
e quando o adeus substitui o olhar e a palavra.

quarta-feira, setembro 08, 2004

O Amor e os Livros (II)

Palavra sem significado é dança sem música.
A apropriação do Significado é o Afecto, evidência incontestável, imutabilidade da Vida.
Palavra sem Significado é como o som sem dono,
vocalismo surdo sem nexo.
O Significado é o progenitor da Ideia, mãe do Conceito,
gerador de Afecto, enquanto Razão e Relação única.
As Palavras ensinam-nos os significados
e estes ocupam para sempre o Silêncio dentro de Nós.
Talvez o Silêncio não exista, afinal os Afectos ficam Connosco.
Que a Palavra nos dispa um do Outro.
Nos lave de Credos e Juízos, nos protega da Culpa castradora
que paira sobre os Amantes.
Que a Mutualidade da Palavra seja o reduto da Partilha
que esta vida por vezes conspurca e apaga da Memória.

O Amor e os Livros (I)

Não sei se palavras chegam, temo que me enganem.
Tenho na palavra a coragem e o desplante.
Armas de eleição para a conquista,
ousadia frágil e ingénua.
Nelas encontro-te, Meu Amor, configuro-te intimamente,
mas também faleces triste.
Releio-te vezes sem conta e temo que não sobrevivas,
que as palavras me mintam, essas demasiado perfeitas,
modestamente intensas e quase letais neste desassossego.

À procura do ovo no cu da galinha

Percebi, de forma inesperada e dolorosa, donde provém a expressão popular bem conhecida: "... à procura do ovo, no cu da galinha...".
Pois é, a sabedoria popular não é de tão acaso, como eu julgava.
Hoje almoçei Cabidela de Galinha e, surpreendida, umas horas mais tarde tive que correr para a retrete, tanta era a pressão que me faziam as cólicas.
Evacuei inesperada e subitamente, até que o alívio evidenciasse o "esvaziamento" total do intestino grosso.
Estou aliviada mas recuperei uma hemorróida, bem pequenina, bem redondinha e suave ao toque.
Encontrei, então, o ovo no cu da galinha!

Circunstâncias da vida (I)

A vida tem destas coisas. Hoje descobri que não faço falta.
Faz meu pai, homem de prodígios intelectuais e ansiosa humanidade, que dedicou suas dádivas forças a este Portugal dos Pequeninos.
Fazes falta, pai impulsionador.
Faz minha mãe, leito apaziguador e companheira das contrariedades desse mesmo homem.
Fazes falta, mãe, que foste o ventre das suas angústias.
Fazem então os dois que me geraram, a mim e minha irmã mais nova, na esperança doutro mundo futuro. Um Mundo jovem, um Mundo Novo.
Faz falta essa minha irmã mais nova e única, essa sim, em perfeita sintonia com a simplicidade e modéstia dos seus dias.
Fazes falta irmãzinha, tu que és a prova viva da alegria e do amor do fruto gerado.
Esse fruto que em mim apodreceu mas que em ti se revelou a semente multiplicadora da generosidade, da partilha e da memória conquistada.
A vida tem destas coisas. Hoje descobri que só faço falta lá em casa, aos dois cães que mesmo que não me queiram têm que me aturar.

sexta-feira, setembro 03, 2004

Sexta-feira

Hoje é sexta-feira, é como um feriado.
É a sexta-noite quente para quem espera
companhia inconsequente e afoita.
A temperatuda, essa está para a líbido,
como veludo para a pele, quente e húmida.
Frescura só nos sorrisos malandros
que se insinuam aos olhares mais persistentes.
É a noite que finda a semana do labor castrador
e se vinga até à madrugada com sexo pagão
e fantasias que não picam ponto.
Ao sexto dia os anjos descansaram
e Demo veio até à cidade dar uma grande festa.
É a festa dos corpos e humores nocturnos
que pelejam quem encontram sem piedade.
Á sexta-feira quem se ouve não é o vento nem as árvores.
São os sons do cio e as lamúrias do prazer que vingou.
São os outros, mas podíamos ser nós!