Bicicletas
A Fertagus, empresa que gere os comboios da Ponte 25 de Abril, anunciou a passagem à utilização gratuita de bicicletas nesse mesmo percurso ferroviário.
A gratuitidade e o uso durante a semana é extensível ao Metropolitano de Lisboa e à CP até agora apenas permitido ao fim-de-semana e aos feriados.
Além disto foram concertadas reflexões para "dotar os eléctricos e autocarros que circulam nas cidades portuguesas de suportes para estas bicicletas."
Porreiro! Ao invés de termos autocarros cheios e francamente inadaptados à ergonomia espacial e útil do ser humano - cada vez mais gordo - passamos a andar nesses mesmos autocarros que já rebentam pelas costuras e ainda transportam gente de capacetes, bicicletas, malas e malinhas especiais e essenciais à prática.
A lógica diz-me que se se aparelha o autocarro por dentro (lembro o Código da Estrada onde estes veículos pesados não podem ter quaisquer elementos volúmicos exteriores ao seu próprio habitáculo, excepção criada só para bandeirinhas do Euro'2004 e outros), no seu interior tem que necessariamente se roubar espaço para o novo equipamento e ainda repensar os corredores de circulação interior para mais funcionais.
Chegados aqui perturba-me outra questão: se há a "necessidade de uma mudança na mentalidade das pessoas responsáveis, como da população em geral" e constata-se que "é preciso simplesmente fazer algumas adaptações nas cidades" para que "as pessoas comecem a olhar para a bicicleta com um espírito actual", então alguma coisa está aqui errada.
Como utente de transportes públicos desta cidade que é Lisboa, não percebo o que é que esperam que mude nas tais "mentalidades":
- Compre-se uma bicicleta e passe-se a andar de autocarro, metro e eléctrico com ela? - Então para que me serve a bicicleta?
- Quando tiver 70 gastos e empedernidos anos, como representam quase 450 mil habitantes em Lisboa, atrever-me-ei a andar de bicicleta, mesmo que motorizada? - Não.
- Portugal não será "excepção em quase todo o mundo, no uso da bicicleta" porque tem as suas cidades principais assentes numa configuração topográfica acentuadamente irregular e inclinada? - Talvez. A não tradição velocípede dos portugueses, motorizada inclusivé, talvez tenha tido origem na fala dessa planitude.
Uma coisa também sei: a bicicleta "não é um veículo poluente" com diz o Presidente da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, e di-lo muito bem, mas é-a Lisboa inteira e o tráfego monstruoso e preocupante que a assola (alvo de atenção e estudo dados os níveis de poluição que está a atingir) e onde, para mais, se verificam em média mais ou menos 3.500 acidentes de viação por ano.
O que os 118.346 utentes de autocarros, 10.985 dos transportes ferroviários, 14.294 utentes do metro e quase 3.000 das vias fluvais precisam, é que as várias entidades envolvidas assegurem a sua viabilidade e condigna, mesmo que economicamente inviável para o défice do nosso actual país. Que garantam:
- mais quantidade e qualidade nos transportes públicos para deixarmos o carro tranquilo à porta e ainda assim nos sobre uns troquitos para adquirir o velocípedo em causa e comportar o próximo repetido aumento das tarifas de transporte.
- com a circulação de menos carros particulares e a redução da poluição que venham bicicletas, por que não? Por elas deve passar também uma relação lúdica e cívica com a cidade já liberta de máquinas e mais espaço livre para a sua fruição, mesmo para "o combate à celulite" daquelas senhoras.
1 Comments:
"O homem que pedala, que ped'alma
com o passado a tiracolo,
ao ar vivaz abre as narinas
tem o por vir na pedaleira"
Alexandre 0'Neill
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