Qualquer semelhança com a realidade é pura...
Diálogo imaginário de militantes socialistas no Porto, no almoço do Debate dos Candidatos à Direcção do Partido Socialista.
Primeiro militante [1h30m]: Cá no Porto come-se mesmo bem!
O debate dos três lá em baixo, em Lisboa, não teve piada nenhuma. Digam os alfacinhas o que disserem, a malta cá em cima é que sabe pegar o boi pelos cornos - que chouriço carago!
Segundo militante: Se a capital fosse cá em cima na Invicta, o PS não se lembraria de ir buscar a outra esquerda para derrotarmos o Santana. Caramba, o nosso presidente aqui da distrital até se lembrou do Louçã, vê lá tu!
Sabes o que é que eu acho que se devia fazer? Convidávamos os camaradas de Lisboa para um joguito de futebol cá em cima e ensinávamo-lhes como é que se fazem tácticas e se resolvem diferendos.
Primeiro militante: Isto é uma barraca. Depois daqueles dois mandatos do Governo do Guterres, a coisa no partido nunca mais foi a mesma. Não fizemos mais contas que o Cavaco - para não falar das patacoadas do Guterres com os números - e ainda íamos tendo um infarte do miocárdio de andar por aí de coração nas mãos a convencer o país. Nem a Europa socialista nos valeu da derrota amarga que sofremos a seguir.
Segundo militante: Cá para cima ainda fizémos uns jogos jeitosos...
Primeiro militante: A malta está em estado de depressão e melancolia...
Estes dois últimos anos têm sido uma prova dura e andamos a ver se conseguimos uma "aberta" que seja para fazer alguma coisa... Nem na Assembleia, como oposição, conseguimos fazer brilharete.
Segundo militante: "Tem havido excesso de coração e défice de razão na vida política do partido" disse muito bem o Francisco. O tipo para lá de ter alguma razão ainda fala bem.
O chouriço também me está a saber muito bem...
Primeiro militante: Calma. A campanha do coração foi bestial pá! Tocámos no mais profundo de nós e do povo. O problema é que a malta tem de se desviar da atenção ao umbigo e procurar a "alternativa para fora, para o país", não é? Já não há pachorra para tanta autocrítica e introspecção partidária. As reuniões começam a ser um frete!
Segundo militante: Estás a falar da organização de cá? Daquela história de Narciso Miranda e Fernando Gomes serem a última nata do partido?
Primeiro militante: Não é isso pá! Esses camaradas, os "enquistados" - não é assim que lhe chamam? - esses são pessoas muito importantes e válidas à causa! São o Pinto da Costa do PS pá! É gente notável! - este leitão deve ser da quinta do Ernesto da sede de Fontes.
O problema é que é preciso olear outra vez a máquina. Para mim, e já o disse lá na sede, temos que lançar o Sócrates e o Cardoso. São a geração modernista e o garante na Europa, são mais-valia maior.
O Sócrates é manhoso e inteligente q.b. para aquelas directivas europeias. É como peixe na água. É o melhor que ninguém e todo cheio de classe, que tu sabes que não é para populismos.
O Cardoso é outro tipo janota e incapaz da deselegância estúpida das guerras que o Rui Rio arranjou no Porto. É que até os sociais-democratas cá de cima são feitos de outra cepa.
Segundo militante: Alinhadinho por alinhadinho... Até gosto do Alegre. É como o vinho do Porto, quanto mais velho melhor. O tipo está connosco para ficar...
Primeiro militante: E tu a dar-lhe com os velhos! Eu conheço-o (já fizémos caravanas juntos) mas o Francisco, e ele é que é o presidente cá no Porto, quer desenvolver e projectar um PS moderno e progressista.
Não podemos ter o Alegre - parece que até esreve umas quadras valentes - a discutir as quotas do vinho português lá em Bruxelas com os alemães. Ainda lhe saltava a tampa a meio das negociações e desatava a chamá-los de neo-estalinistas e fascistas da nova vaga. Percebes agora? O Alegre dá cagança como o Fernando Pessa na RTP. Um dia é nosso ex-libris patrimonial, mas agora temos que representar um partido de última geração, com orgânica tecnocrata-europeísta.
Segundo militante: Mas se queres atrair a esquerda... os comunistas?
Primeiro militante: Está bem. Aí o Alegre junta os antigos e à vista desarmada somos todos unidos, que nem carne e osso. Cá entre nós... a coligação estratégica e ideal é como a que fizemos em Lisboa com o filho do Soares. A lista era coligada mas o rei era nosso. A obra feita será sempre de João Soares e ninguém se vai lembrar dos outros, que até tinham a maioria de vereadores eleitos, segundo dizem...
Segundo militante: O debate vai começar. Vamos ver se sai daqui o presidente da junta, caramba! Bem precisamos!
Primeiro militante [15h30m]: Ai sai! Sai! Nem que seja à força! - hum... fiquei bem aviado...
Sabes que mais? Eu até gostaria de ter candidatos independentes. Aqueles tipos que nós não conseguimos agarrar na altura dos Estados Gerais, lembras-te? Foi como este vinho pá, bons dias no partido.
Ali! Ali estão cadeiras vagas!
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