sexta-feira, setembro 17, 2004

Aborto I

Há sempre dois abortos: o da Mulher e o dos Outros.
O da Mulher é real e leva-a à culpa sufocante, ao buraco profundo que não consegue jamais tapar, e tapar...
O dos Outros, esse é abstracto e sem a generosidade que demova os que apedrejavam outrora mulheres frágeis e hoje as lançam com protocolo e elegância para as prisões.
O argumento da Mulher é sempre legítimo, como é a sua liberdade de escolha. Mas o aborto, esse já há quem se ache com alvará sobre ele. Direitos sobre o seu desígnio e prerrogativas de existência.
O aborto da Mulher é real. O aborto dos Outros é abstracto e normativo.
Não compreendo que pela dignidade da vida se mate a liberdade do direito a ela das muitas mulheres pelo mundo.
Pergunto-me se o que condenam, não é o aborto, mas essas novas mulheres que descobrimos fortes e corajosas, quando contra si acometem, questionando o direito "per si" da força geradora e criadora de que são totalitárias. Da única benesse que esse deus, que os Outros invocam, esse tal deus lhes considerou.
Estas novas mulheres não são bíblicas, mas muito corajosas...