quinta-feira, dezembro 30, 2004

2 Homens em 2 épocas da sua quadratura cósmica

"DE MOTU" (ou O Movimento de Galileu)
Nascem homens simples e à parte da conjuntura ideal, há sempre uma variável cósmica e catalisadora que os seduz a avançar incrédulos na conquista do tempo histórico e comprovado.
Intervêm exponencialmente ou apenas servem o exército humano da sua verificação e contrariedade, mas até mesmo esses foram necessários para erigir lentamente o mundo, na universalidade que ele encerra e significa, o mesmo mundo dos visionários intemporais que esperaram sempre alcançar mais.
Galileu nasceu à 440 anos (1564), simples e mortal, mas entendeu rebelar-se ao que outros davam por absoluto e de existência quantificada: o movimento na sua correlação com a gravidade.
Baralhou a dinâmica da física à revelia dos eruditos da matéria e dedicou-se ao que viria ser a Magnetosfera, na convicção de que a terra como corpo aparentemente inerte não seria necessariamente morto e sem dinâmica: "De Motu".

Propôs um Tratado do Movimento Natural da Velocidade Uniforme de um Corpo e aperfeiçoou Copérnico nas novas teorias de que a terra também se move e não só outros planetas à volta dela.
Com a nova 'figuração' da inércia, obrigou a instalada sociedade científica a olhar diferente o globo, subtraindo alguma divindade ao sol e conferindo à atracção da terra também a génese aglutinadora da vida que nela se desenvolve.
Talvez por não haver televisões obtusas e hábeis no mercantilismo da superficialidade de cada um e da individualidade insípida e marginal de todos, Galileu nasceu simples, cresceu numa civilização quadrada à dinâmica e movimento planetário e fez-se homem genial para lá do seu tempo... Para outras galáxias...

JULIÃO SARMENTO - “Ghosts”
Descoberta a susceptibilidade da terra no movimento em torno da verdadeira energia cósmica que é o Sol (ou pelo menos um dos sóis até agora contemplados), e se nela não está unicamente a fórmula do homem e dos seus contornos evolucionistas (só a expressão do tempo histórico do primata moderno) onde estará então a passagem do tempo invisível ao cunho humano?

Onde se estreita e confina o tempo vivificado do ser no seu crescendo e fluxo não perecível à instrumentalização do mortal comum e da ciência?
"Ghosts" demonstra a mesma irreverência exploratória e incredulidade na desconstrução do indivíduo enquanto energia viva e passível de se cercar para observação 440 anos depois.
Nascido antes das revoluções estéticas dos explosivos e livres anos oitenta, Julião Sarmento tem contrariado os ditames artísticos na abordagem e percepção do centro vivo e espectro fecundo donde tudo brota e para onde tudo precisa urgentemente convergir, se racionalizar e consolidar: o homem contemporâneo.
Galileu explorou a relação física do sólido na atmosfera e, em consequência, essa ficisidade de movimento consigo mesmo.

Mas Julião Sarmento entendeu ousar mais e suscitar a memória volátil e o registo etéreo da acção humana que não se permite representar por forma ou conteúdo palpável: a acção energética e o rasto de partículas invisíveis que um corpo faz e logo desfaz numa fracção de segundos em que se movimenta de um lado para outro e de uma fracção para outra fracção de tempo.
Enquanto na figuração tradicional do movimento e da acção no espaço ocupado (enquanto fluxo energético) Galileu se ocupou das formas visíveis da matéria, já o artista plástico sugere uma representação (anti)pictórica de uma fórmula do hipotético fantasma que deixamos representado e ainda continuamos a constituir, sem ser o mesmo que éramos, nesse mesmo tempo invisível e espacial.
Mas o que é esse fantasma, senão a energia em calor e frio, a fisicidade dos atómos omissos e inconfiguráveis a escalas de percepção comuns.

Um corpo que deixa um rasto só imaginável pela sombra ou pela memória da acção. O corpo da pessoalidade transparente, súbtil e autónomo que nunca evidenciamos porque penúmbrico à visualidade.
Julião Sarmento quis que fosse o que cada um interpretasse e apenas permitir a visualização desse registo não reconhecível a olho nu, mas real e vivo.
Não importa que tenha precisado de recorrer a sofisticada tecnologia de sensores fotoeléctricos para que o registo presencial fosse visível.
O que importa é a pertinência de entre quatro paredes o esteta provar a habitalidade invisível, afinal não tão neutra ou inócua, porque sem fronteiras espaciais matéricas.
Importou mostrar que a quota parte do espaço do tempo vivenciado que não é linear e mesurável é também registo da passagem de cada um.
Cruzam-se dois homens longe no tempo mas na mesma proposta do homem no espaço e com o seu tempo.
Une-os a ousadia de sair da sua própria representação configurada em forma, peso e individualidade cultural e propõem a simplificação do homem a uma força e energia que se movimenta e o que na perpetuação do movimento ele também ganha como individualidade.
Em "Ghots" a personalidade está no fluxo energético, na velocidade e no fantasma que o movimento define num tempo presente, anterior e posterior.

quarta-feira, dezembro 29, 2004

O mesmo mundo quadrado do Sr. Malato

Estava eu e um povo num café de povo - entre café de europeia qualidade e rissol de indubitável fritura nacional - e invade-nos o sossego a voz irritante de um tal Sr. Malato, num tal programa "No Coração de Portugal".
No cenário televisivo dominava uma audiência de comportamento uniformizado (que desconfio ter contrato vitalício com tudo o que é visionamento popular de programas) que estimulavam as vistas curtas em direcção a umas figuras masculinas de aparência não menos tipificada (e com uns bigodes que já não se usam) e que reagiam como que amestrados ao comando "chefe" vindo do apresentador, num bailado ao som da fanfarra local, que ora os mandava avançar, ora os mandava recuar aos sofás coloridos e centralizadores do palco.

Era «chefe para aqui», «chefe para ali», e «agora dê lá mais uma voltinha outra vez chefe», e de 10 em 10 minutos os bigodaças experimentavam os passos e o Sr. Malato arreganhava a tacha, ou fechava-a consoante a regionalidade do sapateado.
O apogeu desta dança de salão, ao toque de caixa do "chefe malatano", alcançava-se quando o anfitrião-mor abandonava o seu protagonismo e dava espaço aos "chefinhos" para exortarem a particularidade do «bolo escangalhado e de mau-feitio», «das cavacas com um buraco duvidoso» ou «do sui generes falo das Caldas que toda a gente conhece, não é??????????».
Um espectáculo apatetado que atingia o êxtase no universo feminino.

A encenação não destoava muito do já visto, excepto no sorriso mais escancarado do Sr. Malato que chamava as "donas" para sua performance e com o requinte de uma variável muito súbtil.
Cruzáva-as com o cantor de serviço (sempre de índole pimba-ó-popularucha) que as deixava exaustas com o jogo de malandrices e de sugestão erótica.
Passava assim a deixa ao vocalista e juntamente a tarefa mediática de «dar o ponto sem nó» e «mostrar o que trazia água no bico», tudo para o "chefão" repousar a lombalgia da dentadura.
A meu ver, bem se podia chamar Sr. Maxilato, que aquilo é igualzinho à Máscara no seu equivalente ao cinéfilo americano, Jim Carey.
Que o entertainer tenha que vender o que melhor sabe fazer eu até compreendo, agora não percebo como é que uma quota-parte significativa do país projecta as suas veleidades num cubo brilhante e ruidoso onde o ecrã só tem espaço para uma boca excitada que nos chama "chefe isto" e "dona aquilo" e embala-nos os ouvidos com «os teus olhos acordados na manhã que me acende».
A meu ver, às tantas já me chamuscavam as inocências críticas e a lisura televisiva, porque até para o espectador mais cultural-dissidente o que é demais chateia e o que aborrece de pasmo logo de se mete de lado.
Já na aldeia da minha avó se dizia: «A homilia do padre quando montada na teimosia do jumento faz-se sarna grossa para o nosso convencimento».
Nesse músculo poderoso e instrumento malatano palpita um Portugal provinciano e ingenuamente manietado pelos "chefões" que o transformam em viabilizadas audiências de incultismo para satisfação cardíaca do cubo economicista.
É a brejeirice vestida por Augustos e falando como um miúdo aos mais velhos ou como um velho aos mais miúdos.
Estou quase há uma hora com a minha intelectualidade à bulha com a pedantice assexuada e aculturada do Sr. Malato, que acredito estar no coração de alguns portugueses, não por filialidade mas talvez porque é o único que os convida a dançar dentro daquele quadrado místico das suas aspirações.
E se é assim, então que assim seja: além de pequeninos descobrimos-nos também quadradinhos, brilhantes e provincianos.
Afinal ainda há gente por cá de coração frágil que formatado na quadratura (des)funcionalista da televisão se reduz e à sua terra à beira do Atlântico antes navegado em glória, em bobos de corte e desenham a sua nação num mapa triste de meia dúzia de aldeias e cidadezinhas onde as mulheres só alcançam bailaricos ou filhós à moda antiga e os homens o jogo da malha ou a filarmónica da freguesia.
O Sr. Malato faz do coração português um órgão quadrado e de pulsar folclórico por artérias de fios de ovos.
Agora, estou com os que só lhes resta ser povo pela divina providência da portucalidade malatana, num café feito por um povo encurralado entre pastéis de bacalhau e galões de máquina, e onde só varia a pretensão colonizadora do "chefão" da humildade e ignorância do campesinato urbano que este mundo quadrado teima em não deixar crescer para seu apanágio mercatilista.


terça-feira, dezembro 28, 2004

Um mundo quadrado

Não é a primeira nem será a última vez que um governo é dissolvido e pendurado pelas 'vergonhas' nos paços da sua ganância e avidez.
Porque o PSD não fez o trabalho de casa o PS reincide no direito da sua nomenclatura política (em 1987 foi pela mão de Mário Soares), enche-se de 'ganas' soberanas e com porta-voz reconhecido e provado nas batalhas revolucionárias, crucifica o herege social-democrata na praça pública e enxovalha-o com presidencial puxão de orelhas a mando da operacionalidade (des)continuada que entendeu estar em falta aos laicos, sua base de eleição.
O granítico Portugal (catalogado também de coração mole e brandos costumes) fica convocado a 20 de Fevereiro (Legislativas) para ouvir a retórica desculpabilizante e de memória curta dos fidalgos do Poder e mostrar (ou não) misericórdia pelos homens fracos das suas vontades implacáveis.
Pois é... política é assim mesmo.
Uma espécie de cubo mágico que 'Eles' manejam e nós as faces coloridas da plebe ingénua e bem mandada que esperam não questionar mas cegamente abraçar suas causas, desbravar seus campos deficistas e acatar surdos as bulas orçamentais para colheita da sua fartura religiosa.

segunda-feira, dezembro 27, 2004

...E outros exclusivos à sua tribo

Na certeza anda tudo aparvalhado ou tolhido por alzheimer súbita, que não acredito que genialidades outras não mais existam por esse globo fora.
George W. Bush foi seleccionado pela 2ª vez consecutiva, a Personalidade do Ano pela famosa revista TIME.
O fundamento da escolha até podia ser uma declaração da Al-Qaeda.
Bastava que lhe cobrissem os ombros com um manto cru e à frente umas longas brancas barbas, que o mesmo se podia ouvir:
«Por ter agudizado o debate até que as escolhas singrassem»; «por ter reformulado de acordo com seus desejos, e por ter apostado o seu destino na fé que tem no poder da liderança».
A verdadeira galardoada da TIME foi a aberrante e obstinada, à custa de tudo e todos, «eleição do uso da influência americana».

domingo, dezembro 26, 2004

Não admira, os americanos também têm o prémio para o mais mal-vestido...

O que é que pode ter Durão Barroso em comum com a fadista Mariza? Talvez o gosto e fascínio pela magistral ópera de Verdi, a Aïda, porque não sei de que lhe serviriam os pulmões fortes da fadista se à janela de São Bento já não lhe interessa defender suas causas.
E com o escritor José Saramago, mentor de outras utopias e cujo instrumento filosófico e divulgador (impresso) está acima de qualquer disciplina de tratados e convenções para o testemunho eterno?
O intelectual dispensa à sua manufactura as vocalidades especiais - a sua caixa de ar mora no cérebro e na imaginação que gera - e até arrisco dizer que não lhe será porventura essencial a qualidade estética do papel como uma garantia para o alcançe da clarividência da sua mensagem, como registou o presidente da comarca europeia aquando da sua apresentação aos escritórios em Bruxelas.
Durão Barroso, como político de iniciativa, não se fica pelo empreendimento condominial e deseja atingir a monumentalidade de Siza Vieira no alargamento da comunidade a 27 países.
Com engenharia política esboça um Guggengheim europeu que edifique os grandes princípios convergente das suas nacionalidades e arquitecte a grande ponte para a islamização da Europa racista.
Porém, não se faz obra - por mais nobre que seja - sem técnica do argumento ou desenvoltura de comunicabilidade, seja ao gosto das elites ou dos cidadãos.
Como Manoel de Oliveira, ajusta-se a Durão a consistência académica e o ideário comprovado no seu berço político para a estilização adequada da sua epopeia, porque ninguém pode negar - mesmo que genialmente entediante - que o cineasta tem um nacionalismo puro e duro gravado nas suas películas.
Ainda assim, não sei se será competitivo o suficiente para as quotas multiculturalistas e económicas que pretende atingir, mas se Luís Figo soube chutar a bola e marcar cifras, quem sabe...
Personagens intrinsecamente estranhas ao aposentado ministerial, mas não seja por isso, sempre podemos recordar a frágil e chocada Ana Gomes na sua sindicância por terras timorenses, que também como Durão acreditava nos valores da civilização sobre os valores da barbárie.
O que é que estes rostos conhecidos têm em comum com o tão repetidamente citado para a feitura de tão inusitada prosa?
Nada e uma coisa.
Nada, na certeza de ele está longe dos valores concretos dos outros que sugeri (pelo menos até à data) e muito no que lhes é concordante e já foi reconhecido.
Mariza, José Saramago, Siza Vieira, Manoel de Oliveira, Luís Figo e Ana Gomes foram os últimos galardados pela AIP (Associação de Imprensa Estrangeira) como Personalidades do Ano pela excelência e referência mundial portuguesas.
Com a ingratidão de seleccionar anualmente neste país imenso e fértil quem pela sua actividade promove visivelmente Portugal, esta organização distinguiu José Manuel Durão Barroso, enquanto político, ex-Primeiro-Ministro e Presidente da Comissão Europeia, como o Ideário Nacional para 2004.
- O que é que importam estas personagens intrinsecamente estranhas e rostos conhecidos que nada têm em comum com Durão Barroso para a feitura de tão inusitada prosa?
- É melhor não perguntarem...

terça-feira, dezembro 21, 2004

O sentimento do povo anda de rojos

(...)
Desentalado nesta côdea de terra

- no dia que nos sucede,
onde viste a terra quase de novo acontecer:
fecharam-se as valas ecoando,
e resgataram-te, por esta mais-uma-vida
contra o ávido murmúrio das gadanhas.

Incluí-me, então nas tuas palavras.
Nem mesmo hoje alguma coisa mudará!
Ombreado com o pó, aquém da lâmina,

e para além da seca e alta relva
que comigo se encrespa,
sou a gaga relíquiado ar.
Paul Auster

segunda-feira, dezembro 20, 2004

As pevides e o suspense de Comédia


Comédia tem-se revelado uma interessante companheira lá em casa. Se há coisa que não dispense é um bom policial acompanhado por uma tigela cheia de pevides.
Sim, pevides! Não queremos tremoços, pipocas ou amendoins, mas aquelas sementes de abóbora, secas em sal, que assim que as levamos à boca as papilas gustativas excitam-se de imediato ao seu sabor amargo.
Começo e só acabo quando não sobra nenhuma no fim do pacote, ou melhor, no fim da tigela que leva pelo menos dois pacotes de 250 grs cada um, e me asseguro que não sobeja nenhuma casca para chupar ainda algum sal esquecido.
É um petisco que não se iguala a nada com casca que eu conheça.
Entalo-as entre o polegar e o indicador sem as sufocar, levo-as aos dentes da frente para aconchegá-las a seguir por entre os espaços mal apertados das coroas imperfeitas que a minha querida mãe me deu.
A seguir com uma pressão certeira e rápida aperto-as pela anca ao que elas suspiram abrindo seu corpo em duas estaladiças conchas que a seguir chupo com a língua para despir e trincar a sua óstia.
Faço isto sereno e ritualista, e uma a uma vou comendo tantas quanto as cascas que também ponho de lado.
O ritual não se fica por aqui que depois de as despir e 'papar' dou-me ao luxo de palitar os dentes violadores com o fio dental que lhes sobra depois de escancaradas.
O filme avança interessante e se for um suspense de Hercule Poirot até me estimulam mais as pevides para a análise ao crime que exige tanto rigor para descobrir o prevaricador como elas todas para desvirginar.
Comédia é prova viva que os cães são bons detectives e não se furta a lembrar-mo exactamente quando estou seguro de ter descoberto o alíbi e desvendado o mistério.
Logo aí Comédia derruba-me toda a lógica com a peúga que ninguém viu e que não está onde devia ou o timing do personagem de que suspeito que não joga com o timing da sua confissão.
Comédia acha o suspense moderno insípido e defende que alguns argumentistas deviam tirar aulas de gastronomia pois talvez evoluíssem na arte da criminologia ao ver como tratamos os nossos amigos de penas e conchas:
- Uma receita horrorosa só pode dar um bom crime, um crime horrendo defende com muita convicção
(…)
- Foi o padeiro com certeza. Lembras-te como ele a assustou quando lhe passou a conta do pão?
- Todos temos um lado negro. Estás a ser básico Linfócittos. Até um padeiro inofensivo pode ser esquizofrénico.
- Esquizofrénico?
- A esquizofrenia inofensiva abunda por todo o lado, é uma doença cosmopolita. Não faz de nós criminosos, só potenciais candidatos.
- Cosmopolita?
- Enquanto nos meios pequenos uma característica de carácter pouco normal tolera-se e às vezes até ganha uma ‘notoriedade favorecevdora’, já nas grandes cidades são alvo de marginalização e podem desenvolver-se para perversões perigosas como defesa do indivíduo.
- Ora, tudo é possível até acontecer Comédia. Eu continuo a achar que o padeiro… - Comédia não me ouve até ao fim e sai de ao pé de mim
- Comédia????
- Um homem que aspira ao crimeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee se não tem uma mente pérfida e perversa, não consegue nada mais do que somente imitar um grande criminosoooooooooooooooooooooooooooo.
O teu padeiro é mais inteligente que tu Linfócittossssssssssssssssssss, até ele sabe que é um falso criminoso, porque sem recursossssssssssssssssssssssssssssssss.
Sabe à partida que não passa de um herói condenadooooooooooooooooooooooooo ao fracasso e à tragédiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa – berrou-me do corredor.
- Mas não achas mesmo que o padeiro????????
Cccccooooommmméééédddiiiiaaaa!!!!!! Onde é que vais?
(…)
Comédia é inteligente demais para o meu gosto. Antes do primeiro intervalo já topou mais de metade do mistério e no segundo intervalo, precisamente quando eu estou preparado para defender a minha teoria, já ela descobriu o verdadeiro autor e já nem tem pachorra sequer para me ouvir, enfastiada que está com o filme.
Resumindo, desconstrói-me a tese toda e só me ajuda para mais pistas se lhe der mais pevides, ao que eu danado pela óbvia burrice e desatenção ao enredo, lhe dou as respectivas, contrariado e resignado que estou ao meu falso alibi agora escangalhado e inútil.
Comédia além de inteligente é também esperta demais para o meu gosto.
Com uma mulher seria com certeza mais fácil: convencia-a sobranceiro de que não deixava de ser pertinente a questão que levantava e depois calava-a com um ‘chocho’ para que pudesse continuar a ver o filme sem uma detective amadora armada aos cucos e a competir comigo.
Podemos ver policiais a dois desde que lhe faça as perguntas a partir do segundo intervalo, mas quanto às pevides é que eu não me conformo.
Comédia revela mais destreza a comê-las (ora obrigadinho!) e com aquela 'bocarra' jeitosa do miolo à casca vai tudo a eito e bem mastigadinho (assim também eu!).
Dada a concorrência feroz vi-me rapidamente obrigado a arranjar duas tigelas - uma para cada um - e em troca Comédia não me ‘crava’ as minhas e ainda me dá a vã glória de ser um Sherlock Holmes de trazer por casa e disfarçar-me de Comédia e ela de Linfócittos.

domingo, dezembro 19, 2004

Postscriptum

Não está menos presente na memória do cidadão a demissão de António Guterres como a de Durão Barroso, mais recente, ou a despromoção de Pedro Santana Lopes.
O sentimento de confiança no PS ou no PSD é igual, que é o mesmo que dizer nenhum, nicles, niente, nada, rient, anything!
Ambos revelam-se no fundo categorias semânticas da mesma 'politiquice da tanga' e expressões da mesma 'balda' e absentismo de honestidade política:

- O PS tem o dom da oratória pelo relacionamento histórico aos intelectuais e por isso distingue-se, tanto na eloquência narrativa como na urgência imperativa, com características herdadas do seu passado revolucionário que até deseja discreto pelas cumplicidades empresariais e económicas que reúne.
- O PSD explora com falácia o discurso relativista e instrumentaliza o 'romantismo' ultrapassado da Esquerda para fazer passar a sua expressão algoritma como imprescindível à modernização social e à lógica de classes.
Na realidade dos mais escamoteados pela tal modernidade, e provam-no os últimos governos, depende tudo de quem estiver no poder.
Melhor será dizer que o povo de cócoras é a significação real do sentido semântico das principais elites portuguesas: o PS e o PSD.
Só esperemos que o anti-depressivo genérico não seja uma 'neoditatura'.

sábado, dezembro 18, 2004

Osteoporose das elites políticas

Um politólogo idóneo é convidado a fazer uma radiografia sociológica dos fundamentos políticos das elites partidárias a propósito do 'castigo sampaísta'.
O que infelizmente revela, sugere a sentença de morte a curto-prazo dessas hostes ideológicas no imaginário social português.
Num estudo profundo de caracterização sócio-política da 'parlamentariçe' portuguesa desde os anos 70 (por si só um período demasiado jovem e pouco estudado) fica a ideia de que somos uma nacionalidade de ideias, crenças, princípios e valores resultante da herança bipolarizada de uma Esquerda e uma Direita filhas da mesma mãe, um corpo andrógino na sua vivência democrática e consequente figuração.
O especialista simplifica-nos os credos republicanos em dois períodos: o formando constitucional e o constitucionalista vigente.
No primeiro ignora com crueldade o PCP (fá-lo de forma mercenária dado que não o fundamenta historicamente e nem explica porque é que então ainda se faz representar) e, com estranheza minha, não deixa de considerá-lo o genuíno reflexo e a voz fiel da classe operária e rural.

Mas, contraditoriamente, toma-o como um prematuro politizado que não resiste e cai no esquecimento dos laicos ainda estranhos à expressão moderna das “novas democracias”.
Mais uma vez não explica porquê e generoso ainda lhe dá o rebuçado para chorar na orfandade, mesmo exclusiva na ligação às bases sociais, como aliás diz ser o resto dos partidos pela Europa fora.
Até aqui não surpreende, principalmente se conhecermos os percursos degenerativos e desestruturantes que todos os PC’s europeus têm conhecido, para não falar nos países de Leste.
Já no verdadeiro período constitucionalista não é menos soft às nossas expectativas desinflaccionadas.
Constata-se que o Portugal político é mais inseguro e tende para a dispersão ideológica no seu último século comparado ao seu homónimo histórico, o conquistador e visionário p’rá além mar que já faz mais de 500 anos.
Somos hoje um rapazinho teimoso e pouco sério a jogar ao Monopoly com a diplomacia toda na ponta da língua e uma empresarialidade caprichosa que derruba os bairros da mutualidade social e constrói os condomínios da globalização desumanizada.
Justifica o fenómeno pela «génese política ainda embrionária das elites portuguesas», ideólogos desligados das bases reais e concretas, as que dão acesso ao verdadeiro entendimento dos conceitos e formas da necessidade social na sua urbanidade e construção para as “novas democracias”.
Sabemo-nos então, simples joguetes nos caprichos intemporais de um punhado de mão de homens tecnocratas que politicamente ainda não sabem andar, quanto mais correr pela Europa a fora, em convergência com outras tantas nacionalidades e patrimónios políticos.
Perturba a contrariedade e revolta mais ainda a fatalidade incontornável desta radiografia que acusa claramente a osteoporose da moralidade e da pretensão política de assento parlamentar.
Ao raio X os cidadãos não passam de perene memória e de uma realidade patrimonial que ocupa umas manchinhas brancas lá para a zona dos intestinos.
Tudo o resto à volta é massa óssea desfeita, ou à beira disso, e de ambígua tonalidade.
Dos pulmões ao abdómen sobressai a nefasta androgenização da Direita e da Esquerda que se faz nova Esquerda e nova Direita, se em período de seca, ou de uma que afinal é intrinsecamente a outra, e vice-versa, quando sólida no poder mesmo que rala da ideologia que a configura.
Uma mais séria que a outra? Não.
Segundo o mesmo politólogo é como a dança das cadeiras, move-os o resultado mais vantajoso para a sua classe social, política, ideológica, económica e empresarial, mas ainda não a vontade e necessidade do cidadão-base, que também não é mais evoluído e chega a ser cúmplice desta prevaricação através do fenómeno de absolutização do eleito e da reforma que ele representa, e, portanto, quando manifestamente insatisfeito é arrogante no voto útil que não sente mas que dá por não desejar mudar a sua orientação, mesmo se contraproducente ou perigosa para uma maioria que se forma.
O valor e a identificação cultural e política que o partido eleito ganha não é nunca o resultado directo do voto de consciência social e construtiva mas do voto conformado e ainda ligado aos deveres cívicos.
A Direita e a Esquerda em Portugal fundamentalmente «nasceram do nada» convulsivo-revolucionário, ao contrário dos comunistas, e esta ausência de origem sócio-cultural é o que explica os revezes da história parlamentar e a precariedade da sua consolidação na praxis enquanto estruturas teóricas.
A idónea consciência especialista atreve-se ainda a afirmar que o CDS não foi só parido pela extremosa, dedicada e Primeira Dama 'politicista' Helena Sacadura Cabral (permitam-me o mexerico), mas também é filho do desvirtuamento da Esquerda e da Direita actuais e sobrevive no fosso dos cidadãos desorientados que foi gerado pela sua descontinuidade teórica.
O mesmo será dizer que é fruto nosso, do cidadão desiludido e vingativo por sentencioso e disso ao menos Paulo Portas pode gozar de próximo às gentes do povo.
O pior é que o estudo também sugestiona que se não nos 'pomos a pau', incorremos a acordar numa manhã de ditadura, como aliás os nossos congéneres europeus.
Afinal não é osteoporose que a radiografia indicava mas prognóstico bem pior: Microencefalia Governativa e Depressão Pós-Parto é o que Portugal tem neste momento.

sexta-feira, dezembro 17, 2004

Pichagens III (das terras do Tio Sam)

Filosoficamente obriga-me a pertinência provinciana e a fibra contestária do 'poveco' que muralhei anteriormente em conjunto com as dúvidas engasgadas (sobre a forma e conteúdo) do meu amigo bloguista - clara evidência do 'tresmalhamento' do Povo enquanto classe social - à Declaração de Princípio de Sanidade Cívica e Socialidade para confirmação, no meu entender importante, da inegável mundanície, espécie de sarna que contagiou os políticos de hoje, que lhes corrói a lógica de justiça e de ética e os deixa somente sensíveis à perversão das suas metas pessoais e conjecturais no universo público do seu aburguesamento político.
Acompanhamos agora a classe política num ‘gozo’ e sátira cúmplices dos seus pares, um espectáculo de querelas partidárias e protocolares de uniões de facto para futuras alianças oficiais, tudo episódios novélicos a deslizar para o burlesco parlamentar de colarinho branco.
O que agora nos entretém e é verdadeiramente anedótico não será tão inofensivo quanto parece e pode significar a amnésia a longo-prazo do sentimento de arbitrariedade do mortal comum para defesa de seu 'condado'.
Por aqui me fico e termino a secção das Pichagens assinando-a por baixo neste moderno e ainda livre instrumento da ingerência 'espionática' e excelente veículo para a fundamentação 'opinista' ao que parece ainda jovem e imatura para controle tentacular da Comunicação Alienada.
Faço tábua rasa dos sentimentos de contrariedade que vim sugerindo e face à óbvia perda de identidade do vocabulário da pertinência popular e da crítica cáustica (por legítima) deixo então a expressão apurada (por erudita) da linguagem dos poetas que na sua coorporação livre de interesses sempre ameaçaram e inquietaram a serenidade do convencimento político.

I
De par com as tuas cinzas,

aqueles ainda mal acabados de escrever,
suprimindo a ode, as atiçadas raízes,
a estraneidade do olhar — com mãos embrutecidas,
arrastaram-te para a cidade,
apertaram-te neste laço de gíria,
e nada de ofertaram.
A tua tinta aprendeu a violência das paredes.
Banida, mas sempre rumo à fraternal quietude do coração,

revolves os seixos da velada terra,
e compões o teu lugar por entre os lobos.
Cada sílaba é um trabalho de sabotagem.

(…)

II
Nada menos que nada.
Na noite que vem
Do nada,
Por ninguém
na noite que não vem.
E o que se firma na orla da brancura,
Invisível
Ao olhar daquele que fala.
Ou uma palavra.
De nenhum lugar
vem na noite
daquele que não vem.
Ou a brancura de uma palavra
riscada
contra a parede.

Paul Auster

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Às vezes dói-me a loucura desta escrita insana…

O trabalho aproxima-se do fim e começa o verdadeiro ócio, puro no que lhe significa a vadiagem e o vagar pelo pensar etéreo mas preguiçoso à paragem merecida, que essa mesmo, talvez só nos micro-intervalos deste pensar alucinante e viciado que varre o meu cérebro.
São horas sobre horas matraqueando as sensibilidades estetas, as que tenho e as que se não tenho já devia ter, todas em laboração contínua e espremidas para um ecrã digital, um pretenso mediador milagroso para o entendimento entre um génio das letras e um ingénuo letrado.
Um cozinhado de letras e letrinhas de todas as cores e feitios decoradas com riscos e mais risquinhos, tudo na garantia de que ninguém se entedie com elas e não vá ‘a porca torcer o rabo’ sempre é melhor jogar pelo seguro e polvilhar o ‘dito pelo não dito’ com fotos e mais fotozinhas.

Temos que reconhecer que nestes tempos imediatistas as palavras só por si – por mais ajuizadas ou científicas nos pareçam do conhecimento – não nos cativam e muito menos nos importam se não estiverem diplomadas pel’A imagem ou a ‘fronha’ do ‘tipo’ que as opina – de preferência a cores que só a miséria do mundo é que se quer a preto e branco.
(Sim…, hummmm….., não. Preciso editar, hummm…. Posso dizê-lo assim?)

Bizarro, no mínimo bizarro. 12 Horas neste diz-se que foi e escreve-se para vir a ser depois, para quando o trabalho se aproxima do fim e começa o verdadeiro ócio, vadiar com prazer diletante nesses pós-escritos impressos, que o dia só se satisfaz quando a literatura matutina começa a morder o rabo das obrigações rotineiras até as engolir e se desvanecerem na noite para dar espaço ao novo dia que começa, num vagar perfeito pelo pensar etéreo.
O dia a sério, não o dia do sol despontando nos telhados cinzentos da rua ao compasso do galito-tenor do vizinho ou do jornaleiro do quiosque que mais parece um cangalheiro, tanto é o ferro e o ferrinho que bate em lata e vidrinho.
Sempre achei aquelas mãos verdadeiramente mágicas, que quando menos esperava, da caixa minúscula e incaracterística surgia uma nave.

Fazia-se de repente ao céu uma autêntica sala de teletransportação - brilhante e versátil - para 2 ou 3 pessoas lá dentro, tantas quanto as que aquela tecnologia dispensava ao jornaleiro, agora único timoneiro e cosmonauta solitário.
O meu dia é uma antítese temperamental.

É avesso tanto à actividade cerebral como ao repouso crepuscular do mortal comum.
Enquanto esses despertam com energias renovadas estou eu a abraçar o pousio, e, quando já eles caíram no leito, começo eu então um dia novo.
(Sim…, hummmm….., não. Preciso editar, hummm…. Posso dizê-lo assim?)

Sou noitibó, ave nocturna. Sou noctívaga e seduz-me essa libertinagem própria do que a noite reserva para o meu deslumbramento e representa com justa causa a quem não se revê em doutrinas ditantes do espaço do tempo no tempo de cada um.
Não há tempo-espacial na noite, não pode, essa é como o pensamento quando voa para longe.

Passa a indifinível e indetectável nos seus limites por suspenso que se torna.
A noite, por ser o fim do dia, principia o hiato absoluto de tudo o que é livre e posso determinar.
Bizarro, no mínimo bizarro. 12 Horas depois e estou a embriagar-me com a literatura matutina dos pós-escritos impressos dos outros - que a minha lida não é a doméstica, v’alha-me deus - e não me revelasse eu viciada na leitura e na escrita, que prefiro à noite, essa nocturna totalmente minha.
Sou ave noctívaga, senhora e rainha do céu da noite livre e das ruas vazias, exclusivas para fruí-las doentiamente no seu crescer muito suave e perene que só dou pelo dia dos outros quando os grandes iluminados dos dias começam a aparecer histéricos e doentes de ponto, devassando toda a traquilidade da cidade sobre rodas.
A cidade entra pelas janelas adentro e toma conta de nós crescente e trepante. Começa por inspirar e como senhora caprichosa que é, logo exige que se leia, escreva e se escreva entre uma leitura ou se leia entre uma escrita. Cobra impiedosa e sufoca até estar saciada.
Não satisfeita estes anos todos com o papel riscado e guardado em caixotes, apresentou-me um dia um tal de blogg, que além de presunçoso teima em convidar-me para tertúlias de todo o género e feitio.
(Sim…, hummmm….., não. Preciso editar, hummm…. Posso dizê-lo assim?)


Desconfio que me droga com qualquer coisa que ando com um pensar alucinante e viciado que se me varre o cérebro.
Depois de horas sobre horas matraqueando as sensibilidades estetas, as que tenho e as que se não tenho já devia ter, só assim me satisfaço.
Leio, escrevo, blogo, leio, blogo os dos outros, leio de novo e escrevo para outra vez blogar o que li. Bolas!!!!! Isto é labiríntico?
Estou na noite exclusiva e no trabalho as tarefas aproximam-se do fim. As mesas começam a arrumar-se umas com as outras, aprontam-se engolindo papéis para dentro das gavetas, cuspindo canetas e clipses para os receptáculos apropriados.
Sacodem-se leves agora que os papéis estão já dispostos em pilhas perfeitas, as máquinas já se desligaram e fazem todas fila para saírem ao mesmo tempo, umas atrás das outras - mesas e máquinas - que as tarefas estão a chegar ao fim e chega a lida de frustrada escrevinhadora - que a minha lida não é a doméstica, v’alha-me deus.
(Sim…, hummmm….., não. Preciso editar, hummm…. Posso dizê-lo assim?)


A minha é a bloguista e que obriga que venham outras por defeito: leio, escrevo, blogo, leio, blogo os dos outros, leio de novo e escrevo para outra vez blogar o que li.
Saíram as mesas e as máquinas em ordenada procissão e eu fico, eu que começo o meu dia.

Ainda vou a meio do jornal e já no fim dos mails que antecedem a ronda à blogosfera que nunca pára - nessa o dia não tem noite que as 24 horas nunca lhe soam na torre.
As ruas vazias, no seu crescer muito suave, anunciam a noite mas como o meu dia é uma antítese temperamental ao mortal comum, este ainda mal começou e sinto que quero escrever - não sei bem o quê - mas sei que tenho qualquer coisa para dizer e a seguir escrever.
Ainda não acabei o jornal e lembrei-me às páginas tantas de que 6 notícias atrás uma fotografia do Sudão me violentou a seguir à página 12, sem que contudo na 30 não se me acelerasse o sentimento, pois era quase atropelada pelo Bush em campanha, a 280 á hora na página 44.
Escapei-lhe na página 50 por pouco mas de nada me serviu aquele gourmet sublime porque logo da 18 me lembrei outra vez - com a Palestina sobre fogo - e nem a folgada banda desenhada ‘calvinesca’ da última me aliviou.
Nada naquele jornal me sossegou o entendimento do mundo, o sentimento amachucado pelas Joaninhas ou a revolta pela intolerância devota de alguns senhores-políticos, activistas e amestrados ‘anti-aborto’ que sentenciam arrogantes do alto do púlpito de uma colunazinha para mulheres presas à própria vida em rodapé.
O trabalho acabou, sairam as mesas, as máquinas em ordenada procissão e eu fico, eu que começo o meu dia.

(Sim…, hummmm….., não. Preciso editar, hummm…. Posso dizê-lo assim?)

Ainda vou a meio dos mails que antecedem a ronda à blogosfera que nunca pára - nessa o dia não tem noite que as 24 horas nunca lhe soam na torre.
Ele ainda mal começou e sinto que quero escrever - não sei bem o quê - mas sei que tenho qualquer coisa para dizer e a seguir escrever.
Ainda não acabei o jornal e lembrei-me às páginas tantas de uma fotografia do Sudão que me violentou a seguir à página 12, sem que contudo na 30 não se me acelerasse o sentimento, pois era quase atropelada pelo Bush em campanha na página 44.
Apetece-me um café de sabor incaracterístico e horroroso da única máquina que ainda não saíu com as outras e que nessa frustração de abandono me convida para um cigarro puxado do fundo dos pulmões que logo salivam, que me queimam o sabor difícil da escrita e fumam-me a sua ansiedade.
O cigarro expectante ainda eu não enrolei e já os pulmões lhe pedem a vida que ainda agora começou.

Eu nem por isso dou e essa arde-me os olhos, a escrita que sinto a fluir, viajada e ouvida no jornal que ainda vou a meio e ainda me falta o livro para acabar de ler que não posso de doida e exausta que esta cabeça é um cozinhado de letras e letrinhas de todas as cores e feitios com riscos e risquinhos, papel e números, sem perceber onde começo eu e acabam os outros que vejo, leio e começo entretanto a escrever.
Penso e assusto-me, tenho medo de não ser a cores - que só a miséria do mundo é que se quer a preto e branco.

Da miséria todos se querem ver longe dela e se quando eles caiem no leito começo eu então o meu dia, que a escrita me cobra impiedosa e sufoca até estar saciada, então penso e assusto-me que no mínimo é bizarro.
Desconfio que me droga qualquer coisa porque penso os outros, escrevo o blogg presunçoso que me martela os neurónios e desconfio das intenções deste ecrã digital, um pretenso mediador milagroso para o entendimento entre os génios das letras e os ingénuos letrados.
(Sim…, hummmm….., não. Preciso editar, hummm…. Posso dizê-lo assim?)


Cansa-me os olhos o Virtuoso, o melhor google que não precisa de password nem de enter algum porque trabalha sozinho, pensa por si, queima-me o sabor difícil da escrita e fuma-me a sua ansiedade.
Tenho sede. Levanto-me e bebo água.
Que bom! Que secura tinha! Preciso de mais água…
Nisto já entornei um bom bocado de água que limpei a seguir com as costas das mãos num gesto masculino e rude – rude, porque sou mulher e sei que não me expresso assim - limpei os pingos sobre as folhas que eu escrevia, sempre teclando a cabeça, martelando a cinzel com os dedos e as mãos a doerem-me, os dedos a pesarem-me e a vista cansando-me até deixar de a acompanhar com a cabeça que agora anda a 200 á hora com o Bush à frente.

Escrevo. Escrevo até mais não e não fosse apagar o cigarro que nunca me lembro de ter fumado e já me queimar os dedos e a secura da boca, se não fosse ele não parava com a cabeça que escrevia.
Blogo e assusto-me, porque sem parar bebi água e quando voltei saciada às folhas senti medo. Um medo esquisito porque expressava loucura.
Sem perceber onde começo eu e acabam os outros que vi, li e entretanto escrevi.

Paro, respiro fundo e olho para as folhas.
Conto-as: 10, 20, 30, as suficientes para lhe perder a conta. São folhas na mesa, na cadeira, tantas que não percebo qual é a primeira ou a última, mas esforço-me, e vejo que comecei com as folhas na água e acabei escrevendo na água e ela um rasto de escrita nas folhas.
Olho para ler. Leio melhor para perceber. Reparo que a tinta acabou e mudei para outra caneta que agora é de tinta vermelha (estarei ferida?).
Lembro-me que a caneta tem uma semana e reclamo durar pouco - duram cada vez menos..

Olho novamente e leio.
Leio para perceber e não vejo nada mas parece-me escrita e imensa o que lá verte líquido. Tanto papel, tanta tinta, tanta água…
A escrita entrou pelas janelas adentro e alagou-me trepante e oceanática e não satisfeita nestas folhas todas e d'Virtuoso, o melhor google que não precisa de password nem de enter algum porque trabalha sozinho, pensa por si, também me quer a mim, talvez escrever com o meu sangue em mim…
Solto um riso em minúsculas e olho em volta em maiúsculas, como que envergonhada não fosse estar sozinha.

(Sim…, hummmm….., não. Preciso editar, hummm…. Posso dizê-lo assim?)

Tola! Tola!! Ah! AH! Ah! Ah! Tola. Estúpida. Estúpida.
Não percebo nem ninguém podia compreendê-lo se ali não estivesse sozinha.
São folhas e folhas de riscos e riscos por todo o lado enxarcadas. Riscos que suspeitam um gesto da esquerda para a direita e de cima para baixo, mas que não têm nada da escrito ou pelo menos algo que se possa ler.
Não se configuram como caracteres de um alfabeto qualquer. Não se vê nada nem se lê alguma coisa que aquilo é loucura.

É um electrocardiograma do meu blogg interno, o Virtuoso, o melhor motor de busca onde os neurónios teclam sozinhos sem password ou enter.
Tenho medo, eu sou noitibó, uma ave nocturna sem filtros para se defender e o meu blogg é a minha sentença de morte! Virá a loucura? Corro o risco do colapso androidano do meu próprio blogue pessoal?

D’O Virtuoso?
Dói-me a mão e a boca seca-me. Vou parar que estou exausta e a vista turva-se-me.
(Às vezes dói-me a loucura desta escrita insana... )

domingo, dezembro 12, 2004

10 de Dezembro

O que dizer do Pensar enquanto arte humana de reflexão e ideário social quando este se faz um falso leigo ou astuto hipócrita das vigências (sub)humanistas dos Estadistas do Mundo?
Como vivenciar e reagir socialmente sem essa faculdade globalizante das ideias individuais e colectivas?
Perguntem a qualquer anónimo ‘divorciado’ da crítica-cidadã o que fez 55 anos e subverteu eternamente os desmandos caprichosos da mortalidade contrariada dos homens ambiciosos.
Questionem-no sobre o que se comemora a 10 de Dezembro e representa a arquitectura universal e absoluta dos princípios, meios e fins da generosidade e filialidade do Homem e é o primeiro esboço da futura Carta de Pessoalidade do Homem Livre, instrumento precioso e reconhecido para impôr fronteiras à globalização evolucionista que prevaricará sempre em tentar transformar a sua individualidade de direito num poder déspota ou numa desumanização subterrânea.
O que dizer da 'cinquentona' Declaração Universal dos Direitos Humanos?
Talvez a mesma fragilidade que suspeitamos no amanhã tecnológico das gerações 'funcionais'.

Por mim, pouca inspiração me ocorre, senão a amarga e tristonha que já discorri, porém, lembrei-me que Almeida Garret há 150 anos já se queixava de semelhantes maleitas:

“Quantas almas é preciso dar ao Diabo e quantos corpos se têm de entregar no cemitério para fazer um Rico neste mundo?”

sábado, dezembro 11, 2004

...Além dos remediados

Ia aqui a 'donzela' distraída e divertida pela calçada manuelina - que confessa ter para regalo dos seus olhos como tudo o que é símbolo ou insígnia gráfica - quando às tantas o coração se me desata aos pulos e a respiração baralhada atrás dele.
Era tal o batimento cardíaco e tão desgovernado que mais parecia respirar facetado num jogo de macaca e no empedrado da hora.
Levei a única mão livre ao músculo inquieto, que ora o sentia, ora o perdia ao tacto, tal era o tumulto, e comovi-me granítica de emoção.
Claro!
Pudera!
Era a regressão à infância pictórica!
Era a referência 'in loco' ali ao meu alcance!
Era 'a' própria, ao natural e na proporção exacta!
Era a memória vivificada!
Espreitava-me de esguelha do lado de lá da montra brilhante uma deliciosa xilografia de Vieira da Silva com a representação de uma das suas fabulosas bibliotecas sobejamente conhecidas.
Já o coração estava granítico de comoção, a respiração mais parecia um jogo de macaca e encheram-se-me os olhos de livros e mais livros, prateleiras e mais prateleiras profusas, pontes de leituras para outras leituras de ponta, uma imensidão de tonalidades ocres que convergiam para traços grossos de carvão que se perdiam na multiplicidade de planos e voltavam a reencontrar-se novamente noutras paletas ocres só que agora cruzadas em ângulos irreais que atravessavam e serpenteavam pela tela, da tela ao vidro, da montra aos meus olhos estetas e escusado será dizer que senti uma alegria tremenda e quase me atrevo a dizer 'abençoada' .
Claro!
Pudera!
Era a regressão à infância pictórica!
Era a referência 'in loco' ali ao meu alcance!
Era 'a' própria, ao natural e na proporção exacta!
Era a memória vivificada!

A montra desmaterializou-se e o meu 'gozo' ganhou a infinitude e profundidade que se encenava naquele metro e meio por quase outro metro de cromatismo vivo e intenso.
Arrebatou-se-me a modéstica e toldou-me a alucinação de ouvir Tom Waits e Crystal Gayle em sintonia perfeita, cantando e sobrevoando a minha pequena sala escura, como se de um par de amantes de Chagall se tratassem.
Levitávamos os três sobre a sala, a sala connosco e Vieira da Silva uma anfitriã divertida.
A Biblioteca ganhava corpo com os livros que dançavam loucos, os três loucos com as prateleiras ocres, as leituras grossas de carvão com os ângulos de ponta e tudo o mais que tinha abandonado a tela, saltado para a calçada manuelina e a provocar-nos uma alegria aos pulos pelo céu da sala que se tornara a verdadeira parede da notável Biblioteca.
Inspirou-me, aspirei e em parceria com o dueto 'jazzístico' arrebatei sem leilão a Biblioteca de Alexandria para a minha pequena sala escura.
Queixaram-se quatro ordenados tímidos, contrariaram-se os príncipios dos deveres e descobri que a ambição não só tolda os virtuosos como também os remediados…
Claro!
Pudera!
Era a regressão à infância pictórica!
Era a referência 'in loco' ali ao meu alcance!
Era 'a' própria, ao natural e na proporção exacta!
Era a memória vivificada!

sexta-feira, dezembro 10, 2004

A ambição obscurece até os virtuosos...

É sentimento óbvio e esclarecido para qualquer um. Não é preciso ser-se versado em ‘altos’ assuntos e basta, no que significa por suficiente, basta o domínio básico das regras de coexistência humana para se perceber que a AMBIÇÃO não é objecto malvisto por juízos de pouco e infundado valor.
Mesmo num contexto simples (como não o é o do conhecimento, que esse nunca basta por si dada a sua infinitude) bastam as relações ingénuas com o mundo que obedecem à milenar e por isso omnipresente fórmula humana de coabitação social - viver em sociedade acenta primordialmente no respeito de cada indivíduo e no que ele representa e estabelece com todos os outros – basta esse saber 'doméstico' e trivial para descobrirmos que a ambição é um manancial de (más) intenções com retoques de malvadez.
Porque nos revelamos assim? Ultrapassa-me...
Na história da Civilização antecedem os grandes feitos e conquistas do 'primata-cerebral' outro alento, tão poderoso de motivação e talvez de génese muito mais primitiva do que se possa imaginar: o DESEJO.
O desejo é uma das forças motrizes da desenvoltura e tomada humana. Da mais simples à mais complexa, da mais imediata à mais epopeica ou da que se consolida no próprio indivíduo à que o ultrapassa, sem que ele próprio a consiga dominar.
Não deixa de ser curioso que o sentimento natural que o homem conhece antes de o da ambição seja afectivamente avesso a ela, não lhe tolde o bom-senso e nem o catapulque para a (irr)racionalidade calculista e perigosa sobre o próximo que conhecemos hedionda nas suas várias expressões.
É despertado pelo desejo, é benigno e todos já o sentimos. É socializante e às vezes solidário porque na construção das suas estruturas interiores idealizadas pelos valores pessoais que aspiramos gera a necessidade da envolvência dos outros para revelá-lo e dar-lhe forma: a ASPIRAÇÃO.
A aspiração é uma espécie de afecto impulsionador da pessoalidade e não pretende ser mais que isso, que quando desvirtuada nos objectivos já se trata de outra coisa qualquer, talvez de ambição...
É generosa e razoável porque sobrevive no deleite da nossa vontade ou esperança de qualquer coisa. Mas é, acima de tudo, inofensiva para os outros, o que da ambição já não se pode rezar o mesmo.
A aspiração embala-se lenta nas marés da INSPIRAÇÃO.
Fruímo-la com um movimento suave e constante cuja beleza simples nos suscita desejos de abarcar o seu abstracto e acolhedor corpo.
É um afecto narcisista que ora indo, ora vindo inspirado, nos acarinha sem exigências.
A inspiração é a franja de um grande manto desconhecido, o que se quer ver para lá de..., chegar muito depois de..., esperar encontrar sem se imaginar que..., e um imperativo porque desconfiamos perfeito e ideal ao que aspiramos.
Nas cavernas a necessidade básica de alimento fez o homem nómada e mostrou-lhe a fraternidade social das colectividades. Quando se julgava remediado olhou para os grandes oceanos e sentindo-se inspirado pelo infinito fez-se um vagabundo ingénuo do mundo e correu-o outra vez para sua revelação.
Num ápice o homem fez-se aos céus e liberto o género humano da mortalidade terrena, encontrou adormecida numa cratera de Saturno e afagada pelo marulhar das estrelas, a ambição velada pelo nocturno celestial.
Pareceu-lhe bela e luxuriante, imoderada pela energia que imanava e fazia jus à fama desmesurada que a Civilização lhe sagrava.
O homem aspira até cegar e quando esse desejo ardente e alucinado lhe tolda o bom-senso, já não vê nem tem como recusar a ambição para sossego dos ímpetos.
A ambição não tem conta nem medida, está sujeita à porção da fragilidade de cada um, a cada emoção de resistência ou vingança ao que o mundo não lhe foi capaz de proporcionar e acima de tudo aos desejos insatisfeitos ou frustrados.
Há os homens que ficam para trás e os que avançam para a glória, os esquecidos e os que se esquecem, os pobres e os reis...
Há os que abraçam cúmplices e os que vêm passar ao longe a grande obra que é o Mundo...
Volta-se sempre ao desejo que é afinal um amor virgem que só depois de violado é que se faz criminoso. Não foi o insidioso antes inocente? Seria incompleto de qualquer coisa? Não são os dementes antes homens sãos? Afinal a loucura é sempre filha de alguém...
Cada um arquitecta a insensatez e prevarica a partir do que lhe for proporcionado e posto à mão pelas circunstâncias da marginalidade moral e humana da vida.
Miguel Graça Moura, homem genial por mente fecunda de sensibilidade na música, lá deve ter achado que tinha no mundo contas a haver e que a sua obra merecia mais.
A sua dedicação à sociedade raiava do mais nobre: revelar a música ao próximo para que depois de sorvida o fizesse um iluminado. Partilhar a sua arquitectura íntima como instrumento de humanidade e estética para alcançar os homens 'surdos'.
É, entre muitos mais, um mago que fazia o mundo um pouco mais mágico para a emoção e o afecto do Belo.
Porque terá o maestro achado parco e imerecido o que a vida lhe tinha vindo a proporcionar?
Porque terá abandonado o púlpito do Fabuloso e da Erudição para o mundano e corrupto universo de mordomias e privilégios cegos ao sentimento da Dádiva?
O mágico tirou da cartola a acusação de crime de peculato, peculato de uso, infedilidade e abuso de poder, e conspurcou irremediavelmente 12 anos importantes de investigação no ensino da música e de uma instituição valiosa para Portugal.
Não sabemos e nunca haveremos de compreender como pode um maestro ser portador de características humanas tão avessas à expressão da sua obra, essa que é feita para júbilo de outrém porque só pode nascer e fazer-se aí.
Continuo a achar que a medida da ambição não está só no indivíduo mas também no que lhe faltou o mundo e equacionado com a fragilidade das suas aspirações.
Os antigos já diziam: quem não caiu em tentação que atire a primeira pedra!
Não se tentou Judas e ofereceu Cristo à cruz?
Que outra explicação pode haver para uma equipa de pilotos aéreos vandalizar o estatuto da sua classe favorecidade e imiscuir-se no tráfico de droga gigantesco e letal de um país onde a sobrevivência e a subvivência há muito engoliu a justiça e a dignidade humana e por isso tem com essa monstruosidade relações familiares que se assemelham mais a arrufos e birras?
Da droga só conhecemos um universo 'caseiro' e clandestino, de organizações mafiosas e da aberrante monumentalidade do dinheiro que implica não saberemos com certeza tanto assim, porque é um mundo demasiado obscuro e abstracto ao nosso provincianismo.
O que temos de flagelo não são os cartéis mas as suas vítimas. O que abunda são os desgraçados que nos deambulam à porta ou vimos esporadicamente saber estarem a definhar em guetos que a cidade e a vergonha esconde.
Como caíram na tentação de se equipararem àqueles barões venezuelanos que já nasceram amassando com seus pais e avós o pão do tráfico que os veste, leva à escola e lhes oferece a frágil vida para seu governo.
Pois é, continuo a achar que a ambição de cada homem não está só no que ele deseja profundamente e vê gorado mas também no que o mundo lhe terá prometido e ainda, provocador, lhe põe à prova da sua fragilidade.

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Causa-Efeito?

Desde que o meu amigo bloguista ficou suspenso por uma marioneta que não consegue escolher, o Bocadosdegente está que nem pescadinha de rabo na boca… É puzzle indeciso… ‘Bicho’ frágil na dimensão antropológica a que aspira...
Prometeu pouco e ainda assim frustrou muito… Virou cabaz de metáforas órfãs e rebuscadas… Anda perdido na fatalidade labiríntica… Suspenso em latitudes herméticas e de perfil quiromante.
Só lhe resta ser… sendo no que deriva… procurando, andando, caíndo no que se lhe vai revelando…
Bocadosdegente é o princípio e o fim… Fez-se gerúndio de si próprio… Afecto disperso que sufocou porque nem concentrado nem light se fez no que foi começando... mostrando... sendo...

quarta-feira, dezembro 08, 2004

Já não se 'picha' como antigamente (II)

Em tempos idos 'pichava-se' com militância de causa e consciência política. Era ilegal, clandestino e o único instrumento de expressão sem liberdade da resistência ao fascismo que podia ter visibilidade pública. Hoje 'picha-se' com brejeiriçe, calão, arte cénica, mais ou menos eloquência, tudo na proporção da luta em causa. Expressões de 'pichagem' moderna mas 'picha-se' na mesma com o que nos vai no coração.

«Boicote ao #Bloco Político dos Maricas# dos Democratas-Cristãos e dos #palermas# dos Sociais-Democratas. Boicote já ao Campesinato do Capitalismo de Estado!»

«O #faz-de-conta# do Santapartismo fez o primeiro boomerang com a Central de Comunicação e o segundo com a queda do Governo!»

«Um business-man da #coboiada# governativa e o #limão cáustico# para a #laranjada# do Durão!»

«Santana aspirou a César mas como é só do #cartel dos buracos#, só lhe sobrou o título de #Nero do Capitólio lisboeta#

«O buraco do Marquês é a New Citty of Santane e agora quem se #lixa# somos nós que só temos o Clearing em Abril de 2005. Exigimos um Código de Conduta Moral aos #tecnocratas# políticos de Portugal para que o stablisment durense seja o #Último dos Moicanos#

«A Comuna de Lisboa derrotou o #consórcio durense# e Democrata-Cristão. Vamos às urnas que o Povo não esquece #quem lhes põe a mão na bolsa#

«A Concordata entre PSD e CDS virou #Democracia de Caserna# e ganha o mais #esperto#! É o Condomínio dos despeitos dos cristãos e Sociais-Democratas, que afinal são como as #comadres agora que o guito acabou#

sábado, dezembro 04, 2004

Já não se 'picha' como antigamente

Hoje saí à rua e encontrei o povo a espernear numa ambiguidade pós-modernista da Contestação Popular Murada.
Se antes as expressões estéticas da actividade de boicote político primavam pela disfarçada "consideração", mesmo que formal, das várias classes sociais, nos dias de hoje parecem escorregar para uma poesia inflamada de modo sui generis no respeito pelo Sujeito, Ideologia ou Instituição em foco.
A sua eventual justiça na crítica fica disfarçada e desaparece na fulminância do ataque, o que obriga qualquer um a ler bem 'entre-as-pichagens' para a entender e dar-lhe o merecido mérito, mesmo que o da acutilância ou sarcasmo.
O Povo já não recorre aos Poetas, conhecedores profundos da fragilidade humana para espevitar o sono da Branca de Neve. Talvez porque eles mesmos - e outros eruditos - há muito se tenham recolhido e afastado das ruas vivas da gente esfomeada pela esperança, que essa sempre vai emergindo dado que o Mundo é um pêndulo conhecido por indeciso.

«O arrivista do Santana #lixou-se# com o Sampas como a lebre com a tartaruga! Quando chegou à meta estava lá a arbitragem em peso: as hostes do Princípio Republicano Sampaista e o Povo Apolítico. O Espírito de Partido Social-Democrata #baixou as calças# à Ética e levou no Interesse de Classe ao #léu#

«Durão não é barrosense, que nem um #par-de-cornos# jeitosos o #tipo# arranja. É um apátrida europeu que gosta é de #couves de Bruxelas#

«O Santana é a Ala Aventureirista política da Real Society democrática enquanto os sociais-democratas pensam com classe o Santana pensa com as #calças#


«O Portas além de #teimoso# é #parvo# que pensa que pode isolar-se politicamente do PSD para uma Autarcia com 'Pedrito'. Acha-se o #maricas# capaz de criar uma força Política Autónoma e Capaz?»

«Portas, Santana e Durão são o Benelux de Portugal: Portas um #maricas# belga #enfatiado#, Santana o das #políticas-baixas# e o Durão o nosso #luxemburguês#

«O Bipolarismo Social-Cristão está na #bancarrota# da Legitimidade e ainda se #arma aos cucos# no Parlamento Republicano do Sampas!»

sexta-feira, dezembro 03, 2004

«A montanha pariu um rato em Julho»

Para o Senhore Iscelente Presedente da Nação do Portugal

É cá para a minha pessoa e para toda a família uma honra maior tê-lo como nosso Presedente e se o Senhore achou por bem despedir os governados e os seus empregados todos, porque não cuidavam bem da casa, porque desarrumados e de jeitos «pouco rulares e transparentes nas instuições democrátias do nosso Pais», acho que foi assim que o Meu Presedente falou, quero desde já dar-lhe a minha atenção toda no que bem precisar.


Eu não cheguei foi a perceber bem se o Meu Presedente estava a castigá-los pela carga de trabalhos que lhe deram se pelas intenções que pretendiam, embora desconfie mais da primeira razão.
Cá por casa - e olhe que somos católicos e devotos ao domingo - todos já andávamos a comentar alguma desconfiança dos governados e que haviam coisas que nos convenciam de pouca moral e justeza.
Noutro dia, na televisão, havia um senhor, até bem compostinho, que não sei se governado se empregado (mas isso não vem ao que interessa), estava eu dizendo que noutro dia a televisão falava que «seria oportumente ético, de urgência moralizora e de transparência democrátia, que a legimidade representiva fosse respeitada e levada ao final» (como a vontade de Deus concerteza…), o que não entendi bem e perguntei ao meu marido.
António disse-me que queria dizer que alguém ficaria a ‘chuchar no dedo’, que seria inevitável, até mesmo para os empregados que nos querem, nós o povo, nos querem por bem.
Ele até me avisou logo que não contasse com o aumento dele que se o Senhore Meu Presedente despedisse os governados como disse que ia fazer, até Abril do ano que vem só podíamos contar com a limpeza e manutenção do Parlamento.
Imagino que fiquem em banho-maria como muitas coisas cá por casa - que isto de obras feitas pelos homens eu sei muito bem como é que é – e o meu António diz que não é só o aumento dele mas também o centro de saúde cá da freguesia e a estrada velha da Praça de Santo António que ia ficar como nova.

Isso é muito triste nesta altura do Natal sabe? Mas quero desde já dar-lhe a minha atenção toda no que bem precisar, porque o que vier de si, sei vir sempre por bem.

Olhe, se a gente vive já alguns anitos com os «duodémios» que o Senhore Meu Presedente quer agora dar aos governados, eu não vejo porque é que eles, que afinal são todos filhos de Deus, porque é que esses senhores não querem e dizem não conseguir viver assim.
Nós cá em casa de fartura só conhecemos aquelas que comemos na Feira de São João, portanto porque é que eles não podem também?
António diz que é como uma promessa a Fátima, há que esfolar os joelhos para prova de bom nome e honra e diz que se os governados se quiserem dar ao respeito da gente, vão para casa até ao ano que vem e só voltam aqueles que a gente quiser e escolher com democrátia.
Nós já apertamos o cinto há muito tempo e podemos apertar mais se o Senhore Meu Presedente quiser, que dos governados o meu marido diz que só a Divina Providência é que há-de saber quem merece a estima do nosso povo e do Portugal.
O padre da freguesia, homem novo e com dedicação às nossas gentes, disse na última missa que «a montanha tinha parido um rato em Julho».

Não entendi bem como é que uma coisa tão grande pode parir outra tão 'loisa' mas olhe que eu pego na vassoura se for preciso para matar outro que por aí venha, porque quero desde já dar-lhe a minha atenção toda no que bem precisar, porque o que vier de si sei vir sempre por bem, que António diz que Deus fez-se para os que não têm nada e a República para os remediados.

quinta-feira, dezembro 02, 2004

À procura da Suíça com meias até ao joelhos

- Vou fazer as malas - como é que estará lá o tempo? - Nhaaaa……..
Levo uma muda, afinal vou e volto!
Saí de casa entusiasmado com a ideia: uma paisagem magnífica de montanhas e lagos de azul opalino a invejar o céu de Sesimbra.
Quem lá foi diz nunca mais se esquecer das cordilheiras imensas que os braços bem abertos não conseguiam abarcar e da brancura lunar, extensa e vivaça como num dia de eclipse perfeito.
Fiz dois quarteirões com a saca, o casaco ao ombro e mentalizei-me para o exotismo da viagem, nada perigosa ou extraordinária, afinal não ia subir os Pirinéus (satisfaz-me a modéstia das vilas rasteiras como as gentes, ao que parece soberbas obras vivas da arquitectura italiana).
Sou um tipo 'terreno', sou de aventuras calmas e 'domésticas'. O mais alto a que fui até hoje e que me aproximasse dos 'anjinhos' foi na Serra da Estrela e lembro-me que estava tanto frio que o sangue gelava-me. Quedei-me inerte a semana inteira, amordaçado em mantas ‘ovelhinhas’ e encafuado numa cave de pedra e madeira. Aí, com as pontas dos pés em banho-maria e nas brasas, os pés e quase as pernas todas enfiadas no lume de uma fogueira digna de Demos que fazia dois de mim em largura e um em altura.
- Estava tanto frio… bolas!
Passei esses dias todos 'domiciliário' à cabana - preso que me vi pela neve enxarcada e o frio calcinante lá fora - que era uma genuína toca de urso, tão rústica e primitiva se fazia ao meu conforto. O que me valeu à alma gelada foram as abençoadas ovelhas tecedeiras do meu manto e leiteiras preciosas para a fome, que nunca me vou esquecer do aroma e paladar inconfundíveis.
Era suave e requintado por demais e nem parecia que as ‘bichas’ vinham dos montes e vales cobertos de pinheiros, mimosas numa profusão de pastos. Vinham do paraíso verdejante para a ‘chafurdice’ do curral e aí criavam esse milagre denso e amanteigado que era uma festa para os sentidos, mesmo duros como pedra pela baixa temperatura.
A semana toda com as 'patas' no fogo e a boca na pasta mole e amarelada de crosta lisa e fina. Os dois à lareira e enfiados em vime e trapos para aquecer o corpo, mas ele, o prodígio, exalava um aroma tão intenso que me estalava a boca só de pensar no sabor do cardo dos matos e tudo o mais que a serra brava tem de estimulante.
As grandes portas de vidro abriram-se à minha passagem e mal entrei fui abordado para o check-in, onde me pediam a saca para poder passar a cancela em roleta e aceder ao grande átrio.
- Attention Messieur! És que vouz me peux donner son sac?
- Bien sur Madame!
- Merci et au bien tout Messieur!

Eu achava que a língua predominante era o alemão, mas não faz mal, ainda arranho um pouco de francês.
Dali já não podia voltar atrás e restava-me invadir aquele salão brilhante e sem forma à vista tão imenso que era.
Dou uns quantos passos e confirmo a mestria e o engenho italiano nos géneros de massas secas e frescas, com ovo e sem ovo, de todas as formas e multicolores!
- Geniais estes italianos!
Não lhes conseguia avistar o fim e só me ocorreu que um teleférico agora é que dava jeito para aquelas cordilheiras de prateleiras.
Continuo e mais à frente dou de caras com o afamado chocolate, o 'divino' para absolvição de todas as maleitas e carências. Exímia preciosidade muito suave e sensual na volúptia única que proporciona. Derrete-se em nós e a seguir desfazemo-nos nele.
- Magnífica criação de Deus!
- Mas onde é que ele está?
Talvez se procurar a menina de trancinhas e mini-saia rodada de folhos de linho e meias de lã até aos joelhos, sexy como o 'caraças', talvez ela me leve a ele. Só pode!
Ergui o corpo e espetei as orelhas. Nada à vista. Tomei a iniciativa.
- Olareiuuuuuu! Olareiuuuuuu!
Estiquei novamente as orelhas … Nada. Só o ruído metálico e o chinfrim dos carros e pessoas chamando outros carros que traziam por si mais pessoas.
- Teleférico? Menina? Ele? Nada!- nem as cabrinhas...

Caramba! Ao menos isso sempre compunha a decoração para o evento.
De repente, 10 passadas à frente, dilataram-se-me as narinas, apertou-se-me o coração da memória do aroma acidulado e intenso. Rejubilei.
- Cheguei! - encontrei-o de certeza que me cheirava a leite salgado e aromado do tojo agreste dos Alpes.
- Deve ser ali - ali ao fundo entre aquela multidão tão juntinha que parece chorar de felicidade por vê-lo.
Lancei-me ao seu encontro de nariz no ar e sentidos excitados, afastando hábil mais carros e atalhando os caminhos pelos corredores profundos amparados pelas prateleiras majestosas.
Não me contive e na alegria fui em passo trotado e gritando:
- Olareiuuuuuu! Olareiuuuuuu!

Lá estava ele, como há 4 anos naquela caverna de urso, sossegado e branquinho mas sem palidez e a olhar para mim como que satisfeito de me ver.
A sua candura conquistava qualquer um. Seduzia-nos a contemplá-lo inocente e ficava-se embeiçado só de vê-lo acamado por entre as alfaces frescas e com vestes simples de um axadrezado verde.
O meu queijinho da serra tinha-me levado à Suíça para se exibir orgulhoso do Prémio de Notoriedade e Qualidade Certificada?
Não...

Deixei orgulhoso o "Pingo Doce" com o 'jeitososo' debaixo do braço, o casaco no outro e com a melancolia da tumba espessa e escura, da aldeia gelada no sopé da Serra da Estrela e a lembrança abeirada ao lume, quente e embrulhada em mantas 'ovelhinhas' e com a menina suíça de meias sexys até aos joelhos, bem junto a mim.
Saí com a saudade e os sentidos amanteigados pelo queijinho, ambicionando um dia ir aos Alpes suíços procurar a menina e levar-lhe um bocado do 'virtuoso' para ela provar!
- Olareiuuuuuu! Olareiuuuuuu!

quarta-feira, dezembro 01, 2004

O futuro próximo está à nossa demanda e a sua moralidade por nossa conta e risco!

O GOVERNO CAÍU!!!!!!!! Não caíu de uma cadeira porque o título lhe saíu na rifa de uma jogatana 'durense' bem esgalhada, mas foi de trombas ao chão, ai isso é que foi!
Caíu! Estatelou-se mais as suas 'legitimidades' bem redondo no chão!
Não m'lixem, não há retórica, desculpa ou discurso politicamente correcto que contrarie esta verdade e fatalidade que só significa: LOGRO e BORRADA do staff de Pedro Santana Lopes.
Uns dizem que ficámos mal, eu direi menos mal com certeza.
É um atestado de incompetência política assinado à cabeça por Sampaio mas também uma lição aos cidadãos deste país que se divorciaram da participação cívica e consequentemente dos seus direitos à honestidade e integridade democrática de quem elegem para seus representantes.
Uns dizem que isto é uma 'fantochada', eu direi que pelo menos o futuro próximo está à nossa demanda e a sua moralidade por nossa conta e risco!