domingo, dezembro 26, 2004

Não admira, os americanos também têm o prémio para o mais mal-vestido...

O que é que pode ter Durão Barroso em comum com a fadista Mariza? Talvez o gosto e fascínio pela magistral ópera de Verdi, a Aïda, porque não sei de que lhe serviriam os pulmões fortes da fadista se à janela de São Bento já não lhe interessa defender suas causas.
E com o escritor José Saramago, mentor de outras utopias e cujo instrumento filosófico e divulgador (impresso) está acima de qualquer disciplina de tratados e convenções para o testemunho eterno?
O intelectual dispensa à sua manufactura as vocalidades especiais - a sua caixa de ar mora no cérebro e na imaginação que gera - e até arrisco dizer que não lhe será porventura essencial a qualidade estética do papel como uma garantia para o alcançe da clarividência da sua mensagem, como registou o presidente da comarca europeia aquando da sua apresentação aos escritórios em Bruxelas.
Durão Barroso, como político de iniciativa, não se fica pelo empreendimento condominial e deseja atingir a monumentalidade de Siza Vieira no alargamento da comunidade a 27 países.
Com engenharia política esboça um Guggengheim europeu que edifique os grandes princípios convergente das suas nacionalidades e arquitecte a grande ponte para a islamização da Europa racista.
Porém, não se faz obra - por mais nobre que seja - sem técnica do argumento ou desenvoltura de comunicabilidade, seja ao gosto das elites ou dos cidadãos.
Como Manoel de Oliveira, ajusta-se a Durão a consistência académica e o ideário comprovado no seu berço político para a estilização adequada da sua epopeia, porque ninguém pode negar - mesmo que genialmente entediante - que o cineasta tem um nacionalismo puro e duro gravado nas suas películas.
Ainda assim, não sei se será competitivo o suficiente para as quotas multiculturalistas e económicas que pretende atingir, mas se Luís Figo soube chutar a bola e marcar cifras, quem sabe...
Personagens intrinsecamente estranhas ao aposentado ministerial, mas não seja por isso, sempre podemos recordar a frágil e chocada Ana Gomes na sua sindicância por terras timorenses, que também como Durão acreditava nos valores da civilização sobre os valores da barbárie.
O que é que estes rostos conhecidos têm em comum com o tão repetidamente citado para a feitura de tão inusitada prosa?
Nada e uma coisa.
Nada, na certeza de ele está longe dos valores concretos dos outros que sugeri (pelo menos até à data) e muito no que lhes é concordante e já foi reconhecido.
Mariza, José Saramago, Siza Vieira, Manoel de Oliveira, Luís Figo e Ana Gomes foram os últimos galardados pela AIP (Associação de Imprensa Estrangeira) como Personalidades do Ano pela excelência e referência mundial portuguesas.
Com a ingratidão de seleccionar anualmente neste país imenso e fértil quem pela sua actividade promove visivelmente Portugal, esta organização distinguiu José Manuel Durão Barroso, enquanto político, ex-Primeiro-Ministro e Presidente da Comissão Europeia, como o Ideário Nacional para 2004.
- O que é que importam estas personagens intrinsecamente estranhas e rostos conhecidos que nada têm em comum com Durão Barroso para a feitura de tão inusitada prosa?
- É melhor não perguntarem...