segunda-feira, dezembro 13, 2004

Às vezes dói-me a loucura desta escrita insana…

O trabalho aproxima-se do fim e começa o verdadeiro ócio, puro no que lhe significa a vadiagem e o vagar pelo pensar etéreo mas preguiçoso à paragem merecida, que essa mesmo, talvez só nos micro-intervalos deste pensar alucinante e viciado que varre o meu cérebro.
São horas sobre horas matraqueando as sensibilidades estetas, as que tenho e as que se não tenho já devia ter, todas em laboração contínua e espremidas para um ecrã digital, um pretenso mediador milagroso para o entendimento entre um génio das letras e um ingénuo letrado.
Um cozinhado de letras e letrinhas de todas as cores e feitios decoradas com riscos e mais risquinhos, tudo na garantia de que ninguém se entedie com elas e não vá ‘a porca torcer o rabo’ sempre é melhor jogar pelo seguro e polvilhar o ‘dito pelo não dito’ com fotos e mais fotozinhas.

Temos que reconhecer que nestes tempos imediatistas as palavras só por si – por mais ajuizadas ou científicas nos pareçam do conhecimento – não nos cativam e muito menos nos importam se não estiverem diplomadas pel’A imagem ou a ‘fronha’ do ‘tipo’ que as opina – de preferência a cores que só a miséria do mundo é que se quer a preto e branco.
(Sim…, hummmm….., não. Preciso editar, hummm…. Posso dizê-lo assim?)

Bizarro, no mínimo bizarro. 12 Horas neste diz-se que foi e escreve-se para vir a ser depois, para quando o trabalho se aproxima do fim e começa o verdadeiro ócio, vadiar com prazer diletante nesses pós-escritos impressos, que o dia só se satisfaz quando a literatura matutina começa a morder o rabo das obrigações rotineiras até as engolir e se desvanecerem na noite para dar espaço ao novo dia que começa, num vagar perfeito pelo pensar etéreo.
O dia a sério, não o dia do sol despontando nos telhados cinzentos da rua ao compasso do galito-tenor do vizinho ou do jornaleiro do quiosque que mais parece um cangalheiro, tanto é o ferro e o ferrinho que bate em lata e vidrinho.
Sempre achei aquelas mãos verdadeiramente mágicas, que quando menos esperava, da caixa minúscula e incaracterística surgia uma nave.

Fazia-se de repente ao céu uma autêntica sala de teletransportação - brilhante e versátil - para 2 ou 3 pessoas lá dentro, tantas quanto as que aquela tecnologia dispensava ao jornaleiro, agora único timoneiro e cosmonauta solitário.
O meu dia é uma antítese temperamental.

É avesso tanto à actividade cerebral como ao repouso crepuscular do mortal comum.
Enquanto esses despertam com energias renovadas estou eu a abraçar o pousio, e, quando já eles caíram no leito, começo eu então um dia novo.
(Sim…, hummmm….., não. Preciso editar, hummm…. Posso dizê-lo assim?)

Sou noitibó, ave nocturna. Sou noctívaga e seduz-me essa libertinagem própria do que a noite reserva para o meu deslumbramento e representa com justa causa a quem não se revê em doutrinas ditantes do espaço do tempo no tempo de cada um.
Não há tempo-espacial na noite, não pode, essa é como o pensamento quando voa para longe.

Passa a indifinível e indetectável nos seus limites por suspenso que se torna.
A noite, por ser o fim do dia, principia o hiato absoluto de tudo o que é livre e posso determinar.
Bizarro, no mínimo bizarro. 12 Horas depois e estou a embriagar-me com a literatura matutina dos pós-escritos impressos dos outros - que a minha lida não é a doméstica, v’alha-me deus - e não me revelasse eu viciada na leitura e na escrita, que prefiro à noite, essa nocturna totalmente minha.
Sou ave noctívaga, senhora e rainha do céu da noite livre e das ruas vazias, exclusivas para fruí-las doentiamente no seu crescer muito suave e perene que só dou pelo dia dos outros quando os grandes iluminados dos dias começam a aparecer histéricos e doentes de ponto, devassando toda a traquilidade da cidade sobre rodas.
A cidade entra pelas janelas adentro e toma conta de nós crescente e trepante. Começa por inspirar e como senhora caprichosa que é, logo exige que se leia, escreva e se escreva entre uma leitura ou se leia entre uma escrita. Cobra impiedosa e sufoca até estar saciada.
Não satisfeita estes anos todos com o papel riscado e guardado em caixotes, apresentou-me um dia um tal de blogg, que além de presunçoso teima em convidar-me para tertúlias de todo o género e feitio.
(Sim…, hummmm….., não. Preciso editar, hummm…. Posso dizê-lo assim?)


Desconfio que me droga com qualquer coisa que ando com um pensar alucinante e viciado que se me varre o cérebro.
Depois de horas sobre horas matraqueando as sensibilidades estetas, as que tenho e as que se não tenho já devia ter, só assim me satisfaço.
Leio, escrevo, blogo, leio, blogo os dos outros, leio de novo e escrevo para outra vez blogar o que li. Bolas!!!!! Isto é labiríntico?
Estou na noite exclusiva e no trabalho as tarefas aproximam-se do fim. As mesas começam a arrumar-se umas com as outras, aprontam-se engolindo papéis para dentro das gavetas, cuspindo canetas e clipses para os receptáculos apropriados.
Sacodem-se leves agora que os papéis estão já dispostos em pilhas perfeitas, as máquinas já se desligaram e fazem todas fila para saírem ao mesmo tempo, umas atrás das outras - mesas e máquinas - que as tarefas estão a chegar ao fim e chega a lida de frustrada escrevinhadora - que a minha lida não é a doméstica, v’alha-me deus.
(Sim…, hummmm….., não. Preciso editar, hummm…. Posso dizê-lo assim?)


A minha é a bloguista e que obriga que venham outras por defeito: leio, escrevo, blogo, leio, blogo os dos outros, leio de novo e escrevo para outra vez blogar o que li.
Saíram as mesas e as máquinas em ordenada procissão e eu fico, eu que começo o meu dia.

Ainda vou a meio do jornal e já no fim dos mails que antecedem a ronda à blogosfera que nunca pára - nessa o dia não tem noite que as 24 horas nunca lhe soam na torre.
As ruas vazias, no seu crescer muito suave, anunciam a noite mas como o meu dia é uma antítese temperamental ao mortal comum, este ainda mal começou e sinto que quero escrever - não sei bem o quê - mas sei que tenho qualquer coisa para dizer e a seguir escrever.
Ainda não acabei o jornal e lembrei-me às páginas tantas de que 6 notícias atrás uma fotografia do Sudão me violentou a seguir à página 12, sem que contudo na 30 não se me acelerasse o sentimento, pois era quase atropelada pelo Bush em campanha, a 280 á hora na página 44.
Escapei-lhe na página 50 por pouco mas de nada me serviu aquele gourmet sublime porque logo da 18 me lembrei outra vez - com a Palestina sobre fogo - e nem a folgada banda desenhada ‘calvinesca’ da última me aliviou.
Nada naquele jornal me sossegou o entendimento do mundo, o sentimento amachucado pelas Joaninhas ou a revolta pela intolerância devota de alguns senhores-políticos, activistas e amestrados ‘anti-aborto’ que sentenciam arrogantes do alto do púlpito de uma colunazinha para mulheres presas à própria vida em rodapé.
O trabalho acabou, sairam as mesas, as máquinas em ordenada procissão e eu fico, eu que começo o meu dia.

(Sim…, hummmm….., não. Preciso editar, hummm…. Posso dizê-lo assim?)

Ainda vou a meio dos mails que antecedem a ronda à blogosfera que nunca pára - nessa o dia não tem noite que as 24 horas nunca lhe soam na torre.
Ele ainda mal começou e sinto que quero escrever - não sei bem o quê - mas sei que tenho qualquer coisa para dizer e a seguir escrever.
Ainda não acabei o jornal e lembrei-me às páginas tantas de uma fotografia do Sudão que me violentou a seguir à página 12, sem que contudo na 30 não se me acelerasse o sentimento, pois era quase atropelada pelo Bush em campanha na página 44.
Apetece-me um café de sabor incaracterístico e horroroso da única máquina que ainda não saíu com as outras e que nessa frustração de abandono me convida para um cigarro puxado do fundo dos pulmões que logo salivam, que me queimam o sabor difícil da escrita e fumam-me a sua ansiedade.
O cigarro expectante ainda eu não enrolei e já os pulmões lhe pedem a vida que ainda agora começou.

Eu nem por isso dou e essa arde-me os olhos, a escrita que sinto a fluir, viajada e ouvida no jornal que ainda vou a meio e ainda me falta o livro para acabar de ler que não posso de doida e exausta que esta cabeça é um cozinhado de letras e letrinhas de todas as cores e feitios com riscos e risquinhos, papel e números, sem perceber onde começo eu e acabam os outros que vejo, leio e começo entretanto a escrever.
Penso e assusto-me, tenho medo de não ser a cores - que só a miséria do mundo é que se quer a preto e branco.

Da miséria todos se querem ver longe dela e se quando eles caiem no leito começo eu então o meu dia, que a escrita me cobra impiedosa e sufoca até estar saciada, então penso e assusto-me que no mínimo é bizarro.
Desconfio que me droga qualquer coisa porque penso os outros, escrevo o blogg presunçoso que me martela os neurónios e desconfio das intenções deste ecrã digital, um pretenso mediador milagroso para o entendimento entre os génios das letras e os ingénuos letrados.
(Sim…, hummmm….., não. Preciso editar, hummm…. Posso dizê-lo assim?)


Cansa-me os olhos o Virtuoso, o melhor google que não precisa de password nem de enter algum porque trabalha sozinho, pensa por si, queima-me o sabor difícil da escrita e fuma-me a sua ansiedade.
Tenho sede. Levanto-me e bebo água.
Que bom! Que secura tinha! Preciso de mais água…
Nisto já entornei um bom bocado de água que limpei a seguir com as costas das mãos num gesto masculino e rude – rude, porque sou mulher e sei que não me expresso assim - limpei os pingos sobre as folhas que eu escrevia, sempre teclando a cabeça, martelando a cinzel com os dedos e as mãos a doerem-me, os dedos a pesarem-me e a vista cansando-me até deixar de a acompanhar com a cabeça que agora anda a 200 á hora com o Bush à frente.

Escrevo. Escrevo até mais não e não fosse apagar o cigarro que nunca me lembro de ter fumado e já me queimar os dedos e a secura da boca, se não fosse ele não parava com a cabeça que escrevia.
Blogo e assusto-me, porque sem parar bebi água e quando voltei saciada às folhas senti medo. Um medo esquisito porque expressava loucura.
Sem perceber onde começo eu e acabam os outros que vi, li e entretanto escrevi.

Paro, respiro fundo e olho para as folhas.
Conto-as: 10, 20, 30, as suficientes para lhe perder a conta. São folhas na mesa, na cadeira, tantas que não percebo qual é a primeira ou a última, mas esforço-me, e vejo que comecei com as folhas na água e acabei escrevendo na água e ela um rasto de escrita nas folhas.
Olho para ler. Leio melhor para perceber. Reparo que a tinta acabou e mudei para outra caneta que agora é de tinta vermelha (estarei ferida?).
Lembro-me que a caneta tem uma semana e reclamo durar pouco - duram cada vez menos..

Olho novamente e leio.
Leio para perceber e não vejo nada mas parece-me escrita e imensa o que lá verte líquido. Tanto papel, tanta tinta, tanta água…
A escrita entrou pelas janelas adentro e alagou-me trepante e oceanática e não satisfeita nestas folhas todas e d'Virtuoso, o melhor google que não precisa de password nem de enter algum porque trabalha sozinho, pensa por si, também me quer a mim, talvez escrever com o meu sangue em mim…
Solto um riso em minúsculas e olho em volta em maiúsculas, como que envergonhada não fosse estar sozinha.

(Sim…, hummmm….., não. Preciso editar, hummm…. Posso dizê-lo assim?)

Tola! Tola!! Ah! AH! Ah! Ah! Tola. Estúpida. Estúpida.
Não percebo nem ninguém podia compreendê-lo se ali não estivesse sozinha.
São folhas e folhas de riscos e riscos por todo o lado enxarcadas. Riscos que suspeitam um gesto da esquerda para a direita e de cima para baixo, mas que não têm nada da escrito ou pelo menos algo que se possa ler.
Não se configuram como caracteres de um alfabeto qualquer. Não se vê nada nem se lê alguma coisa que aquilo é loucura.

É um electrocardiograma do meu blogg interno, o Virtuoso, o melhor motor de busca onde os neurónios teclam sozinhos sem password ou enter.
Tenho medo, eu sou noitibó, uma ave nocturna sem filtros para se defender e o meu blogg é a minha sentença de morte! Virá a loucura? Corro o risco do colapso androidano do meu próprio blogue pessoal?

D’O Virtuoso?
Dói-me a mão e a boca seca-me. Vou parar que estou exausta e a vista turva-se-me.
(Às vezes dói-me a loucura desta escrita insana... )