sexta-feira, outubro 21, 2005

Uma emoção tão inesperada quanto ALICE no cinema!(*)

Disfarçada pelos verdes do pilar translúcido da Wireless Internet Zone e da pigmentação de uma Aucuba Japonica, bem no meio do parágrafo sagaz das «figuras miseráveis a observar-nos, com olhares que iam da curiosidade ao temor e, num ou outro caso, à cobiça» surgiu-me o inesperado.
Estava recostada e contrariando todas as regras da "anatomia-sentada" numa palhinha do Monumental quando invade-me o quase metro e meio íntimo (uma teoria sobre a Espacialidade Íntima que cada um de nós arrasta no espaço físico que ocupa) a presença alteada de Nuno Matos.
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- Alice! O pai de Alice! - Foi tudo o que fez eco em mim e desejei reproduzir em sentimento, mesmo perante as palavras perturbantes que ocupavam a Barcelona da leitura.
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Descaradamente sorri e nem me levantei tal era a obstinação. Chamei-o a mim num timbre tímido que só reconheço quando a voz é vítima da espontaneidade descontrolada e sem preparação para estranhos, como no ano passado no fim da conferência de Paul Auster na Fnac e com o seu último livro tão presente na memória como este preciso momento blogosférico.
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- Desculpe-me... Sei que já tem 6/8 meses para si, mas eu vi-o há 15 dias e, permita-me... Adorei, gostei muito, muito mesmo... - Aqui não se nota mas foi um autêntico gagueijo vocálico.
- Obrigado.
- Gostei muito. Desculpe-me. - E lembrei-me que não permiti a ninguém dos meus que "fizessem que não soubessem" ao ponto de minha mãe sair aflita do cinema para ligar o telemóvel e dizer-me que «Nunca, nunca mais, recusarei um papel na rua. Que nunca mais violentarei alguém com a minha indiferença à sua abordagem»... - Desculpe-me, gostámos todos muito... muito mesmo. A minha mãe até ficou envergonhada com os outros que não quis ler na rua...
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Nuno Matos anuíu com a cabeça, deu-me o que pareceu também um desejado agradecimento e um sorriso de simpatia. Inesperadamente, debruçou-se com amplitude sobre a mesa e sobre a teoria do americano que já não me lembro o nome e onde eu continuava recostada:

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- Muito obrigado... pode ser que algum dia a conheça - Disse-me.

- Obrigado... - Respondi-lhe e afaguei o livro aberto entre as mãos.
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O actor despediu-se e propus-me a mais 20 minutos de leitura. Não consegui. Quedei-me sensibilizada pelo ambiente concentrado que se gerara de repente entre todos: o pai da Alice, a atmosfera da flora que faria inveja à Scheflera lá de casa - que mais parece mirrar de tristeza do que crescer arrogante já que rainha daqueles domínios - e eu, na representação de quase 20 mais que se perturbaram sem tomar bem a dimensão do transtorno do pai da Alice, de Marco Martins.


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(*) Isto é o que vos posso contar sobre Alice e Eu. O mais, terão que ir vê-la...