domingo, outubro 02, 2005

Sexo-Expresso (XXVII) ou O sexo adaptado

Adaptar as modernas tecnologias - como a realidade virtual - para o sexo stressado da modernidade. Curá-lo ou, pelo menos, tentar suavizar as suas contrariedades face aos novos desafios, poderia ser um novo processo terapêutico da Psicologia.
Como adaptar o sexo "antigo" à sexualidade moderna?
A ideia começa precisamente na mesma sala comum a qualquer consulta de psicanálise e onde o paciente aguarda o médico num confortável divã, só que agora na presença de uma parafernália de peças e fios ligados a um pequeno monitor.
O tratamento consiste em obrigar os pacientes a recordar as suas experiências eróticas como sempre o fizeram no passado recente, mas que hoje se bloqueiam e expressam através de emoções brutalmente perturbadoras e negativas onde as coisas aparentemente simples já não o são (como chegar a casa primeiro que a mulher e jantar sozinho e em silêncio com os filhos que não entendem a sua melancolia; tomar banho sem que a voz feminina lhe sugira uma erecção quando pergunta lânguida se ele precisa que lhe chegue alguma coisa ou visionar uma matiné da TV deitado sobre o sofá e onde o corpo só sente a dureza do comando ao invés do calor e peso das pernas ao lado que se estiram sobre ele).
As exigências da vida moderna redimensionaram as necessidades íntimas dos homens e das mulheres e (des)estruturaram-nas para partilhas amorosas quase impossíveis porque os intervenientes - os amantes - continuam com a sua dimensão afectiva tradicional e "à antiga" mas numa nova dimensão temporal - a do imediato.
Para combater os inevitáveis recalcamentos e entraves nas relações, os médicos recorrem a imagens encenadas da hipotética comunhão doméstica "perfeita e harmoniosa" e confrontam in loco as desordens do stress pós-traumático sexual.
Nos dias de hoje temos que nos reajustar pessoal e eroticamente quando pressionados pela velocidade em geral da sociedade. E, para o desempenho de uma sexualidade sã, não só é difícil como não está garantida uma vida íntima sem depressões, insónias, ansiedade ou desordens de comportamento social mais perigosas.
A experiência da virtualidade é, pelo menos numa coisa, inovadora na medida em que se pode identificar o trauma do paciente em concreto e com objectividade. Mais que identificá-lo imediatamente nos filmes que se passam, pode-se também verificar na própria experiência as verdadeiras alterações emocionais e fisiológicas porque passa o paciente quando confrontado com a contrariedade em questão.
Não se faz nada de novo em relação aos métodos clássicos da psicologia: desenterrar memórias latentes e aparentemente passivas, só que com novos instrumentos de trabalho. Além disso tem vantagens porque dá mais precisão à importante primeira fase do tratamento que é a recolha rigorosa dos dados para interpretação médica.
Com os homens - em particular - talvez seja mais fácil encarar os seus estigmas e virilidade de "macho" posta em causa. Pô-los a falar e encarar com o médico aqueles dramas que todos conhecemos (ejaculação precoce, impotência temporária, etc) e nunca eles.
Usamos a tecnologia aliada à pornografia como terapia da psicanálise. Isto é só ficção, mas que os homens andam tristes... Ai se andam....
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«A mãe fala mas ele não a ouve.
Está concentrado a olhar Jesus que está desde sempre crucificado sobre a porta da cozinha. Não reparava nele há tanto tempo...
Lembra-se de com doze anos descer a escadas a meio da noite e vir masturbar-se silenciosamente em frente ao divino corpo desnudado.
Agora a olhar para a familiar estatueta pergunta a si mesmo se o desejo que sente pelo miúdo se qualifica como pecado na sua 'escala de valores cristãos adaptados'.
Aqui está ele, finalmente, a sentir-se ridículo.
A suportar duas horas semanais de pura tortura física, moral e intelectual, a falar de Kant e Hegel e mal se atrevendo a levantar-se da secretária com medo de ser traído pelos súbitos ataques de tesão que lhe dão cada vez que se descai a olhar para ele, Olhos de cão.
Quase se sente cientificamente curioso por ver a sua própria reacção quando ele finalmente falar na aula e lhe fizer perguntas.
(...Não mãe, obrigado, não quero mais batatas.)
Depois do medo que lhe surgiu na adolescência de se ver casado, com mulheres e filhos a morar em Massamá ou no Cacém, seguiu-se o medo de se ver 'junto' com 'ele' a passear caniches na praia.
Agora cresce-lhe o medo de se ver no cimo do Parque, com 40 anos, a levar miúdos para casa.
Sim, pai, o que é que eu quero da vida?
(Não mãe, estava óptimo, não tenho é muita fome. ...Sim, estou bem. Estou. ...Não, não tenho ido ao médico, estou óptimo, porque é que havia de ir?. ...Ouve, se começas outra vez com essa história da SIDA é melhor eu ir-me embora... Não, não tenho nenhum namorado novo... Não, não quero mais batatas.)
Oh sim pai, sabes 'muito bem' o que é que eu quero...»
(Excerto de "Olhos de Cão")

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

http://www.indiadaily.com/breaking_news/42525.asp

20:10  

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