sábado, setembro 24, 2005

Dias de assim II

As prioridades e o marasmo(*)
O sentido de prioridade nacional segue critérios próprios das metas politico-partidárias dos governantes e raras vezes os da insuficiência nacional (por ex: 40 000 professores no desemprego) ou quase colapso pátrio (por ex: 1/3 da mancha florestal do país queimada).
Sim, infelizmente raras vezes os objectivos deles (dos políticos e dos governantes) convergem com as expectativas dos indivíduos sociais que os elegeram tanto em instâncias privadas ou públicas. Nos partidos 'organiza-se' quem se destacou anteriormente na esfera pública e neles se desenvolvem como líderes de representação ideológica para o retorno ao mesmo universo exterior.
Não sejamos ingénuos como a frase oca e repetida por muitos de que «não sou de nenhum partido». Sempre que há eleições qualquer um de nós vota em consciência e em simultâneo numa função/cargo público e numa tendência ideológica/representação partidária.
Nenhum eleito escapa à nossa constatação de quando lá esteve, ora agradou aos gregos e não aos troianos, ora agradou aos troianos e não aos gregos (categorias onde o "poveco" tem sempre dúvida sobre se alguma vez lá esteve incluído).
Cavaco Silva modernizou as vias de comunicação implementando o que tardava há 30 anos e que não havia como não implementar: quase todos os IP's, IC's e Auto-estradas que Portugal conhece hoje e possíveis graças à Europa subsidiária.
O túnel da CREL derrocou por mais que uma vez, mas o que isso interessa. Pelo menos temos túneis!!! Temos túneis de péssima qualidade por todo o país, mas temos túneis, IP's, IC's e Auto-estradas!!!
Com Guterres, a novidade terá sido talvez a integração europeia ao nível do sentimento e brio português. O José Gil bem lhe pode agradecer, senão como poderia sentenciar cáustico sobre a falta de auto-estima portuguesa (um tema seu preferido) depois da guerra colonial ou da ditadura de Salazar toda explicada e assumida individual e oficialmente?(**)
De Durão Barroso não houve tempo para descortinar e Santana Lopes limitou-se a ser uma alavanca de ideias inacabadas e sobretudo para intervenção e promoção política. Ou projectos continuados (dos seus antecessores) à laia da porra e tão abstractos e inquinados como a recuperação da baixa de Lisboa, o túnel do Marquês e Alcântara. De qualquer modo, tudo sem deixar memória concreta e qualitativa, bem como a sua própria governação.

Nos poucos meses que por lá andou, nunca foi claro se estávamos perante o Primeiro-ministro ou o presidente da Câmara. Desconfio mesmo que o próprio Santana não tinha bem claro quando era uma coisa e quando era outra.
Então, o sentimento de prioridade nacional configura dois sujeitos: os outros, os políticos e governantes, e nós, os que não os deixamos de eleger para nos esquecerem a seguir.
Ora, quando esta ordem de necessidades é continuamente a dos outros (por ex: o regresso de Fátima Felgueiras e a recepção local e partidária como se de D. Sebastião se tratasse), o marasmo instala-se e simplificamos a nossa capacidade de reacção e sensatez ao que nos é exterior em dias de assim.
Dias assim como nada e assim como tudo!!!!! Dias de assim...
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(*) Marasmo: (s.m.) sinónimo de atonia, debilidade, extenuação, inacção, indiferença, estagnação, imobilismo. Enfraquecimento extremo das forças morais, caracterizado pela apatia. Falta de actividade.
(**) Há um novo livro seu à venda. Uma espécie de crónicas que intersectam (o José Gil não cruza, mas INTERSECTA!!) estética e arte social. Eu passo!