A Europa que quer ver todos os seus concidadãos equiparados em currículo, mesmo que não seja apetência cultural ou conhecimento sedimentado
Não é uma operação exclusiva destes órgãos públicos, até pelo contrário.
A FISCALIZAÇÃO faz-se em todos os organismos e empresas públicas ou privadas, e ergue-se logo que qualquer projecto/serviço ou acção contínua dos mesmos tem início.
Por exemplo, só nas câmaras os FISCAIS MUNICIPAIS percorrem - concertadamente - toda uma série de sectores públicos que abordam desde os nossos hábitos públicos aparentemente mais simples (fruição de zonas verdes, conservação e defesa do património municipal, espaços e práticas comerciais ou a segurança pedonal e do tráfego), aos mais complexos e privados (lares ou centros de 3ª idade, licenciamentos ou alvarás na generalidade, cemitérios e saúde pública).
É pela evidente lista imensurável dos campos sociais visados nas acções de fiscalização e a especificidade que os seus "entretantos" implicam que, à partida, seria de esperar que a formação dos profissionais implicados fosse, no mínimo, o mais abrangente de "ismos" sociais que estão em causa (como legislação, pedagogia, clínica geral, código da estrada, etc.)
Claro que esta complexidade cognitiva não precisa chegar à formação académica porque existem estruturas próprias para esse encaminhamento e tratam-se de assalariados de baixo escalão.
Comprende-se por isto (o resto não interessa ser para aqui chamado) que nos concursos de Admissão para cursos de Formação para Fiscais Municipais das câmaras esteja consignado, por exemplo, a habilitação do 12º ano de escolaridade.
No entanto, em relação ao conteúdo da Prova de Cultura Geral, a lógica parece estar fora do entendimento prático e comum que as acções de FISCALIZAÇÃO possam implicar. Bem, sejamos honestos, o pragmatismo mais difícil que estes agentes (os fiscais) possam encontrar, não passa evidentemente por leituras quaisqueres (sejam elas os clássicos de Camões ou os Maias de Eça), claro que não.
No máximo poderão verificar-se insuficiências comunicacionais devido a bloqueios naturais de cultura e, no máximo dos máximos, os inspectores chamam logo as forças de segurança adequadas para "pôr tudo na ordem".
A Prova de Cultura Geral deste ano consiste no Portugal, Hoje: o Medo de Existir, de José Gil.
Imagino eu que ela (a Prova) exista na mesma medida e ordem de importância que qualquer prática de consolidação(formação) cultural(básica) de um indivíduo ou profissional que presta "provas" de conhecimento.
Faz parte das exigências da cultura de massas de uma Europa que quer ver todos os seus concidadãos equiparados em currículo, mesmo que não seja uma apetência cultural ou conhecimento sedimentado por programas sociais e culturais contínuos.
Mesmo que em Portugal ainda se leia escandalosamente pouco e se constate, na generalidade, o gosto de ler. Ou o gosto do cinema e o gosto de dançar que não está sempre à mão quando estamos fora dos centros urbanos.
Mesmo que tudo o resto cultural e respectivos organismos de cognição (polos culturais, institutos, auto-formação em centros, formação contínua, etc) não tenham pés para andar como já deviam, mas não faz mal...
Nesta Prova de Cultura Geral, podemos ser vaidosos com as reflexões coerentes, mas básicas (porque sem soluções) dos vários sectores da sociedade que, o ano passado, José Gil decidiu "movimentar" por cá enquanto teorias históricas do presente e para o futuro.
Nela podemos praticar o seu solucionismo filósofo e dar "ares" de uma especial lucidez moralista e ética que, com certeza, de pouco ou nada vai servir aos FISCAIS.
Mesmo que em Portugal ainda se leia escandalosamente pouco, não faz mal... pelo menos OS DA ÚLTIMA GERAÇÃO E CURSO DE FISCAIS MUNICIPAIS já leram José Gil (só a sua "inveja e não a vintena de livros anteriores).
Não faz mal, nem para os FISCAIS, nem para NÓS OUTROS, que lemos Portugal, Hoje: o Medo de Existir no arrasto do fenómeno da moda e que vamos todos acabar por reduzi-lo a "uma coisa escrita de um gajo pensado" de que se falou muito e que logo desaparecerá irremediavelmente como qualquer outra obra que se adopta por status quo ou por simples obrigatoriedade e contingência.
Tudo incoerências de uma sociedade que ainda "não sabe existir" plenamente...
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