segunda-feira, setembro 05, 2005

Sexo-expresso (XXV) ou O sexo filial do futebol (2)

Impressiono-me sempre com a cultura futebolista que vê a determinação sobre-humana aos hexágonos pretos e brancos... (bolas, as bolas já não se cozem aos pedacinhos...).
Lembram-se de algum atleta ateniense cobrindo o seu potencial corpo com trapos e insígnias? Não, claro que não! Por isso as esculturas gregas ainda são um fascínio aos mais estetas!
«O Sporting é uma paixão com expansão universal», afirmava emocionado Dias da Cunha pelo Centenário da sua organização.
Bom, talvez nos princípios dos princípios, mas na sua génese... É uma paixão pouco mais que filial e puramente corporativa!
Em parte, até entendo este líder sempre em campanha promocional para a Imprensa e em consolidação desse sentimento expresso dos seus sócios fiéis e familiares.
Quantos vocês não conhecem que gozem destas cumplicidades desportistas (corporativas) com os antecedentes e que tem continuidade nos seus descendentes?
Nem há voto na matéria!
Trata-se de uma herança romântica dos que nos puseram no mundo e devem ter pensado qualquer coisa como «podes não ser nada na vida, mas pelo menos és do...»
O futebol já tem a vocação pioneira de reunir um povo diferente (por indiferenciado de classe) do povo de expressão tradicional, mas não é a única forma de fair-play que pratica impecavelmente.
É também um placebo de filialidade!
Pondo de parte as consanguinidades económicas, a realidade materialista dos dias de hoje só oferece receitas provisórias de riqueza.
As famílias que não tem a riqueza multiplicada por herança sabem que as poucas oportunidades que ainda se vislumbram são constantemente atropeladas. Ora pelos "jurídicos" obscenos do Estado falido e cobrador de impostos avultados, ora pelos financeiros do stablishment de alvará exclusivo e que arrecadaram há muito tempo este país como uma nota de dívida eterna.
Hoje o futuro revela-se estéril... fazem-se filhos e sonha-se que saiam ronaldinhos ou figos na gondôla espermicida.
E, se os filhos não singrarem na escolinhas de futebol das vedetas reformadas ou nos júniores da III Divisão, que não seja por isso que a fé e o amor acabem. Passamos a desejar que esses filhos não contemplados pela sorte atómica do futebol pelo menos nos acompanhem energéticos até às bancadas do sucesso nostálgico.
«Podes não ser nada na vida, mas pelo menos és do...»
É nestes preciosos momentos que o sexo filial se concentra e revela uma estética própria que só a bola da fama permite.
Tal pai, tal filho? Acima de tudo no futebol!
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