quarta-feira, agosto 31, 2005

Propaganda política disfarçada de moralismo?


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Em relação à minha pessoa...
... que é jovem e cuja ética Pessoal só se diferencia da dos progenitores (com mais de 30 anos em cima) nas referências transgeracionais e a ética Individual raras vezes, adquirido que sou - em género - ser a continuidade do que para eles é fundamental numa conduta social e civilizada. Além disso, constituem-se "particulares" na medida em que são indivíduos sociologicamente educados/formados e com consolidação cívica e cultural.
Posto isto, hesito na interpretação do binómio «a sociedade e o capitalismo» que «muitos jovens desprezam» da última crónica de João César das Neves.
Linearmente, SOCIEDADE é a organização sócio-humana dos grupos de indivíduos e cuja orgânica de entendimento global (legitimidade natural e própria) e entendimento hierárquico (decisões legítimas) entre si, configura bases teóricas das tendências sociológicas que constituem os sistemas políticos estabelecidos - como a sociedade do capital, vulgo capitalismo.
Os idealismos de sociedade que o texto propagandeia (por exclusão de partes) são forçosamente a SOCIEDADE CAPITALISTA e só posso interpretar aqui um discurso de direita (tradicionalmente assumida como o motor de desenvolvimento do capital) que, neste artigo, não consegue apresentar mais que o lugar comum de resistência a ideais outros que não os economicistas e os da anti-utopia social.
Este posicionamento vem sempre a jeito na actualidade presente e tão difícil desses jovens irreais (jovens que mais parecem ter saído da década de 40 ou 60) em princípio de vida e a quem só resta mesmo «desprezar» os seus representantes políticos e «ralhar ao mundo com a severidade» com que também lhes ralham diariamente factores intransponíveis da realidade para "evoluírem" na sua cidadania.
Pergunto-me se a economia de palavras (de conteúdo) do professor é natural (dada a sua formação académica) ou propositada porque a pretende para sentenciar criticamente os tais outros diferentes de si.
Quase se pode dizer que João César das Neves é "mais papista que o Papa". Não pelo catolicismo visceral a que nos habituou nas suas crónicas, mas pelo socorro às frases feitas mais redutoras e ignorantemente massificadas:
  • «Nas questões religiosas é onde, normalmente, o moralismo surge com maior intensidade...e sente-se sobretudo nos que se opõem às religiões»
  • «...surpreendentemente, é fora dos temas religiosos que se encontra o maior moralismo. Qualquer defesa da família, da honra, da herança cultural...»
  • «...talvez o máximo de moralismo se encontre, porém, nos partidos de extrema-esquerda... presos num juízo tacanho que os fecha numa visão limitada e rígida»

... Não o desculpo.
Não pela casualidade de ser jovem e, como tal, naturalmente predisposta a contrariar o que à minha imagem se faz velho, sabendo o bom senso que "contrariar" trata-se da primeira reacção natural e que ela não perfilha necessariamente a acção que vem a seguir.
Não pela relação de descompromisso com o seu «tudo» que é demasiado imperfeito e porque me interessa o compromisso ético com a minha «única forma válida de viver» no social e que resulta do encontro entre as expectativas pessoais e as legitimidades do sistema (mas nunca cedências perigosas a qualquer tipo de stablishment!).
Não pela prosa tão astuciosamente rala de meia dúzia de parágrafos que começam:

  • numa juventude irreverente;
  • atravessam o catecismo de abordagem obsoleta (REFIRO-ME AOS PRESERVATIVOS E À SIDA!!!!);
  • continua no adiamento de assuntos urgentes como a ecologia e a globalização;
  • hasteia sem sentido os clichés do totalitarismo vrs marxismo do PCP que sabemos só morde a quem deixa…
  • … e as sentenças e microfones do Bloco de Esquerda, etc.

O professor não está interessado em qualquer tipo de reflexão, mas no exercício sonoro das evidências da «Armadilha do moralismo antimoralista» que só por si dizem nada, como o que aqui refuto e defendo também não é claro no que firma.
Não, não o desculpo de caras!
Não o desculpo com a mesma desconfiança que qualquer bicho teria na surpresa de uma aproximação não natural de um humano, no seu caso a sua Eminência (a da Moratória que só compreendo aos mais lerdos e que não é o seu caso)!
Não, não o desculpo neste autêntico desperdício de espaço de opinião tão fundamental para o cruzamento ideológico das mentalidades sociais e como se de uma carta de leitores sem feed back se tratasse.

Em relação à minha pessoa, não o desculpo porque desconfio que a «sua menor suspeita» sentenciadora sobre o (a)moralismo arbitrário e gratuito dos outros é uma evidência per si.
A constatação de que também o professor João César das Neves não está livre de, «sem dar por isso», encenar a rejeição empírica dessa «caricatura moral» e «armadilha perigosa» para exercer o moralismo de propaganda política.
Se quiser pedir desculpas, peça-as pela evidente subestimação dos leitores e não pelas suas «causas» disfarçadas que «defende com ardor»!