«Jornais de costas largas»
Que circunstâncias levam um jornalista à defesa "corporativa" da sua prática social?
- quando se sente ou está deontologicamente "atropelado" por interesses estranhos à profissão;
- quando prevê consequências internas/externas para as suas competências profissionais;
- quando há "suspeitas" (mesmo que não declaradas) de apetências outras da sua parte, que não as próprias à sua classe;
- ...ou quando precisa de se destinguir entre outros profissionais que, ao contrário do próprio, nem sempre se ficam pelo seu papel comunicacional;
- quando considera importante reforçar o contributo da Comunicação Social na manutenção da democracia.
Mais haverá, mas são achegas suficientes para "aproveitar" Pedro Rolo Duarte e balizar, à partida, o que se escreve a seguir.
Provavelmente por falta de conteúdos, este jornalista faz um pequeno exercício sobre os malogrados jornais e jornalistas que foram e continuam a ser as desculpas esfarrapadas da corrupção política.
«É um clássico na relação entre políticos e media, no Brasil ou em França, nos EUA ou em Portugal quando há desespero e desorientação, quando há trapalhadas e tiros nos pés, a classe política não hesita e atira a matar na imprensa»
O Verão é uma estação avarenta para polémicas (a não ser a devastidão dos incêndios que, na TV, a imagem televisiva ganha aos pontos à monocromática da Imprensa) e isto só não é o sexto ponto lá atrás, porque é a razão de que desconfio para Pedro Rolo Duarte vir defender as causas que «o jornal esteja a cumprir» e a ética dos jornalistas para «manter a independência e isenção que os leitores lhe pedem».
Afinal, a revista "Veja" e o caso do "mensalão" não se passam em território português e o próprio afirma que a revista «continua a fazer a sua investigação» e a equipa de jornalistas «sem ceder perante a ameaça e a mentira, o desmentido histérico e o fantasma da conspiração».
A primeira conclusão, logo a meio do Editorial, é que não há razões para a sua classe profissional se sentir posta em causa.
Então que circunstâncias o levaram a lembrar a sua importância social e (in)questionável idoneidade?
Nenhumas... parece-me. No entanto, aquele lead agradavelmente sonoro e imbatível inspirou-me (também eu estava sem assunto para conversa) e lembrou-me alguma sociologia comunicacional sem qualquer pretensão e que por acaso (terá sido?) Pedro Rolo Duarte se esqueceu.
A realidade social não é uma página coesa de ideias e com regras delimitadas como as que a Imprensa produz diariamente. É uma bolsa comportamental e idealizada por todos os "visionários" de opinião actuante e que têm o feed-back precisamente nos jornalistas (nunca a sua matéria é outra que não a informação que lhes é fornecida).
Aliás, pode-se dizer que se trata de um casamento feliz: as organizações dominantes na sociedade emitem as opiniões por si seleccionadas (a informação) e os jornalistas registam essa "ocorrência" em moldes próprios.
A Comunicação Social não é uma individualidade autónoma, é simultaneamente quem "realiza" a informação para a opinião pública (sem a sua percepção os acontecimentos não chegam a "acontecer") e também quem a avaliza e legitima.
O jornalista é um fazedor de opinião e, ao contrário do historiador por exemplo, a Imprensa interpreta a "história humana" e ensina-nos a ajuizá-la (a principal razão porque os títulos de imprensa são tão apetíveis para certos lobbys).
Enquanto que um historiador pouco sério sabe que, no tempo histórico, o espera o momento da verdade desmistificadora, já o jornalista não é certo que o mesmo lhe aconteça. Os políticos só são corruptos porque a Comunicação Social os prova assim. E os que ela entender não questionar, serão para o cidadão (até um dia) um exemplo de honestidade e competência.
Claro, como os verdadeiros casamentos, também a fidelidade na Informação às vezes falha e trai precisamente quem não deve, porque «no campo dos Media cuzam-se jornalistas, dirigentes políticos, escritores, advogados, juízes. Muitos deles em busca de uma maior visibilidade social»(1)!
O lead que encabeçava o editorial de ontem do "Diário de Notícias" era, de facto, implacável. Não pela verdade absoluta que Pedro Rolo Duarte quer ver lá morar, mas pela sua qualidade de imputável: os jornais têm as «costas largas» porque os jornalistas também as têm para o favorecimento de certas opiniões enquanto "sujeitos mediáticos" e "sujeitos políticos"!
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(1)"O Discurso do jornal", por José Rebêlo. Editorial Notícias
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