quarta-feira, agosto 03, 2005

O guru americano e a candidata (2)

As 'promessas úteis' da política teórica realizam-se quase sempre em 'compromissos inúteis' na prática política
Se o país (des)governado paira na indefinição planificadora do ‘valor’ criador e dos critérios sustentados da estratégia de Quésado/Porter, como não hão-de os candidatos à Câmara Municipal de Lisboa revelarem também a mesma ambiguidade política?
Neste caso, Maria José Nogueira Pinto sabe que só pode oferecer aquelas ilusões ‘mágicas’ próprias das campanhas eleitorais porque não tem, nem vai ter, também a sua matriz social de intervenção legítima.
«Cedo aprendi que, na área social, ou se previne ou se remedeia - o que têm sempre um maior custo humano e financeiro».
Não estão aqui em causa as ideias e a vontade 'apaixonada' da candidata, mas a inevitabilidade de que a autarquia como está eticamente pensada, não é susceptível de se traduzir em dimensões empresariais de metas para cumprir e, no máximo que é já muito, só conseguirá remeter-se ao exorcismo das suas referências culturais e ao exercício identitário das causas. Sendo que isso já é uma carga de trabalhos.
Actualmente, qualquer candidato só pode «sanear» as gestões sem qualidade e os recursos humanos inviáveis, nada mais.
A democracia moderna tem também os seus aspectos perversos e um deles é o efeito bola de neve que a crise gera. Quando os patamares políticos superiores entram em decadência, os mais inferiores podem não ir por arrasto, mas sofrem o bloqueio da direcção inábil na hierarquia.
Para mim, cidadã-residente em Lisboa, entre a pág. 8 e a pág. 9 do Público, morava parte da explicação e parte da solução (embora por traduzir) para o insucesso português da capital e para a qualidade do meu futuro social como cidadão activo.
Quer queira-se, quer não, a sobrevivência política dos candidatos significa pelo menos a possibilidade de uma vida mais qualitativa para muitos de nós (emprego, habitação, serviços, etc.) nas cidades.
Pela caneta de Quésado, o guru explica-nos que a «cultura de qualidade e o efeito escala na produtividade» passa pelo cumprimento da lógica estrutural de intervenção.
Que cada um assuma só o seu universo de acção e participação, significando isso o «instrumento central de qualificação estratégica» que Porter considera haver em cada agente/organismo social.
No caso das candidaturas a Lisboa, infelizmente isto significa que a Câmara terá o direito aos "pareceres tradicionais", mas nunca acompanhará a decisão final e em parceria com o governo sobre a gestão económica e visão empresarial da cidade nas mudanças estruturais para o futuro (
rede habitacional, ficha arquitectónica, leis de veto à poluição, racionalização da segurança pública ou até da exploração dos imóveis e órgãos culturais governativas para contrariar a massificação da cultura, etc).
A CML será, efectivamente, apenas «a entidade facilitadora da vida dos cidadãos» com esses desastres ou as raras glórias - como muito bem disse a candidata.