terça-feira, agosto 02, 2005

O guru americano e a candidata (1)

Há poucos dias no Público, Francisco Jaime Quésado lembrou-se de Michael E. Porter, um entre vários teóricos americanos da Nova Economia, para ‘piramizar’ um conceito de estratégia nas relações sociais produtivas das instituições do poder.
No meu entender não precisava de ir até às Américas, bastava-lhe consultar algumas das teses de António Barreto ou espreitar alguns dos seus colegas opinion makers na Imprensa.
A pequena amostra da lógica competitiva de Quésado/Porter monta-se através de uma matriz social de intervenção sustentada por três tipos de entendimento da Estratégia, para si uma das chaves do sucesso económico de liderança:

  • Estratégia Intelectual: visa a valorização do indivíduo pelo conhecimento que lhe pertence e pode vir a alienar. Propõe uma educação estruturante - qualificada, tecnológica, comunicacional e criativa - das gerações futuras no sentido de o imbuir de uma «linha comportamental de justiça social e ética moral» que formulem a produtividade das 'ideias';
  • Estratégia Operacional pelo Valor: Discrimina competências realizadoras e competências 'indutoras' das ideias;
  • Estratégia Cultural de Cooperação: Lembra-nos que só a articulação operacional entre os vários agentes do ‘capital realizante’ e do ‘capital criador’ é que pode consolidar a ‘cultura social produtiva’ e a competitividade criativa em permanente construção.

Simplificando em variáveis comuns, Quésado/Porter constrói uma lógica política em que articula os vários 'valores' representativos e os responsáveis pelas aritméticas sociais vigentes:

  • o indivíduo informado do saber ('valor' da formação), o indivíduo realizador ('valor' da competência) e a rede de indivíduos ('valor' da cooperação).


Uma fórmula simples que, por si só, não desvenda segredos mágicos. Propõe apenas um determinado modus operandus para a caminhada do que pretendemos e alerta que o fundamental é assegurar os 'valores' de construção, ou seja, a Estratégia.
Curiosamente, na página a seguir Maria José Nogueira Pinto expunha as razões da sua candidatura à Câmara Municipal de Lisboa.
Um texto bem escrito e onde se nota claramente a fragilidade da reentré política do CDS saído de uma liderança partidária sem o coração dos militantes, e de uma governação curta a que ainda hoje cobramos os números ambíguos (afinal, Portas poupou uns números justos e empacotou outros injustos).
A candidata estruturou o seu programa sem projectos concretos e com várias ideias inconcretizáveis pela dimensão humana que implicam (apesar da sugestão dos "Bairros Admnistrativos" que correspondem aos actuais gabinetes dos bairros e "Bairros Históricos", e da anunciada resistência à mudança do Aeroporto de Lisboa).
A sua primeira proposta em bruto para a CML e para nós - seus eleitores - é, no fundo, um grande desabafo sentimental na mesma óptica de 'valores' de Quésado/Porter.
Começa na figura-Câmara, passa pela figura-Cidade, chega à figura-País e termina na verdadeira e cruel realidade da «solidão - a doença do séc. XXI» e das pólis do futuro onde «todos, como num corpo, somos afectados pelo ciclo da pobreza e a sua morbilidade própria».
Algures entre a Estratégia intelectual para Portugal de Quésado/Porter e os Compromissos úteis de Maria José Nogueira Pinto, pareceu-me ouvir o sibilar asmático do Portugal regional sem saída ‘global’ e incapaz da interpretação pragmática das luzes europeias para o desenvolvimento humano-social dos municípios e os correspondentes instrumentos autárquicos da sua competitividade salutar.