segunda-feira, julho 18, 2005

Insucesso escolar = não reconhecimento do valor do indivíduo no campo do Saber?

Partindo do pressuposto que a escola é, para o jovem, o lugar e o tempo social da aquisição absoluta e definitiva dos conhecimentos básicos e pilares para o seu futuro, parece-me impossível assegurar o sucesso escolar se culturalmente o indivíduo não se rever como valor intrínseco e, consequentemente, ter o empenho e a criatividade necessários para consolidar o que lhe é providenciado.
Para qualquer "criatura" durante as várias metas sócio-cognitivas ao longo da sua vida, se este processo pessoal não for espontâneo e desejado (mas a sua percepção consciente) a criança, o adolescente, o jovem ou o adulto, enfim, qualquer um no papel de educando, tende a resistir a todo e qualquer princípio de raciocínio ou fundamentação.
O mesmo será dizer que a apreensão de qualquer realidade conceptual só se preconiza de modo lógico e crítico se essa "operação" fizer sentido para o próprio, ou seja, realizar-se importante na curiosidade mental ou num interesse complementar da sua pessoa.
É uma simplificação mas é - em grande parte - por esta lógica de realização pessoal e no reconhecimento da sua necessidade e importância, que em todas as gerações, épocas sociais e culturas educativas (também com as suas vicissitudes) grande parte do corpo estudantil e dos indivíduos activos no tecido profissional, cultural e cívico, ultrapassam os dogmas e os pragmatismos vigentes do pensamento/conhecimento ou das ideias/realidades, e assegura sempre uma vanguarda potencial para a sociedade produtiva.
Por isso em várias turmas sujeitas ao mesmo programa curricular, a vários métodos educacionais e constituindo por si variáveis exclusivas (cada aluno vem de um ambiente de desenvolvimento de personalidade único) além de não serem uniformes os seus resultados de aprendizagem, acusam diferentes níveis de apreensão do conhecimento.

  • [O aluno Y (igual ao aluno Z) falha no Português] + [o Z (diferente do aluno X) que o iguala na História e falha junto com aluno Y as Artes Visuais] = variável K
  • Este ano a variável K corresponde a 70% de reprovações na disciplina de Matemática.

Uma geometria humana complexa, racionável e constante nos relatórios anuais dos últimos anos do Ministério de Educação. Uma realidade escolar que hipoteca a qualidade económico-social dos nossos futuros quadros.
É reconhecido que as verdadeiras reformas (de efectuação teórica em moldes contínuos) são sempre adiadas por paliativos políticos que não arriscam mais senão mudar a cor dos imperativos administrativos e da contabilidade de merceeiro.
O sistema de ensino português continuará a não saber reagir eficazmente à constante degradação do seu capital enquanto tiver uma abordagem economicista e a curto prazo para questões que ultrapassam as gerações mais próximas (do passado e do futuro) e as tendências alternantes.
Como pode o "parque escolar" teórico-humano e a sociedade científica do conhecimento ajudar o educando a ser impermeável a todos os "bloqueios" próprios da acção humana por vezes relativista e desapaixonada?
O insucesso escolar é, entre outras coisas, produto da desvalorização da atitude personalista e da abstracção negativa do papel de cada um na comunidade dos saberes.
Para o aluno, por exemplo, a primeira forma de organização social e acção concertada para um valor comum que conhece - além do seu núcleo familiar - é a sua turma.
Mesmo que se aborde a aprendizagem a um nível mais básico da consciência, este contexto "comunitário" do conhecimento que o indivíduo encerra, é crucial para que a sua atitude filosófica e individualidade crítica assegurem no futuro a mesma expressão qualitativa e identitária na sociedade activa.
O reconhecimento do valor intelectual do próprio indivíduo é, no seio familiar, o primeiro passo para o sucesso escolar e, no campo social, um dos muitos para estabelecer naturalmente a importância da formação académica e profissional como motor de desenvolvimento humano.
Consagrar o indivíduo como o único elemento que pode concentrar e viabilizar o Saber, é a garantia de que o amanhã está bem entregue e só temos que nos preocupar com que nada falhe nessa sequência e escalada natural das sociedades desenvolvidas que têm estes valores como garantidos.
É o saber acumulado e entendido que nos permite uma melhor compreensão da realidade, possibilita variantes de acção sobre ela e afasta-nos do raciocínio imóvel e estéril que nos infecta a autonomia entre indivíduos.