«Agora a dança é outra» mas o equilíbrio das forças de poder no mundo continua à sombra da vontade americana (cont.)
Séc. XXI
«A dança agora é outra», já não é a do comunismo de herança estalinista que se extinguiu com o fim da Guerra Fria e - simbolicamente - na queda do muro de Berlim. É contra um novo mundo, o do Islão (isto enquanto a Ásia não constituir uma ameaça real).
São ofensivas de outro género e inimigos que não têm a configuração geográfica e tradicional de Estados vizinhos com fronteiras. Coabitam connosco e impõem-se nos próprios países que os acolhem - nós. O terreno das operações de guerra deixou de estar só ao alcance pela caixinha mágica da TV e passou a ser aqui ao lado.
Está na hora de se exigir à ONU uma nova filosofia de segurança mundial e a todos os seus países representantes uma responsabilização colectiva diferente da que temos tido até agora, onde a impunidade dos "actos provocadores" de alguns países continua.
Qual é o verdadeiro papel da NATO como «instrumento de defesa do mundo livre» se a Aliança Atlântica foi concebida de raiz para um inimigo no palco europeu que já não está lá. E assim sendo, como encarar a movimentação de contigentes americanos, sobretudo ainda nos mesmos solos? Como legitimá-los à luz dos direitos universais e democráticos consagrados na Carta?
A Europa do séc. XXI tem um novo corredor potencial de conflitos e parece estar mais nas frágeis linhas de divisão com o mundo árabe e a civilização do Islão. Esta ameaça figura-se, quer do ponto de vista estratégico, quer da filosofia operacional, uma dupla incógnita: qual o seu modus operandus e como podemos combatê-lo.
Segundo a ONU «a NATO não se encontra dotada nem preparada para interpretar as características dessa perturbação e reagir adequadamente em segurança perante essa ameaça. É provável que nos próximos anos assistamos à reconfiguração da Aliança como a conhecemos nestes 50 anos».
A acrescentar à agenda, a Organização tem ainda os possíveis e naturais «desequilíbrios globais» consequentes das rivalidades entre as potências regionais (China, Taiwan, Coreia do Sul e do Norte, Japão, Filipinas e a Austrália).
É ainda a NATO uma presença militar superior respeitada, mas sobretudo temida?
A título de desabafo lancei no último post algumas datas isoladas, mas próximas o suficiente naquele espaço de tempo para reflectir sobre a fragilidade da estrutura humana daquele órgão multinações que continua sujeito ao poder de veto ou apoio imprescindível do assento americano.
Kofi Annan acompanhou-me: «...é óbvio que a ONU não funcionará se a Administração americana não der um sinal equívoco de apoio e liderança».
Ora, todos sabemos que os EUA são - e serão por muito tempo - uma nação adepta da sua dominância e supremacia entre povos. E nem o xadrez mundial de hoje, onde o mundo árabe tem cerca de 240 milhões de pessoas, lhe parece inspirar razoabilidade e cautela.
Sabendo à partida que os EUA carregam uma herança pesada, perigosa e sinónima de tendências para a hegemonia, bloqueio de desenvolvimento tecnológico e científico entre a concorrência, censura nas áreas das humanidades por "razões de Estado" imprescindíveis (o cinema, por ex., é tratado como uma indústria crucial pelos estratégicos americanos por que pode subliminar assuntos de paixões negativas ou positivas), eles são os maiores infractores da manutenção qualitativa do ambiente humano global por interesses económicos.
São adeptos do militarismo como expressão política, de poder e de patriotismo, fomentam uma política externa de submissão que culturalmente cimenta os extremismos e incentiva ao terrorismo resistente, e são exímios propulsores da cultura racista generalizada (o seu "calcanhar de Aquiles" que tem gerado por todo o lado a xenofobia e o patriotismo cego).
O mesmo será dizer que, a continuar assim, torna-se evidente a bancarrota do sistema de segurança das Nações Unidas.
O que Kofi Annan tornou claro é a inépcia crónica do Conselho de Segurança para controlar e resolver os atropelos à ordem e à lei internacional.
Lembremo-nos da Bósnia, do Ruanda, do Kosovo, do sobrevivente do Iraque, da imprevisível Coreia do Norte e do silenciado Sudão.
Não admira que ninguém leve a sério a ONU e pouco espere dela.
Que alguns "não tem tomates" para enfrentar os EUA, é uma história já com barbas e dura. Poucos dos 191 representantes não terão sido cúmplices dos seus caprichos e os que restam é por infeliz inferioridade de outro género.
A crua realidade ultrapassa a autonomia comprometida a longo prazo para alguns, trata-se, isso sim, da eterna sujeição ao Tio Sam em consequência directa de este ser o principal produtor e financiador dos seus contigentes.
Enquanto a produção de todas as formas de energia conversíveis para armamento tiverem quase na sua totalidade nas mãos dos EUA, a ONU não tem como assegurar acções de paz ou a sua manutenção.
É um paradoxo que o seu inimigo indirecto seja também o seu amigo directo e o primeiro responsável dos confrontos desta nova Era.
Saímos de uma época abundante em guerras convencionais que se instalaram por todo o século XX, mas outra se insinua, só que desta vez com contornos desconhecidos e muito sinistros na viragem do tempo.
Não, não se exige só à ONU... exige-se a todo o mundo civilizado, ás elites industriais, aos responsáveis políticos e económicos, aos intelectuais e filósofos, a toda a consciência com memória uma reflexão urgente e séria sobre que tipo de entendimentos multilaterais para a civilização humana se querem para o futuro que se impõe e não avisa quando chega.
Porque quando ele chegar... está a guerra aberta!
O palco da guerra tem responsabilidades que nunca envolvem um só sujeito. Quando instalada, os considerandos de quem a terá ou não provocado já pouco importam, importa sim é ajuizar a sua expressão humanitária ou demoníaca, ou seja, os esforços à vista no sentido da trégua.
É sempre determinante para o seu prolongamento ou extinção no tempo, a avaliação externa de outsiders para internacionalmente fazerem pressão para que o conflito se resolva.~Quando não está no terreno é esta a função fundamental da Organização das Nações Unidas!
A ONU fez 60 anos, um período de tempo insignificante para a idade milenar da Sra. Guerra, e lembrei-me de tantos que já pereceram até hoje e que se podiam ter algum anjo protector e de esperança era precisamente a sexagenária ONU:
- Azerbeijão: 10.000
- Bósnia-Herzegovina: 25.000
- Croácia: 25.000
- Chechénia: 70.000
- Curdistão: 30.000
- Argélia: 100.000
- Burundi: 300.000
- Eritreia: 100.000
- Etiópia: 100.000
- Ruanda: 500.000
- Somália: 500.000
- Sudão e Afeganistão: 1,5 milhões
- Iraque: 30.000
- Líbano: 131.000
- Colômbia: 41.000
- El Salvador: 77.000
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