sexta-feira, junho 10, 2005

O PS de de Guterres está entregue ao General! (1)

Apesar do "desalinhamento" de alguns reputados parlamentares da Ala Esquerda "alegrina" (Jorge Lacão e José Magalhães), outros que chegaram mesmo a militar oficialmente alguma oposição (Rui Cunha), senão todos os cerca de 20 novos deputados da mesma ala que foram - afinal - escolhidos e reeleitos com Sócrates, a Esquerda portuguesa (PCP e Bloco) alertou a sociedade activista que o novo governo não só se identificava com os mesmos objectivos políticos «de direita» de António Guterres há duas nomenclaturas, como pretenderia avançar mais à direita ainda do que sugeria.
Quem nos avisa, nosso amigo é!
A solidariedade dos socialistas ao "neoliberalismo de centro" de Sócrates foi sol de pouca dura e parece ter servido apenas para o egocêntrismo de derrotar os sociais-democratas durenses e seu sucessor Pedro Santana Lopes.
Muito antes até da própria campanha legislativa começar, o secretário-geral do PS eleito com 80 por cento dos votos (e se isto não é apoio incondicional e vontade de mudança, então não sei o que será), talvez recordado da sua eleição interna, antecipou-se e tratou logo de contentar uns tantos com nomeações e avisar mais alguns na Comissão Política: «Espero que daqui a quatro meses o partido permaneça tão unido como agora».
O que parecia ser a "normal" redefinição ideológica consequente de um novo líder partidário e respectiva vitória, foi um verdadeiro cavalo de tróia no séquito das rosas e revelou-se na política portuguesa a ascenção do liberalismo absolutista de rosto único e a política (a)social de "testa de ferro".
As evidências sugerem-no:

  • Uma equipa de ministros clandestina e desconhecida de todos - inclusivé o próprio PS
  • até ao último minuto da sua exposição;
  • O secretismo arrogante do Programa de Governo à sociedade política e eleitora;
  • A descriminação machista do género feminino ao reclamar-lhe um perfil «insuficiente de protagonismo político e técnico» para integrarem o elenco governamental:
  • No governo, o domínio quase maioritário de figuras desvinculadas do universo social e político e (in)dependentes do mercado privado-económico; etc.

O PS de António Guterres tem, hoje, uma paternidade déspota e autista que não hesita na educação severa e repressora "dos seus" e Portugal está sujeito ao esvaziamento ideológico porque o General de Campanha coopera perigosamente com outsiders da política de raíz social e com uma permissividade duvidosa, senão comprometedora da cultura de representatividade democrática.
Se o PS já gozou de alguma desenvoltura profícua por parte do General e que tenha sido fértil até ao momento, talvez o recorrente oportunismo político do partido dominante no poder que sempre permite que alguns boys possam assentar praça nos vários organismos do Estado (só na Administração Pública 20 "bateram a pala" muito antes da própria proposta de lei ser discutida no Parlamento) e - para os que ficaram ainda de fora - a nova lei que permite a nomeação política ao invés por concurso dos Directores-gerais, Secretários-gerais, Inspectores-gerais e Presidentes (cargos considerados de direcção superior da Administração Pública).
Estes "soldadinhos" não poderão ser em grande número dada a obscenidade do Défice, mas pelo menos o dirigente em questão «pode optar pelo ordenado que tinha no cargo de onde veio, desde que não exceda o salário do primeiro-ministro» (cerca de cinco mil euros ilíquidos, mais despesas de representação) e pode também «ter prémios de gestão em função do seu cumprimento dos objectivos».

Quem quiser - ou puder - fica bem remediado!
Pergunto-me se a residência oficial do Primeiro-Ministro não terá neste momento à porta uma valente fila para arrajar emprego (em particular os candidatos a Gestores Públicos que podem ser livremente nomeados por despacho conjunto do General).
Mas como tudo o que é bom... e todos os sinais de súbita reconversão de Sócrates ou o seu enfoque aos interesses socialistas e sua identificação com as estruturas que o elegeram são sol de pouca dura... parece que a esquerda socialista está novamente insatisfeita.
Ainda agora saídos do frustrado e cobarde Referendo do Aborto, os "soldadinhos" foram novamente contrariados e somam-se as contradições políticas e de contornos sinistros indecifráveis como o fim do Regime Especial para o Cálculo de Reforma e das Subvenções Vitalícias dos Titulares Públicos e Políticos, ou o congelamento salarial em 2006 dos Administradores de Empresas Públicas:
«Privilégios injustificados!!!!!!!!!!!!!!!. É altura de pôr cobro a um conjunto de regimes de excepção que proliferam na nossa Administração Pública!!!!!!!!!!!!
Esta reforma tem de começar também pelos cargos políticos!!!!!!!!!!!!!
» - afirmou o General.
A oposição diz que «Sócrates abriu a caixa de Pandora», outros que «se trata de uma revolução extraordinária».
Eu diria que não acredito que tudo isto se trata de contar trocos para aliviar o desgraçadinho do Défice ou redistribuir equalitativa e democraticamente o dinheiro dos contribuintes.
O General - intocável e de reacções imprevisíveis - pode muito bem com um levantamento interno e talvez só o idealismo de Abril de Manuel Alegre o possam deixar sem resposta, mas nesse caso só porque a retórica tecnológica não tem coração! Não tem emoção!
O General já mostrou que se precisar de substituir "cavalheiros" e arranjar "oficiais" novos, tem vários quadros disponíveis em outsourcing. Aliás, bem feitas as contas, se somarmos o fim das regalias dos parlamentares com a limitação de mandatos políticos, o futuro dos políticos de carreira em Portugal imagina-se escabroso ou absurdo.
Uma coisa já se antevê no Partido Socialista: um clã "socrático" e perversamente organizado...
Os outros que restam? Uma "horda" de políticos "tesos" e com a possibilidade de "assento generoso" caducada.
José Sócrates é o General... e um paradoxo no "tempo das rosas".