Sexo-expresso (XVI) ou Sexo das formas
A obra de Botero ganhava a sua indiscutível qualidade quando projectada a elevar-se sobre o horizonte do rio Tejo, em vez de pintada em miniaturas de 50/60cm num papel cochet de primeira classe.
Na amplitude livre e extensa da praça podíamos, sem pudor, envolvermo-nos corporalmente com o ferro de Botero. Por cima, por baixo, de fora, lá dentro, toda a interacção era possível dada a grandeza das suas esculturas, e, porque era inevitável, sentir-lhes a pele férrea e fria do seu sentimento esculpido.
Não havia quem resistisse a sentar-se num colo feminino e deixar-se simples a fruir a às vezes tão difícil ternura da pequenez humana.
A escultura em Portugal é usualmente inferiorizada em relação à pintura, coisa que não tem pés nem cabeça!
A percepção sensorial de uma esteria numa forma peculiar ou de uma temperatura indefinida só é um sentimento menor se desvalorizado o erotismo básico da fisicidade natural dos materiais.
Desprezar hoje o toque de um mármore exótico ou de um pedaço de cobre liquefeito é o princípio de um amanhã erótico esvaziado e embrutecido pelas "desesperadas" simulações dessas qualidades, agora sujeitas à ténue memória.
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