quinta-feira, maio 12, 2005

A propósito de férias, lembrei-me de Durão Barroso nas legislativas que o levaram a Primeiro-Ministro (1)

Um político num cargo de visibilidade pública de alto-risco (como o Primeiro-ministro, o Presidente da República, o Presidente da ONU ou da NATO, etc.) é como o Barman-primeiro (o Superior) de um reputado clube ou de um restaurante de 1ª categoria. É candidato à representação “máxima” da organização porque é a imagem de marca decisiva que dela se nos apresenta pela primeira vez.
Como tal, esse político deve ter em mente que a sua responsabilidade vai bem além de "preparar" e "servir" a gestão política entre gabinetes.
De forma geral, o público forma a imagem de uma determinada organização partidária através dos seus líderes atendentes. Dessa maneira, quem tem contacto directo com o cidadão ou suas estruturas (também como o barman faz ao cliente), e que é o caso de Durão Barroso, transmite reflexos das suas orientações e competências políticas através do seu próprio comportamento em público.
Quando entrou no activo, o Presidente da Comissão Europeia triplicou as suas funções e tornou-se, simultaneamente, encarregado-mor dos garçons socialistas, garçons portugueses, garçons europeus, e com as principais funções de organizar e seleccionar as “pastas prioritárias” e o respectivo pessoal inter-nações e sob a sua supervisão.
Ora, Durão Barroso revelou-se mais "enguia" política que Pedro Santana Lopes (PSL).
Astuciosamente (aqui o termo trata da qualidade de versátil e não do “escorregamento” depreciativo) o militante foi escalonando o PSD.
Quando jovem acompanhou – discreto por imberbe - a liderança de Sá Carneiro, o estrelato de Cavaco Silva, a acessoria "anã" de Marques Mendes, o afectuoso Marcelo Rebelo de Sousa e até PSL nas suas "escorregadelas" hesitantes de presidências adiadas ou incompletas por todo o lado.
Ascendeu em consenso e com o apoio social-democrata, até a sua deontologia não poder mais com a ambição e zás (!!!), de repente ganhou poderes camaleónicos. Sem que o PSD desse por isso (pese embora o facto de nunca ter feito por esconder as suas pretensões), sem que toda a Direita portuguesa o imaginasse, pimba (!!!), Durão Barroso tinha trocado a laranjada pobretanas por um Ritz Fitz afrancesado (2).
Pimba! Deixou o partido à nora, o CDS governante orfão, a Direita portuguesa perplexa e o “poveco" traído.
Durão deixou tudo e todos em pantanas!
Também como o barman - que organiza e supervisiona o trabalho de mise-en-place - o nosso Presidente da Comissão Europeia e ex-Primeiro Ministro devia mostrar profissionalismo e provar o conhecimento e domínio da sua “zona de acção” (ideológica e patriótica) e mostrar-se eficaz e funcional na sua actuação (no PSD, no Governo e em Bruxelas).
Devia - sobretudo porque no futuro ficávamos fora da sua alçada - assegurar a Portugal:
- pessoas responsáveis pelo sectores ministeriais;
- pessoas verdadeiramente adequadas às tarefas e exigências do interesse público (Europa/Portugal) e privado (Portugal/PSD);
- coerência entre os cargos e os indigitados para a “filosofia” certa da "empresa" nacional;
- e que a Europa – na sua presidência - garantisse agora a Portugal o que nunca fez, por ser um país periférico e menos rico que os outros.

Na verdade, a formação tecnocrata e deontológica de Durão deixou muito a desejar e na posição de destaque que agora ocupa ainda dá mais barraca. Questiono-me se este político possue algum nível cultural e independência ideológica, além da sua especialização profissional.
Tendo em conta os longos anos de estudo académico e exéquias de barman-político, é de surpreender que a “moral e os bons costumes” diplomáticos que servem a confiança do povo a estes futuros estadistas (mesmo que regionais), não tenha sido tábua rasa desde o seu primeiro dia em Bruxelas.
Se há regras cruciais de transparência, idoneidade e boa-fé na exposição pública, são a imparcialidade e neutralidade dos interesses pessoais (seus e doutros) quando não se trata precisamente de trabalho político - e na proporção directa às suas responsabilidades e poder.
Ao Presidente da Comissão Europeia pede-se, por exemplo, que seja economicamente discreto quando vai de férias e que não deixe dúvidas nessa movimentação - como as férias num cruzeiro familiar no iate do grego Spiro Latsis, em Agosto de 2004, que envolveram +- 20.000€.
Quando Latsis é proprietário de um império na área dos transportes marítimos e detém a companhia marítima que ganhou em 1998 o contrato para gerir os fundos estruturais gregos providenciados pela comissária holandesa Neelie Kroes (afastada da pasta marítima por conflito de interesses com sector da construção naval) e suscitadas então dúvidas, Durão barroso não pode invocar com arrogância «ser um facto normal da vida privada».
E muito menos recusar-se a dar explicações se reincide pela segunda vez (em 2003 o senhor gozou férias na ilha brasileira de Vasco Pereira Coutinho, que tinha projectos com o governo como a compra da Quinta da Falagueira do Estado ou a licença da TV Digital).
Que eu saiba não há memória do nosso ex-Primeiro Ministro ostentar tanto burguesismo luxuoso em Portugal e pelas suas férias.
As evidências são desconcertantes: depois de abandonada a Praia dos Tomates na Lusitânia crítica, Durão Barroso fez-se ao Parlamento Europeu e a Bruxelas como os seus Mall's (centro comercial) de eleição.
Quase se podia dizer: «Quem está satisfeito com a sua vida, fica por cá. Quem quer mudanças, vai para Bruxelas»

(1) «Quem está satisfeito com a actual situação, vota no que está. Quem quer a mudança deve votar no PSD». Durão Barroso em 2002.
(2)1 lance de Amaretto; 1 lance de suco de limão coado; 1 lance de Curaçao blue; champanhe gelada; 1 pétala de rosa, se desejar. Misture o Amaretto, o suco de limão e o Curaçao na taça. Complete com champanhe. Decore com a pétala de rosa, se desejar).