O PS de de Guterres está entregue ao General! (2)
O general
O general entrou na cidade ao som de cornetas e tambores ...
Mas por que não há "vivas" nem flores?
Onde está a multidão para o aplaudir, em filas na rua?
E este silêncio
Caiu de alguma cidade da Lua?
Só mortos por toda a parte.
Mortos nas árvores e nas telhas, nas pedras e nas grades, nos muros e nos canos ...
Mortos a enfeitarem as varandas de colchas sangrentas com franjas de mãos ...
Mortos nas goteiras.
Mortos nas nuvens.
Mortos no Sol.
E prédios cobertos de mortos.
E o céu forrado de pele de mortos.
E o universo todo a desabar cadáveres.
Mortos, mortos, mortos, mortos ...
Eh! levantai-vos das sarjetas e vinde aplaudir o general que entrou agora mesmo na cidade, ao som de tambores e de cornetas!
Levantai-vos!
É preciso continuar a fingir vida,
E, para multidão, para dar palmas, até os mortos servem, sem o peso das almas.
(José Gomes Ferreira)
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