domingo, junho 19, 2005

Sexo-expresso (XVII) ou Sexo da emoção "não inscrita"

«Não-inscrição significa que os acontecimentos não influenciam a nossa vida, é como se não acontecessem. Por exemplo, quando uma pessoa ama, esse sentimento não afecta a outra pessoa, objecto do amor. Não tem nenhum feito nas nossas vidas, não se inscreve nelas, não as transforma».
(José Gil - "Pública" 2005)


«Sexo é sexo, e, para qualquer primata dominador, é a emoção do instinto, puro exercício mundano e primitivo onde se diluem as hierarquias e os géneros (somente corpos como instrumentos de sexo) porque é pura emergência orgástica.
Potenciam as relações a imaginação erótica e a criatividade erógena que arranjarmos, já que o sexo está para o corpo idealizado e o afecto para o intelecto romântico
», defendia eu no início deste ano, em modesta provocação ás subtis indirectas de um colunista da praça que sugeria o
desmérito da expressão estética e romântica sobre a fisicidade do sexo (o campo intelectual ao serviço do campo sensorial). Uma acção sem a mestria e inteligência da escrita e, para si, uma arte contrária ao genuíno delírio criativo e á utopia lúcida que as letras, por exemplo, lhe proporcionam.
O que ele dizia também - e se o tivessse circunscrito á sua individualidade tinha soado melhor - era que o nível de erudição da dialéctica sexual não permitia a mesma «satisfação, glória e reconhecimento» como nas outras áreas.
Entretanto, a indústria americana de rádio e televisão (defendendo a mesma primitividade jocosa, embora com outras intenções por de trás), ao que parece, considera as variáveis naturais como leigo/científico, límpido/ambíguo crítico/alienante, etc, conceitos demasiado frágeis e que não asseguram os códigos rigorosos da linguagem apropriada para a comunicação de conteúdos eróticos, nem dão garantia de uma assimilação correcta. Pelo contrário, oferecem um conhecimento que roça a «boçalidade».

A resposta ao «ataque intencional aos bons costumes e á comunicabilidade de bem» por parte dos Media, é de tal maneira prioritária deste novo governo de George W. Bush que o político Kevin J. Martin, um republicano do seu consórcio, formulou um projecto de normas para a fiscalização e penalização do sexo e violência nas emissões da TV, Cabo e Satélite, chegando ao cúmulo de «uma multa» por cada «palavra indecente».
Quem conhece o puritanismo americano conhece-o de excessos em ambos os lados por qualquer coisa e nenhuma. E, incoerentemente, tão depressa normaliza a vulgaridade das emoções, sexo e violência na sua cultura, como se faz famoso na auto-estrada patriótica e política por peregrinações imbuídas de uma religiosidade oportunamente castradora.
O resultado? Qualquer coisa como uma sexualidade ambígua que varia entre fellatios "republicanos" e masturbações "democratas".

Sexo á americana? Uma emoção mal-parida!