quarta-feira, agosto 10, 2005

Tsunamis de fogo



Ontem choveu por todo o lado. Nas ruas, nas praias e até nas florestas.
Pingou dentro das competições enxarcadas da Helsínquia televisiva e do lado de fora dos varandins gotejantes que os cães não resistiam a lamber com satisfação.
No Verão, quando chove, experimentamos a virtuosidade da água que refresca o calor opressivo e a consciência cívica revolta-se-nos com a fórmula simplificada para por fim às aflições próprias desta estação: os incêndios e a seca.
No Verão, quando chove, a sensibilidade de uma revelação inédita e flamejante não é, nada mais, nada menos, que a evidência dos conhecimentos primordiais e telúricos sobre matérias-primas e fenómenos metereológicos.
Não há mistério algum, o calor (fogo) extingue-se, ora consigo próprio em exaustão, ora no uso da sua força oposta e antítese, o frio (humidade da água)!
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Ontem choveu por todo o lado. Nas ruas, nas praias, nas florestas, em Helsínquia, à minha janela e até de forma desconcertante neste ecrã luminoso!
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«(...) Portugal registou quedas pluviométricas prolongadas no Inverno e na Primavera deu-se um elevado crescimento vegetativo nestas áreas, contribuindo para um aumento significativo do biomassa. Nestas condições, ficou favorecida a acumulação da matéria inflamável, sem descontinuidades, que, aliada à secura e às altas temperaturas, facilitou a propagação de incêndios e dificultou o rescaldo, alimentando a probabilidade de reacendimento, em particular perante a presença de ventos muito fortes (...)»
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«(...) Notou-se haver dificuldade no accionamento dos planos. Na verdade estes requerem actualização permanente e verificação da sua eficácia através de exercícios periódicos (...)»
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«(...) Nem sempre se verificou uma ligação permanente da autarquia ao CDOS, o que é essencial para que conheça o ponto de situação quanto ao incêndio, aos meios empenhados e aos meios disponíveis (...)»
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«(...) Falhou a organização dos teatros de operações, nomeadamente na utilização eficaz do sistema de comando operacional, com repercussões graves a nível da logística, da recepção e enquadramento dos meios de reforço na rentabilização e pessoal e veículos (...)»
Isto são só "faíscas" «da destruição avassaladora, quer para a vida e bens da população das áreas atingidas, quer para o património florestal e, consequentemente para a economia do país» que se fez banal à angústia observadora dos citadinos protegidos (que, no máximo, só sentem a rara contenção do fornecimento de água pública).
As chamas, as vagas ardentes, os tsunamis de fogo, esses continuam dramáticos comos os primeiros e nunca são os últimos a quedarem-se póstumos na memória carbonizada dos relatórios.