terça-feira, agosto 30, 2005

A ética política das organizações partidárias devia saber resolver as trapalhadas dos seus militantes e dirigentes


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Continua incógnita, ambígua e politicamente por decifrar o protocolo - chamemos-lhe assim - de entendimento entre o major Valentim Loureiro e o Partido Social Democrata (ou será Marques Mendes?).
Sabemos que as razões para o divórcio estão alinhadas entre ambas as partes (a participação em listas adversárias às do PSD para a gestão autárquica) mas a ética subjacente aos vários personagens está ainda, como tal, por classificar ideologicamente.
Por exemplo, logo que o vereador Joaquim Fortes da Silva renegociou (aparentemente sem a aprovação do seu partido) o vínculo político na Câmara do Alandroal, imediatamente o Partido Comunista reuniu, deliberou e sentenciou interna e externamente o afastamento inevitável do militante que se "concertara" extra-partido.
Quando Freitas do Amaral aceitou a participação numa pasta ministerial do actual governo socialista de José Sócrates, a sua posição foi muito criticada pela direita (PPD/PSD e CDS-PP) e pelo Partido Popular Europeu (PPE).
Paulo Portas num gesto de repúdio à antiga devolveu à sede do Rato o retrato do conspirador (e um dos fundadores do CDS em 1974) e o PPE propôs imediatamente a sua suspensão que após inquérito em sede própria confirmou ao público a expulsão nas suas fileiras pelos meses de Abril/Maio, pela evidente incompatibilidade de lógica política.
Em ambos estes casos há coerência entre intenção política e acção organizada, e as estruturas implicadas confirmam o verbo prossecutório e nem permitem que o factor tempo dilua os pressupostos políticos legítimos e os princípios democráticos (pelo menos os seus!).
Assim de esguelha, só me lembro de três "rescaldos" políticos de notoriedade público que o PSD soube resolver e resignar-se sem dar a oportunidade e tempo para leituras perversas da sociedade e oposição política:
  1. Pacheco Pereira com a subida ao poder governativo de Santana Lopes e a escalada de Durão Barroso para a Presidência Europeia(*);
  2. Cavaco Silva de abalada para férias partidárias;
  3. Despromoção e apagamento dos "santanetes" e o próprio Santana após a dissolução do
    governo PSD-CDS por Jorge Sampaio.
Ora com o major (um trato corrente de todos mas incorrecto dada a expulsão de Valentim ainda durante a guerra colonial por roubo e comercialização de bens de consumo do exército português) já o mesmo não se verifica e o verbo gondomarense boia que nem 'poia' na maré: vai..., vem..., vai...
Não é próprio da concorrência democrática que no fim de Agosto e a um mês das eleições autárquicas os vários sociais-democratas implicados «não tenham recebido qualquer parecer da Comissão Política Nacional e do Conselho de Jurisção Nacional sobre as consequências disciplinares» a curto e médio prazo no PSD.
Não é claro porque é que a clareza estatutária do PSD não tem continuidade na acção política e organizada de Marques Mendes.
A oposição invoca o jogo desleal com uma campanha-tipo de várias frentes (o candidato legítimo e o candidato renegado) e a supremacia de visibilidade nos media que estas polémicas implicam.
Os militantes em causa nem sabem como fazer as malas, independentemente de como tenham assumido e que trâmites que consideram adequados tenham seguido (os vereadores de Oeiras Cristina Castro e Joaquim Castro Neves solicitaram suspensão de militância junto com Telmo Viana, JSD de Gondomar).
O curioso é que nesta equipa de Valentim, um em particular pretendeu "férias sem vencimento ideológico" faz já quatro anos - o oierense Fernando Paulo - e imagino que nestes momento já deseje a desfiliação propriamente dita como sugeriram o vice José Luís Oliveira e Germano Rocha, ambos homens fortes do major.
Que deontologia política e social pressupõe o PSD de Marques Mendes e o que pode o cidadão interpretar nos representantes desta trapalhada toda - atenção, já estamos campanha autárquica -, principalmente do major resistente e outsider que convenientemente não quer largar o barco (registe-se que a sua faceta empresarial tem graves acusações éticas e a futebolista ainda vai no adro da corrupção do caso "Apito Dourado").
Nas legislativas do PS, Sócrates dizia que «em todas as eleições há vencedores mas também há vencidos.(...) Se há lição a tirar destas eleições é que o povo português rejeitou claramente as campanhas políticas pela negativa; as campanhas baseadas em ataques pessoais, em insultos e baseada na falta de respeito pelos adversários políticos. Espero que todos tenham aprendido a lição; e espero que a tenham aprendido a bem da nossa democracia e a bem de Portugal».
Ora, deixadas as pretensões ao seu dono (as misteriosas de Valentim Loureiro ou as sem mistério dos seus aliados), neste caso não se pode concretamente de falar de campanhas ou contra-campanhas e nem de oposições político-internas.
Este protocolo de entendimento político organizacional do PSD é uma autêntica "trapalhada" (diria mesmo, PALHAÇADA!) na ética disciplinar e estatutária da social-democracia pós-Cavaco.
Cada vez mais me convenço estar-se perante sintomas de descrença na liderança da direita em Portugal e, se assim for, os sociais-democratas podem agradecê-lo à paternidade teórica "barrosã" (Marques Mendes não passará de um eterno acessor interino!).
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(*)Este político/crítico/autor não se fica por meias medidas. Na mesma altura e suspeitamente pelas mesmas razões, Pacheco Pereira renuncia ao seu recente cargo (só com um mês) como Chefe da issão Permanente de Portugal junto da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) - Junho de 2004.
No ano a seguir, em Maio, o ex-eurodeputado lança o movimento do NÃO AO TRATADO.