sábado, outubro 29, 2005

O DNA n.465


-
Para mim, que sou um bicho do papel, desconfio que amanhã os jornais não se vão parecer com JORNAIS... Mas newsletters sofisticadas de grande formato e ao serviço dos domínios que as custearem.
As revistas não se vão parecer com REVISTAS... Mas encartes vaidosos e de fino acabamento onde as notoriedades desfilarão a colecção Vista Alegre da tetra-tetra-tetara-terera......tera-Avó que a Sotherbys já avaliou, mas que não interessa a nós quanto.
Nesta altura, suplementos como o DNA deixam de fazer qualquer sentido. Antes saíam caros mas a imprensa (empresarial) oferecia-lhes a sobrevivência e o estatuto de coqueluche em troca de discretos favores de corte - como misturarem dos seus por entre o jornalismo de referência e mui raras vezes intocável.
Num futuro próximo, quando só o que tiver fama forem mascotes jocosas da Comunicação (porque a obscenidade mental ainda é indecorosa!), embrulhos de imitações rascas do humor ilustrado de Bordalo Pinheiro ou das ficções de jornalistas convertidos em pseudónimos de escritores... nessa altura, os suplementos como o DNA não se vão parecer com SUPLEMENTOS...
Após ter sido anunciado o futuro encerramento deste pequeno jornal, da Grande Reportagem e do JN (sem confirmação e ainda em estudo), chegou às bancas o nº 465 de Pedro Rolo Duarte em exploração do Terramoto de 1755 em Lisboa.
O cruzamento do jornalismo de investigação, científico, bibliográfico, fotográfico e de ilustração, oferece aos curiosos da vida e afectivos desta cidade uma edição "sísmica" em 61 páginas.
Mesmo com a inevitável sintetização e sacrifício informativo do tema, é como PRD canonizou há muito nos seus editoriais: «Este é mais um DNA para ler e guardar...»
No seu editorial para Lisboa e seus habitantes, Pedro Rolo Duarte permitiu-se à intimidade de sugerir-nos «Ir ao passado buscar sinais que servem o presente. Olhar a História como algo que transforma, muda e não adormece nos arquivos e na memória».
Logo saberemos se PRD fazia contas á vida e se despedia de todos nós, os leitores, ou se fazia contas aos 250 dias do Terramoto de 1755, em Lisboa.
Logo saberemos...