sexta-feira, setembro 30, 2005

Nas democracias modernas, o conceito de Estado é produto directo da ambição 'social' do próprio Primeiro-ministro


-
José Sócrates apesar da "mentirinha" grave durante a campanha eleitoral de que os impostos não iriam aumentar, até tem sido muito transparente e fiel ao essencial do Programa do XVII Governo Constitucional que a maioria legitimou.
Também não é difícil, afinal é um documento mobilizador em linhas gerais e simplificadas.
Em qualquer dos parâmetros do extenso Programa destaca-se a necessidade do relançamento da economia portuguesa doa a quem doer. Como por exemplo - embora suavizado - acabar com privilégios administrativos e benesses fiscais (promoção e evolução na carreira, tempo e remuneração para a reforma, acumulação de cargos e salários, etc) para funcionários do Estado e cargos públicos de nomeação política ou "independente".
Se acharmos que parte da nossa classe política (como administradores e gestores públicos) ainda goza de algum burguesismo ultrapassado à luz das democracias mais modernas (onde a ética ideológica extravasa a organização partidária e contempla uma relação social e cívica no desempenho) este princípio até é interessante.
Mas sem se atentar contra as liberdades básicas de participação e direito social do cidadão.
Repescando a introdução do mesmo Programa, «Elevar a qualidade da nossa democracia, reforçando a credibilidade do Estado e do sistema político e fazendo dos sistemas de justiça e de segurança instrumentos ao serviço de uma plena cidadania» e tendo em conta os vários levantamentos sociais (farmacêuticos, forças de segurança, magistrados, juizes, professores, etc.), ou os dentro do próprio PS e governo (substituição precoce de ministros, candidaturas presidenciais e dissidências de líderes autárquicos) é difícil confiar neste desígnio de Sócrates.
Por outro lado também não parecem importar muito as incoerências dos poucos mais de 100 dias de governo desta legislatura.
Parecemos andar mais preocupados com ninharias do que com o que nos espera, como o Plano Nacional de Emprego e o Défice português.
Como por exemplo o limite de idade para representação republicana que surge discutido por todo o lado com a candidatura do dinossauro Mário Soares. Caramba, eu também acho que o Sr. já tem a sua conta, mas que raio, quem quer que vote nele! Cá por mim, não perco tempo com o Marocas!
-
Investimento público
Ninguém no seu bom senso tem qualquer dúvida sobre o motor de desenvolvimento que significa o investimento público. O Estado social só é exequível se o seu primogénito Estado explorador tiver espaço de acção.
O ideal seria mesmo que o PIB tivesse a sua incidência numa proporção de 30% da despesa orçamental e 70% de capital gerador. Por exemplo, que a Função Pública na generalidade não exigisse mais que 30/40% do Orçamento de Estado.
Actualmente (e não me admiro que as estatísticas nos mostrem que é assim desde a queda de Salazar e a formação dos vários governos provisórios) verifica-se o contrário. Não será somente por causa da redutora e estereotipada ideia de que parte da "máquina" humana (o corpo de funcionários públicos) é improdutiva, está sobrelotada e mal pensada, claro que não pode ser tão simples assim.
Mesmo a verificarem-se muitos casos de organismos, projectos e serviços concretos de óbvia inutilidade e em que é, de facto, muito discutível a necessidade da sua existência, acredito que serão sempre casos nucleares e serviços específicos.
Foi a própria classe política que tem andado pelo governo desde o 25 de Abril (PS, PSD e CDS-PP) que lançou esta moda dos últimos anos de que a Função Pública é "pesada" de mais. Afinal, o que resta do aparelho de estado para equacionar economicamente e além dos próprios (os eleitos) e os que se sucedem por nomeações directas, senão o grosso dos funcionários públicos?
Há poucos dias Jorge Coelho dizia na sua crónica semanal do DN: «A liquidez do Estado está inegavelmente em crise. O que é curioso é que quando se trata de sacrificar os outros, está tudo bem e unimo-nos para ‘o que der e vier’ com sentimento patriótico. Mas quando se trata de tirar ‘ao que é nosso‘, já não queremos e até resistimos».
3000 Batidas de texto onde em nenhum parágrafo se podem ler verbos como "reformar, subtrair, tirar, acumular, adiar, racionalizar" adaptados à "liquidez, escalões, prémios ou horas de desempenho", o que quer que seja, mas à outra parte do corpo estatal, a dos cargos estabelecidos e organismos instituídos directamente pelo partido do governo.
É mais que claro que este argumento do funcionalismo público "parasita" (no linguajar banal de muitos cidadãos inspirados) é demasiado oportunista quando não vem também acompanhado pelo registo e consciência da ineficácia política de conter despesas de outra ordem (como nomeações curtas que implicam simbólicas indemnizações, mas significativas quando falamos de salários altos de ministros ou gestores, ou a formação e extinção de secretarias e gabinetes dia sim, dia não, governo sim, governo não).
Mesmo que se façam afinações, é preciso honestidade política para assumir que a Função Pública existe, é necessária e a sua rentabilização parte da transparência e competência política. E que as sucessivas derrapagens da gestão acumuladas aos vários défices ministeriais é da exclusiva responsabilidade dos governantes.
A lógica de contenção de despesas no Estado não pode ser castradora porque deixada ao capricho e interesse político dos que por lá passam. Deverá ser racional, sustentada e com justiça social. O que significa percorrer todos os patamares do corpo público, desde os vulgos funcionários aos administradores e secretarias de Estado. Talvez assim Jorge Coelho possa um dia escrever na sua crónica que em Portugal os portugueses participam e abraçam eticamente as reformas e o desenvolvimento necessários ao país como nos prestigiados países nórdicos da Comunidade Europeia.
Talvez...

segunda-feira, setembro 26, 2005

Meu querido J.C.

Quando o tempo passa sorumbático, como neste fim de Verão de dias indecisos de calor ou frio, tudo me parece tão irrisório como especial em simultâneo, independentemente do meu estado de alma.
Graças à temperatura, à luminosidade peculiar desta época e ao efeito que ambas produzem em mim (a hipersensibilidade), chego ao fim das horas úteis convencida de que masoquistamente me dispersei do essencial por ficar pela leitura e interpretação quase esotérica (que não é nada, no fim de contas) do fluir do tempo e sem fazer programa algum - que costuma nestas alturas ser um imperativo.
Depois de 1 hora a tentar deixar a cama pelo silêncio sedutor próprio de um quarto interior, demoro mais 3 a tomar o pequeno-almoço. Como se a fruta descascada e o leite quente possuissem sabores novos e a meia-luz entre a janela baixa e eu própria (também baixinha) tivesse o efeito de íman na palhinha italiana que elegi para despertar o palato e o corpo (mania: duche rápido, frio e corpo seco ao ar, faça chuva ou faça sol).
Hoje, a excepção aconteceu. Telefona-me o J.C. para me dizer que como a mulher e filhos eram vegetarianos e o seu irmão A.C. adorava motos, estava naquele preciso momento sem companhia e doido para comer uma tosta de presunto-pata negra na feira medieval de Óbidos. É que sem companhia nestes dias tímidos, a solo não era capaz de manjar algum, mesmo a tal tosta.
Só que a surpresa de J.C. não era apenas de vocalimos gulosos. Assim que anui ao convite, apercebi-me que já estava lá em baixo e à minha porta "montado" naquela moto nada-discreta e acenando vigorosamente para a minha janela!
Em meia-hora tive que finalizar a higiene e vestir-me à cautela, desconfiando à partida que um pret-á-porter descuidado ainda me viria a sair caro. A probabilidade de uma determinada coisa acontecer está algures entre o número de momentos favoráveis para que isso ocorra e o número total de ocorrências reais.
Por exemplo, para eu ficar presa na rua sem conseguir entrar em casa, à partida só pode acontecer na companhia do J.C.
Ficar sem a agenda particular que substitui a minha memória rasca (onde tenho todos os contactos necessários, incluindo o meu próprio telemóvel), os cães presos do lado de lá da porta e sem nenhuma janela aberta por causa do fresco, num fim-de-semana em que todos os vizinhos se piraram para fora e com o tempo que passa sorumbático... SÓ COM O J.C.!
O J.C. encarrega-se de todos os «momentos favoráveis para que ocorra» e sempre que aparece promete!
Curiosamente, estes últimos dias de Verão que me afectam estupidamente o estado de espírito, junto costumam trazer "montado" na moto e para a minha porta, acenando vigorosamente, o J.C. com programas bestiais.
-

A probabilidade de J.C. sofrer da mesma psicose qualitativa dos ciclos solares e sazonais que eu, está algures entre a razão numérica dos momentos favoráveis para que isso ocorra (as estações do ano em que a mulher e os filhos vão comer ao restaurante e o seu irmão sai para testar as motos) e as vezes todas que por causa dele fiquei "pendurada "na rua!
Ou então a teoria é outra, não a DA PROBABILIDADE, MAS A DO CAOS!
Ao contrário do que se pensa, contextos simples (como um pequeno-almoço em Óbidos) nem sempre produzem acções igualmente simples. Por detrás da aparente desordem (como ficar presa na rua e sem soluções à vista) há uma ordem escondida, e não é CLIMÁTICA!
Se procurar bem no aparente acaso, talvez encontre um conjunto de determinados factores e outros processos aparentemente casuais, como por exemplo o J.C. ter decidido há muito tempo que eu é que lhe aturo as loucuras dos 59 anos.

Meu querido J.C.

domingo, setembro 25, 2005

A Donzela de Felgueiras


-
«Quando a culpa que se confessa com lágrimas de arrependimento começa a ser virtude, o CRIME COMPENSA!»

sábado, setembro 24, 2005

Dias de assim II

As prioridades e o marasmo(*)
O sentido de prioridade nacional segue critérios próprios das metas politico-partidárias dos governantes e raras vezes os da insuficiência nacional (por ex: 40 000 professores no desemprego) ou quase colapso pátrio (por ex: 1/3 da mancha florestal do país queimada).
Sim, infelizmente raras vezes os objectivos deles (dos políticos e dos governantes) convergem com as expectativas dos indivíduos sociais que os elegeram tanto em instâncias privadas ou públicas. Nos partidos 'organiza-se' quem se destacou anteriormente na esfera pública e neles se desenvolvem como líderes de representação ideológica para o retorno ao mesmo universo exterior.
Não sejamos ingénuos como a frase oca e repetida por muitos de que «não sou de nenhum partido». Sempre que há eleições qualquer um de nós vota em consciência e em simultâneo numa função/cargo público e numa tendência ideológica/representação partidária.
Nenhum eleito escapa à nossa constatação de quando lá esteve, ora agradou aos gregos e não aos troianos, ora agradou aos troianos e não aos gregos (categorias onde o "poveco" tem sempre dúvida sobre se alguma vez lá esteve incluído).
Cavaco Silva modernizou as vias de comunicação implementando o que tardava há 30 anos e que não havia como não implementar: quase todos os IP's, IC's e Auto-estradas que Portugal conhece hoje e possíveis graças à Europa subsidiária.
O túnel da CREL derrocou por mais que uma vez, mas o que isso interessa. Pelo menos temos túneis!!! Temos túneis de péssima qualidade por todo o país, mas temos túneis, IP's, IC's e Auto-estradas!!!
Com Guterres, a novidade terá sido talvez a integração europeia ao nível do sentimento e brio português. O José Gil bem lhe pode agradecer, senão como poderia sentenciar cáustico sobre a falta de auto-estima portuguesa (um tema seu preferido) depois da guerra colonial ou da ditadura de Salazar toda explicada e assumida individual e oficialmente?(**)
De Durão Barroso não houve tempo para descortinar e Santana Lopes limitou-se a ser uma alavanca de ideias inacabadas e sobretudo para intervenção e promoção política. Ou projectos continuados (dos seus antecessores) à laia da porra e tão abstractos e inquinados como a recuperação da baixa de Lisboa, o túnel do Marquês e Alcântara. De qualquer modo, tudo sem deixar memória concreta e qualitativa, bem como a sua própria governação.

Nos poucos meses que por lá andou, nunca foi claro se estávamos perante o Primeiro-ministro ou o presidente da Câmara. Desconfio mesmo que o próprio Santana não tinha bem claro quando era uma coisa e quando era outra.
Então, o sentimento de prioridade nacional configura dois sujeitos: os outros, os políticos e governantes, e nós, os que não os deixamos de eleger para nos esquecerem a seguir.
Ora, quando esta ordem de necessidades é continuamente a dos outros (por ex: o regresso de Fátima Felgueiras e a recepção local e partidária como se de D. Sebastião se tratasse), o marasmo instala-se e simplificamos a nossa capacidade de reacção e sensatez ao que nos é exterior em dias de assim.
Dias assim como nada e assim como tudo!!!!! Dias de assim...
-

&
(*) Marasmo: (s.m.) sinónimo de atonia, debilidade, extenuação, inacção, indiferença, estagnação, imobilismo. Enfraquecimento extremo das forças morais, caracterizado pela apatia. Falta de actividade.
(**) Há um novo livro seu à venda. Uma espécie de crónicas que intersectam (o José Gil não cruza, mas INTERSECTA!!) estética e arte social. Eu passo!

sexta-feira, setembro 23, 2005

Portugal tem até 2008 para resolver o Défice...


-
...o tal que José Socrátes afirmara nunca ter visto assim tão gordo.
-
P.S.: Por acaso já receberam o vosso IRS?

quinta-feira, setembro 22, 2005

Aqui, com Ondjaki

Os dias de assim só partilham com os comuns as 24 horas, essas em que estendemos o tédio morno e sem causas como lençóis para corar nas soleiras (não fôssemos filhos da ambiguidade do existencialismo e talvez fossemos mais felizes).
Ou os 1 440 minutos que sequenciam todo e qualquer gesto em consciência em vez de incorporá-lo num automatismo drogado.
Ou os 86 400 segundos impotentes ao seu destino de virem a nós tão simplesmente como o sol se põe no entardecer ou se levanta na aurora.
Porque o real-pessoal é aquilo que decidimos que pode 'ser real' da mediação entre o interior o exterior dos nossos limites, nos dias de assim a verborreia da vida só é interior e espiritualmente surrealista.
Se assim não for, domina a resignação (um sentimento que tanto aproxima como nos afasta do discernimento) e que permitimos que respire e pulse na urbe linfática para mera coabitação e entendimento com os outros.
Nos dias de assim, sou assim como nada(!!!) e assim como tudo(!!!) o que me aparenta alguma razão (mesmo que só a sua), como Ondjaki!

-
«Comé Josefo, o mô manbo?»
(...) Sem explicar, nunca, o porquê desse terror. Nas suas palavras simples, no seu tom morto de falar, ajudado e provocado mesmo pela quase total ausência de gestos, descreveu aos primos o Virgílio, de tez amarelada escura, com cabelos ruivos e encaracolados.
Conseguiu descrever e explicar o ar de velho daquele miúdo que, não ultrapassando os catorze, já tinha de certeza mais de trinta e cinco anos. Descreveu ainda o seu lento passo de lúmpen, o seu olhar controlado e calmo, os seus músculos escondidos na falsa magreza daquele corpo e as suas vestes incrivelmente semelhantes à dos cubanos que têm pouca roupa. Descreveu até o tom castanho dessa roupa que tingia não só todo o corpo do Virgílio, como a sua maneira de ser, de olhar, de estar, de roubar, de persuadir, de intimidar e até de dizer calma e fantasmagoricamente: «
Comé Josefo, o mô manbo?» (...)
-
Padre Inácio, o Mata Anjos
(...) O que faria ele ao padre sem a arma? Uma valente carga de porrada.
No seu sorriso verde, enfeitado pelo musgo que aquela hora da tarde já tinha crescido muito, lá estava o padre Inácio na sua pequena horta, apanhando tomates verdes e alfaces tristes. Quando viu o Sr. Tuarles, e quando viu igualmente que ele não vinha em missão de paz, nem tão pouco numa outra missão qualquer que não fosse especificamente a de guerra, engoliu então o seu sorriso bolorento. Analisou rapidamente as suas hipóteses de fuga e tentou ainda correr. Foi a sua barriga que o traiu. Foram os seus tornozelos gordos e pouco flexíveis que, com a intencional ajuda da barriga, o fizeram cair.
(...) O facto de ter passado meia hora a esbofeteá-lo, e de o ter trazido para a rua, eram meros artifícios a que recorria para não ser mais violento. Era a maneira que tinha arranjado, inconscientemente, de não matar o padre à porrada.
(...)
-
Kuíto (Três faces)
(...) Mas que eram as mortes naqueles primeiros dias? Que era chorar ou ter fome? Dentro de toda aquela confusão interior, alguém mais sabia onde acabava uma sensação e começava um sentimento? E quando chorava, esse alguém podia dizer com certeza por que chorava?
(...) os próprios cães tinham o sistema nervoso central afectado pelo barulho da guerra e já não mijavam como antigamente. É verdade. Faziam-no à noitinha, cheios de medo, como se cometessem um crime. Quem os visse nessas alturas descobria nos seus olhos um medo inexplicável. Aliás os cães deixaram de mijar levantando uma perna, pois chegavam a cair. Quando mijavam, não sei porquê, tremia-lhes o corpo todo e eram então assaltados por aquele medo da guerra. Foi assim que os cães no Kuíto, começaram a mijar com as quatro patas bem fixas no chão.
(...)
-
Infinitamente nua
(...) - Para onde vai o amigo?
- Vou para mais longe.
- Mais longe onde é?
- É onde se pode ainda olhar mas já se está longe do sofrimento.
- Mas o amigo alimenta algumas esperanças? - perguntou o anfitrião, receoso.
- Não... não alimento esperanças mas não posso abafar o amor. E a nudez, essa guerreira, mata-me o coração a cada momento que me visita. Ela sabe onde me atingir...
- E o amigo... como é que se vai curar desse mal? Quer dizer: ela é uma mulher...o amigo, um micróbio...!
- Pois é, mais sorte teve o sapo...
(...)
-
Na cómoda (da) velhice
(...) Quem passa de comboio quase não pode ver a cadeira antiga e enraizada pois que o velho repousa sobre ela todo o seu mistério de ali estar sentado, de ter contratado setenta e duas máquinas de lavar para lhe fazerem companhia na velhice - que foi precoce! - de ter condenado à tristeza máxima sem lágrimas correspondentes um belo cachimbo de marinheiro oferecido por um comandante madeirense, de ter inclusivamente contratado uma inteira e paralela linha férrea e um comboio de mil e muitas viagens com setenta e nove mil passageiros por ano para passar ali muitas e muitas vezes, observando-o, sustentando-lhe o vício de estar sentado(...)
-
§
Onjaki: "Momentos de aqui" (Editora Caminho)

quinta-feira, setembro 15, 2005

Sexo-expresso (XXVI) ou o Sexo dos testículos

O amante de Lady Chatterly
«Que beleza! A beleza inefável daquelas nádegas quentes e vivas que ela tocava! A vida dentro da vida, a beleza simples, forte, quente! E o peso estranho dos testículos que mistério! Eram as raízes, a raiz de tudo quanto é belo, a raiz primitiva da beleza total.Tão orgulhoso! E tão altivo! Agora compreendo porque é que os homens são tão arrogantes!»
-
Campanha Levis - 2004
-Soneto dedicado aos testículos" de Fernando Assis Pacheco-
"Soneto dedicado aos testículos" de Fernando Assis Pacheco
Pus-vos a mão um dia sem saber
que tão robusta e certa artilharia
iria pelos anos fora ser
sinal também de lêveda alegria.
Amigos meus colhões quanto prazer
veio até mim em vossa companhia
a hora em que tiver já de morrer
morra feliz por tanta cortesia.

-
Os testículo de Prashant Salvi no Público
«Oriundo de Bombain apresenta um conjunto de imagens que reflectem o possível olhar do homem contemporâneo sobre a sua própria tradição cultural. Próximas da imagética obscena dos "graffitis" sem autor, as obras não excluem o olhar irónico - o riso - que mina o peso simbólico de cada desenho».

quarta-feira, setembro 14, 2005

Há (pelo menos) duas formas de oposição política...

...à legislatura governativa. O que as distingue fundamentalmente é a forma como se contribui para resolver qualitativamente o que está "mal".
Assim, os partidos de oposição parlamentar podem sugerir ideias para minorar o que não tem solução à vista e a curto-prazo (Fórmulas A) ou soluções radicais para o que já só padece de milagres (Fórmulas B), sendo estas ultimamente meros placebos de (falsa)inovação e sem os resultados desejados.
Constata-se que a economia europeia está nas lonas e que José Sócrates, como tal, não tem à sua disposição muitas Fórmulas A.
Tem a total confiança da sociedade portuguesa (manifestada pela maioria das Legislativas) para as Fórmulas B que entender mas, por outro lado, no que toca à dinâmica social aliada à perspectiva protectora do Estado, isso é coisa que nenhum eleitorado jamais deu de bandeija a qualquer partido.
Actualmente para a maioria das pessoas, mais importante que o enriquecimento pessoal ou global, é a autosuficiência numa economia sem luxos (por controlada) e sob a severidade do estado fiscal e especulador (como última alternativa geradora de receitas).
Os portugueses aceitam toda a espécie de sacrifícios e chegam a abraçar verdadeiras "ditaduras democráticas" dos seus governantes, mas nunca engolirão sem resistência o disvirtuamento do papel do Estado no que toca à Segurança Social, Reformas, Ensino, Saúde, etc.
Nada a que não tenham direito porque, afinal de contas, nada que não tivessem passado a vida a subsidiar e a pagar às vezes sem retorno!
As propostas (ainda sem conteúdo proposto) do «novo modelo do desenvolvimento económico e social» do PSD são Fórmulas B de uma classe económica dominante cuja ética política se dispersou em caprichos partidários que parecem terem-na ultrapassado!
Quando Marques Mendes lança slogans como «encontrar novas vias para melhorar o bem estar dos portugueses» ou «menos e melhor Estado», é caso para perguntar o que é feito do progresso do liberalismo económico dos 9 ministros sociais-democratas das finanças que tivémos até hoje (Cavaco Silva, Eduardo Catroga, Ferreira Leite, Cadilhe, Bagão Félix, etc) e que não distam assim tanto da realidade económica actual.
E perguntar, inclusivé, a um dos porta-vozes destas Fórmulas B (o antigo ministro Catroga) se, depois do Estado quase privatizado na totalidade, leiloado indiscriminadamente o seu erário público e despojadas as suas economias em "maus negócios", porque é que «Portugal precisa de melhorar os seus índices de produtividade» se os ciclos económicos estão nas mãos e sujeitos aos impulsos dos privados,
O que é que está ainda por tratar na «redefinição do papel do Estado na economia e na sociedade»?
-
Sobraram ainda galinhas de ovos de oiro?
A «implementação de políticas públicas de melhoria da produtividade» não passa - também - pela seriedade de objectivos e capacidade execuível das "fórmulas" políticas dos líderes públicos (pelo menos no que lhes restou para a conta da mercearia)?
Se a capacidade de investimento está nos privados e o timing das cifras na economia global, que instrumentos pode ainda o Estado fornecer para «ser motor do desenvolvimento» e do «bom ambiente» para a sociedade em geral?
O PSD lançou a ideia de que «Portugal é viável» se os agentes políticos, económicos e sociais se esforçarem na «reestruturação do Estado e do aparelho produtivo».
A mim, parece-me mais uma FÓRMULA B (soluções "radicais" para o que já só padece de milagres) vinda de um partido que teve no Governo o tempo suficiente para se antecipar à precaridade das suas Fórmulas A (ideias para minorar o que não tem solução à vista e a curto-prazo).
Lá em casa - quando há apertos - não subvertemos as prioridades e desprezamos princípios pilares.

Temos a esperança de ainda encontrar alguma Fórmula A perdida pelos cantos da casa. Se tal não acontece, uma coisa é certa, não "escangalhamos" tudo para ver o que acontece... não vá a casa ir abaixo!
Mas isto é lá em casa...

terça-feira, setembro 13, 2005

«Nous Sommes Tous Américains»?


-
A montagem perfeita para uma ilusão do que George Bush não fez, mas representou.
Já 30% da superfície Nova Orleães se encontrava debaixo de água e valores como solidariedade humana e luta democrática para a manutenção da paz/liberdade no mundo (como os 'exercícios' fanáticos no Iraque), verificaram-se, afinal, que se tratam de valores éticos de causa provável e não princípios cegos da política social americana.
Enquanto a comunidade negra (80% daquele povoado suburbano) se arrastava para fugir da sobrevivência violenta dos assaltos e confrontos selvagens entre os sobreviventes, em Nova Iorque homenageavam-se as centenas de mortes do ataque terrorista de 11 de Setembro - números muito inferiores aos da comunidade atolada em águas, lamas e destroços.
Pela primeira vez na história americana, o tráfego aéreo sobre os EUA foi quase totalmente suspenso por três dias, com encerramentos, cancelamentos, adiamentos e evacuações de tudo o que se mexesse e pudesse constituir um ataque terrorista.
A "Guerra contra o Terror" de George Bush revelou um sistema democrático impiedoso para quem 'O' ameça e capaz de reunir mecanismos de segurança e respostas de urgência como nunca assistimos.
Pela ocasião, o "Le Monde" evocou em manchete o que, inquestionavelmente, unia todo o Ocidente e 'mundo civilizado': «Nous Sommes Tous Américains» («Somos todos americanos»).
O que é feito desta generosidade abundante...
Parafraseando Eduardo Prado Coelho sobre valores 'hasteados', estaremos perante a perturbante amoralidade da ideologia
americana que tem «como princípio básico a defesa de certos interesses (ideológicos) sob a capa da identidade mítica dos valores»?

quinta-feira, setembro 08, 2005

A arte do Passeio Urbano

Estão explicadas todas as noites em que na companhia dos amigos já nos sentiamo-nos verdadeiros turistas na nossa própria cidade.
Quantas vezes se pareceram uns patetas em voltas cegas na rua à procura de um restaurante ás 23:00h?
Ao que parece, uma hora mais que tardia para a generalidade da restauração lisboeta. A explicação é que em Portugal só há 1 restaurante por cada 90 portugueses.

Parece-vos suficiente para os que a essa hora procuram ainda apaziguar a fome?
E se vos disser que a média europeia é de 1 restaurante por cada 4 pessoas?
Próximo de minha casa o "Come Bem e Paga Pouco" está sempre cheio até às 23:30h e só fecha depois do último wiskey!
Garanto-vos que não é só pela sua humilde refeição a 8€, mas pela peculiar dedicação do seu proprietário que um dia me explicou considerar o ritual de comer «uma coisa que não tem horas e que a seguir à nossa própria casa é onde mais gostamos de estar».
«Em relação aos "outros", não percebo. Quem faz disso a sua vida devia saber à partida que terá sempre alguém a bater-lhe à porta e a procurar companhia, mesmo que sozinho».
É pena que a maioria dos restaurantes de Lisboa só queira oferecer refeições nine-to-five à fome que não escolhe horário... pelo menos passeamos!

quarta-feira, setembro 07, 2005

A Europa que quer ver todos os seus concidadãos equiparados em currículo, mesmo que não seja apetência cultural ou conhecimento sedimentado


-
Entre as muitas tarefas de uma autarquia, há uma espécie de mega-tarefa que em si não constitui objecto específico e distinto e que ganha corpo enquanto exercício complementar a todos os outros trabalhos camarários.
Não é uma operação exclusiva destes órgãos públicos, até pelo contrário.
A FISCALIZAÇÃO faz-se em todos os organismos e empresas públicas ou privadas, e ergue-se logo que qualquer projecto/serviço ou acção contínua dos mesmos tem início.
Por exemplo, só nas câmaras os FISCAIS MUNICIPAIS percorrem - concertadamente - toda uma série de sectores públicos que abordam desde os nossos hábitos públicos aparentemente mais simples (fruição de zonas verdes, conservação e defesa do património municipal, espaços e práticas comerciais ou a segurança pedonal e do tráfego), aos mais complexos e privados (lares ou centros de 3ª idade, licenciamentos ou alvarás na generalidade, cemitérios e saúde pública).
É pela evidente lista imensurável dos campos sociais visados nas acções de fiscalização e a especificidade que os seus "entretantos" implicam que, à partida, seria de esperar que a formação dos profissionais implicados fosse, no mínimo, o mais abrangente de "ismos" sociais que estão em causa (como legislação, pedagogia, clínica geral, código da estrada, etc.)
Claro que esta complexidade cognitiva não precisa chegar à formação académica porque existem estruturas próprias para esse encaminhamento e tratam-se de assalariados de baixo escalão.
Comprende-se por isto (o resto não interessa ser para aqui chamado) que nos concursos de Admissão para cursos de Formação para Fiscais Municipais das câmaras esteja consignado, por exemplo, a habilitação do 12º ano de escolaridade.
No entanto, em relação ao conteúdo da Prova de Cultura Geral, a lógica parece estar fora do entendimento prático e comum que as acções de FISCALIZAÇÃO possam implicar. Bem, sejamos honestos, o pragmatismo mais difícil que estes agentes (os fiscais) possam encontrar, não passa evidentemente por leituras quaisqueres (sejam elas os clássicos de Camões ou os Maias de Eça), claro que não.
No máximo poderão verificar-se insuficiências comunicacionais devido a bloqueios naturais de cultura e, no máximo dos máximos, os inspectores chamam logo as forças de segurança adequadas para "pôr tudo na ordem".
A Prova de Cultura Geral deste ano consiste no Portugal, Hoje: o Medo de Existir, de José Gil.
Imagino eu que ela (a Prova) exista na mesma medida e ordem de importância que qualquer prática de consolidação(formação) cultural(básica) de um indivíduo ou profissional que presta "provas" de conhecimento.
Faz parte das exigências da cultura de massas de uma Europa que quer ver todos os seus concidadãos equiparados em currículo, mesmo que não seja uma apetência cultural ou conhecimento sedimentado por programas sociais e culturais contínuos.
Mesmo que em Portugal ainda se leia escandalosamente pouco e se constate, na generalidade, o gosto de ler. Ou o gosto do cinema e o gosto de dançar que não está sempre à mão quando estamos fora dos centros urbanos.
Mesmo que tudo o resto cultural e respectivos organismos de cognição (polos culturais, institutos, auto-formação em centros, formação contínua, etc) não tenham pés para andar como já deviam, mas não faz mal...
Nesta Prova de Cultura Geral, podemos ser vaidosos com as reflexões coerentes, mas básicas (porque sem soluções) dos vários sectores da sociedade que, o ano passado, José Gil decidiu "movimentar" por cá enquanto teorias históricas do presente e para o futuro.
Nela podemos praticar o seu solucionismo filósofo e dar "ares" de uma especial lucidez moralista e ética que, com certeza, de pouco ou nada vai servir aos FISCAIS.
Mesmo que em Portugal ainda se leia escandalosamente pouco, não faz mal... pelo menos OS DA ÚLTIMA GERAÇÃO E CURSO DE FISCAIS MUNICIPAIS já leram José Gil (só a sua "inveja e não a vintena de livros anteriores).
Não faz mal, nem para os FISCAIS, nem para NÓS OUTROS, que lemos Portugal, Hoje: o Medo de Existir no arrasto do fenómeno da moda e que vamos todos acabar por reduzi-lo a "uma coisa escrita de um gajo pensado" de que se falou muito e que logo desaparecerá irremediavelmente como qualquer outra obra que se adopta por status quo ou por simples obrigatoriedade e contingência.
Tudo incoerências de uma sociedade que ainda "não sabe existir" plenamente...

terça-feira, setembro 06, 2005

Os trabalhos de Marques Mendes


-
O PSD não tem para onde se virar, está que nem barata tonta!
Não consegue evitar a má-língua social (que o obriga à introspecção partidária) ou o notório estado de "desarranjo intestinal" consequente da sua "frouxa" liderança.
Por um lado tem o Palácio de São Bento ou a impotente Assembleia das Cortes Laranjas onde seus deputados não parecem cumprir as funções inquisitórias.
Por outro lado, o Palácio de Belém e o desejado Monte Olimpo de Cavaco Silva. Marques Mendes tem a consciência que só esta divindade pode constituir uma oportunidade de relançamento do PSD e, simultaneamente, arrumar a casa confusa de semi-deuses a mais (Isaltino, Valentim Loureiro, etc.).
Entretanto, enquanto não chove a determinação de Cavaco e o Conselho Nacional não queima alguns proeminentes, o líder do PSD arregaça as mangas (à Carmona???) e faz-se aos trabalhos políticos.
Desafia José Sócrates, como se as sessões parlamentares ordinárias não constituam oposição concreta e censura política («Quero deixar aqui um desafio ao primeiro-ministro. Desafio-o a ir ao Parlamento, no debate já previsto para o dia 21, discutir comigo e com os demais partidos a crise económica e social e o aumento do desemprego») e reinventa a Universidade de Verão do PSD para civilizar em três tempos (três novas iniciativas) a militância jovem que prepara o amanhã ideológico com base em modelos de líder perigosos e duvidosos.
O curioso é que as acusações de Marques Mendes a José Sócrates de «uma atitude dissimulada», «chocante insensibilidade» e o perfil «frio, arrogante, profundamente deslumbrado, que esqueceu os jovens e os mais carenciados», são pormenores do que também teve de engolir no passado e último ano e meio de governação e liderança social-democrata barrosã!
O cabo dos trabalhos!

segunda-feira, setembro 05, 2005

Sexo-expresso (XXV) ou O sexo filial do futebol (2)

Impressiono-me sempre com a cultura futebolista que vê a determinação sobre-humana aos hexágonos pretos e brancos... (bolas, as bolas já não se cozem aos pedacinhos...).
Lembram-se de algum atleta ateniense cobrindo o seu potencial corpo com trapos e insígnias? Não, claro que não! Por isso as esculturas gregas ainda são um fascínio aos mais estetas!
«O Sporting é uma paixão com expansão universal», afirmava emocionado Dias da Cunha pelo Centenário da sua organização.
Bom, talvez nos princípios dos princípios, mas na sua génese... É uma paixão pouco mais que filial e puramente corporativa!
Em parte, até entendo este líder sempre em campanha promocional para a Imprensa e em consolidação desse sentimento expresso dos seus sócios fiéis e familiares.
Quantos vocês não conhecem que gozem destas cumplicidades desportistas (corporativas) com os antecedentes e que tem continuidade nos seus descendentes?
Nem há voto na matéria!
Trata-se de uma herança romântica dos que nos puseram no mundo e devem ter pensado qualquer coisa como «podes não ser nada na vida, mas pelo menos és do...»
O futebol já tem a vocação pioneira de reunir um povo diferente (por indiferenciado de classe) do povo de expressão tradicional, mas não é a única forma de fair-play que pratica impecavelmente.
É também um placebo de filialidade!
Pondo de parte as consanguinidades económicas, a realidade materialista dos dias de hoje só oferece receitas provisórias de riqueza.
As famílias que não tem a riqueza multiplicada por herança sabem que as poucas oportunidades que ainda se vislumbram são constantemente atropeladas. Ora pelos "jurídicos" obscenos do Estado falido e cobrador de impostos avultados, ora pelos financeiros do stablishment de alvará exclusivo e que arrecadaram há muito tempo este país como uma nota de dívida eterna.
Hoje o futuro revela-se estéril... fazem-se filhos e sonha-se que saiam ronaldinhos ou figos na gondôla espermicida.
E, se os filhos não singrarem na escolinhas de futebol das vedetas reformadas ou nos júniores da III Divisão, que não seja por isso que a fé e o amor acabem. Passamos a desejar que esses filhos não contemplados pela sorte atómica do futebol pelo menos nos acompanhem energéticos até às bancadas do sucesso nostálgico.
«Podes não ser nada na vida, mas pelo menos és do...»
É nestes preciosos momentos que o sexo filial se concentra e revela uma estética própria que só a bola da fama permite.
Tal pai, tal filho? Acima de tudo no futebol!
-

domingo, setembro 04, 2005

Sexo-expresso (XXIV) ou O sexo filial do futebol (1)

Presidente demite-se, patrão nomeia filhos.
«O presidente do Manchester United, Roy Gardner, e dois administradores não-executivos apresentaram a demissão, no mesmo dia em que Malcom Glazer nomeou os seus três filhos para a direcção do clube. AS demissões dos administradores Jim O'Neill e Ian Mutch e do presidente Roy Gardner, ontem anunciadas no site oficial do Manchester United, aconteceram na sequência da compra do clube pelo magnata norte-americano Malcom Glazer...» (Público, 2005)
-

-
Qual é o desejo mais profundo de um adepto de futebol não filiado?
E o do apaixonado sócio clubista? A mesma coisa.
Separam-nos os modos de militância mas une-os a mesma ambição: o sucesso da sua organização através das vitórias aos adversários e a continuidade comprovada dessa qualidade que os superioriza de tempos a tempos na história do desporto.
Podemos ser menos afortunados no hemisfério privado, mas no futebol (uma autêntica socialização de clãs) tentamos ser os melhores dos melhores e trata-se de uma modalidade com provas reconhecidas na terapia do "método das transferências afectivas e realizadoras".
Até nos podemos sentir uns falhados em muitas outras vivências (do foro público ou privado), mas enquanto representantes d'O clube que conquistou a glória d'O troféu, tornamo-nos potenciais individualidades de protagonismo social e visibilidade entre os outros.
Tenho uma amiga que pouco dista de mim em idade (só eu, já concentro 34 anos) e tem comigo várias cumplicidades. Mas se há coisa que nunca hastearemos juntas são os triunfos do seu Sporting.
Foi-me sempre difícil de entender como é que uma jornalista premiada mais que uma vez, quase se amargura em jeitos kafkianos perante os reveses dos sportinguistas!
Como é que uma economista agraciada pelos melhores renega subitamente todo o seu discernimento lógico aliado à genialidade de converter o inimaginável numa qualquer fórmula de números e equações, para se fazer acólita do infortúnio ocasional e da fatalidade aleatória tão natural no futebol!
Espantoso!!!!
Como é que uma nostálgica de lagostins, cerveja e praias de Moçambique que ainda a fazem babar-se sempre que a memória lhe decide importunar a sua pacata urbanidade, consegue passar horas na 2ª Circular em acenos amistosos para gente que nunca viu na vida e não voltará a ver.
Aturar o queixume da caixa de mudanças pelos impulsos imprevisíveis do romantismo piegas da outra pátria (a do futebol), a verdadeiramente deles por que sem dúvidas de voto representativo na massa associativa!
Como se no mundo real um n.º de eleitor não fosse um voto e significasse uma vontade clara numas autárquicas ou legislativas!
Como é que uma jovem com um índice de inteligência que não lhe cabe nas saias de corte modesto, quando uma táctica brilhante não concretiza o êxito ainda consegue seduzir os "enxutos" da fé nessa divindade listrada a verde e branco que o triunfo não tarda e que «não conseguiram, mas foi táctica brilhante meus senhores»!!!!!!!
Espantoso!!!!
Uma coisa é certa, nestes tempos de quotidiano invariavelmente insípido, há uma certa magia no futebol. Só pode!
Ou acreditam que conteúdos como «confirmar o Sporting como a maior potência desportiva portuguesa, guiada por esses horizontes europeus» de Dias da Cunha podem servir outras causas?
Não, claro que não.
Era como Salazar a propósito das colónias ultramarinas: «avançar no caminho da consciência política e da organização administrativa dos territórios de além-mar...» (1962).
Tratam-se de códigos "unificadores" e inseridos em discursos de apelo sentimentalista que, a mim, sempre me arrepiaram a consciência habituada à modernidade individualista e auto-suficiente.
Simplificando, quando um indivíduo menospreza a participação ideológica e o seu lugar na esfera social, quase só restam três coisas que o podem despertar e incentivar para acções concertadas: a família, o sexo e o futebol.
Ora, no que toca à família a rapariga pródiga é fruto do cruzamento entre uma moçambicana ocidentalizada e um pai jornalista já falecido e "escarrapachado" na posteridade dos jornalistas do DN.
Sobre sexo, nunca esmiuçámos detalhes de alcova, mas bem intencionado e com alguma qualidade deve ter sido, porque já cá anda uma filhota a atazanar todos como nunca vi (sai á mãe danada!).
O que lhe sobeja então de amores? O DO SEU CLUBE, CLARO ESTÁ!
E que amor, meus senhores!!!!!
Mal lhe nasceu a filha e muito antes do padreco lhe pingar a cristandade pueril, já Ana Rita tinha número de sócio, a vestimenta exclusiva dos leoninos e tudo a postos para a sua primeira sessão fotográfica na maternidade.
A sério! A primeira das primeiríssimas "chapas" que a gaiata vai ver no seu álbum fotográfico não será a recém-nascida inchada e vermelha porque cuspida violentamente e estremunhada com a nova luz exterior que a envolve (mais a bela da sua "genitália" amorfa que lhe chega quase ao pescoço).
Não, não terá outro remédio senão contemplar-se num retrato humilhante e que destrói o único encanto dos nados-vivos que é aquela nudez quase assexuada.
Ver-se-á numa espécie de máscara de carnaval - a sportinguista - e que nada tem a ver com os costumeiros «bilu, bilu» nas bochechas e os nossos dedos grossos a explorarem-lhe as pregas moles e bem cheirosas com que veio plácida ao mundo.
(...)