sábado, abril 16, 2005

Sexo-expresso (XIII) ou Sexo também é nome de mulher

"Eu já sabia antes o que havia dentro de Natália. Algo conhecia dela. Sabia, por exemplo, que as suas pernas redondas, duras e quentes como pedras ao sol do meio-dia, estavam sós há algum tempo. Eu já conhecia isso. Tínhamos estado juntos muitas vezes; mas sempre nos separava a sombra de Tanilo.
O que queríamos era que morresse. É uma coisa que agora não podemos compreender; mas então era o que queríamos. Lembro-me muito bem. Lembro-me muito bem dessas noites.
Primeiro alumiávamo-nos com ocotes. Depois deixávamos que a cinza escurecesse a labareda e depois procurávamos, Natália e eu, a sombra de qualquer coisa para nos esconder da luz do céu.
Assim nos encostávamos à solidão do campo, longe dos olhos de Tanilo e desaparecidos na noite. E aquela solidão empurrava-nos um para o outro. A mim punha-me nos braços o corpo de Natália e a ela isso servia-lhe de consolo. Sentia que descansava; esquecia-se das coisas e depois adormecia com o corpo sumido num grande alívio.
Sempre acontecia que a terra sobre a qual dormíamos estava quente. E a carne de Natália, a esposa do meu irmão Tanilo, aquecia-se de seguida com o calor da terra. Depois aqueles dois calores juntos queimavam e faziam com que qualquer um acordasse do seu sono.
Então as minhas mãos iam atrás dela; iam e vinham por cima desse rescaldo que ela era; primeiro suavemente, mas depois apertavam-na como se lhe quisessem espremer o sangue. Assim uma e outra vez, noite após noite, até que a madrugada chegava e o vento frio apagava o lume dos nossos corpos."
Juan Rulfo - "A Planície em chamas" (1953)

H.R. Giger - "Biomechanoid" (1976)

A baronesa de Hollywood vingou os seus caprichos elitistas (segundo ouvi dizer), e o 'borracho' provou mais uma vez que se Madalena não pôs Jesus de língua de fora e crucificou a sua castidade numa digna erecção, então a Civilização não tem que agradecer ao Senhor a criação de Eva mas à realização das sedutoras formas e desenvoltura erótica de Sharon Stone.
Por definição, a fantasia erótica extasiante exclui o amor, a promessa, os deveres e até a própria vida social - campos esses reservados à intimidade do matrimónio ou da união - e representa a verdadeira expressão anárquica, anti-social e libertina do sexo.
Quem não se lembra dos ícones Marily Monroe, Sofia Loren, Brigite Bardot ou Gina Lollobrigida e das filas intermináveis à porta dos cinemas nos anos 60/70 para delírio do português tão recalcado?
Este ano promete-se a exibição de "Instinto Fatal 2" explorando duramente a obcessão erótico-feminina reencarnada na interpretação do 'borracho'.
Ouvir sussurrado por uma tela «eis-me aqui, simples, ingénua, frágil, excitável. Faz aquilo que quiseres, que não te peço nada, nem casamento, nem continuidade, nem promessas ou dinheiro» só não vai poder ouvir (e ver!!!!!) quem não quiser.