segunda-feira, março 28, 2005

A mim já me aconteceu. E a vocês?

Se questionarem alguém sobre fantasias, ou melhor, sobre o que nunca esperariam que lhes acontecesse, ouviriam - entre outros exemplos - qualquer coisa como: o Euromilhões desta semana (51 milhões de euros!!!!!); a visita de Lara Croft (Angelina Jolie) ou um jantar com George Cloney; a Saúde imortal; etc;
Lugares comuns com referências concretas e só impossíveis de alcançar por razões de logística como impeditivos económicos, limitações geográficas, etc.
Noutra perspectiva há ainda o impensável, não porque não exista ou esteja fora-de-mão, mas porque pertençe ao íntimo secreto da nossa individualidade.

Ou seja, não passa de idéia ou miragem e só ganha corpo consciente enquanto realidade passível de acontecer se revelada para o exterior.
A diferença entre estes dois universos imaginários, ambos de concretização teoricamente impossível, não é o grau utópico que possam assumir mas os meios objectivos do seu autor expressar a figura do seu desejo.
Onde quero chegar com a lógica simples dos anteriores parágrafos?
Se, neste preciso segundo, me questionassem sobre o que me aconteceu e era absoluta e totalmente improvável que assim fosse, ouviriam qualquer coisa como:

a) Um dia, ao jogar o "Trivial Persuit" e num grupo maioritariamente feminino, surge a meu pai (homem aparentemente distraído mas muito atento) a seguinte pergunta: Do que é que se trata quando «passado pelo corpo inteiro» faz com que «um desconhecido lhe ofereça flores?».
PIMBA!!!!! O raio do homem que nem usa aftershave sai-se com o que menos se espera: o "Desodorizante Impulse".

b) A perplexidade perante o inesperado sentimento de ciúme quando constatei que o meu sexologista preferido se decidiu liberalizar no Murcon.blogspot.com mais as emoções e afectos subterrâneos anteriormente da exclusividade dos seus livros ou da RTP em horário que poucos como eu se dão ao luxo de partilhar (01:30h).

c) Há poucos dias desci à Praça do Carmo (depois de um encontro profissional) experimentando uma confiança e filialidade anormalmente intensas pela mulher estranha de voz suave e dócil que acabara de conhecer.
Em troca de um ramo de frésias escarlates recebi o inesperado: a revelação inequívoca de generosidade mútua e de reciprocidade porque livre da preocupada gratidão e desinteressada da intimidade desconhecida - que tememos sempre que não podemos ajuizar.
Se há coisa que há muito desisti de voltar a firmar com desconhecidos é o privilégio de momentos cúmplices que primam, não pela afinidade imediata, mas precisamente pelo contrário: o prazer estimulante da diferença que se faz intrigante à nossa atenção por briosamente modesta.


Quantas vezes a diferença entre o que se ambiciona e o impossível de se ocasionar não está unicamente nos meios que dispomos mas também na coragem de realizar interiormente a figura desse desejo como primeiro passo?