Lisboa 1982 - fotografia de Luiz Carvalho
O tecnológico tornou-se porno: o objecto e o sexo, entraram com defeito, no mesmo ciclo ilimitado da manipulação sofisticada, da exibição e da proeza, dos comandos à distância, das interconexões e comutações de circuitos, de "teclas sensitivas", de combinatórias livres de programas, de existência visual absoluta. E é isso que impede que se leve a pornografia completamente a sério.
No seu estádio supremo, o porno é engraçado, o erotismo de massa inverte-se em paródia de sexo.
«Quem não se surpreendeu a sorrir ou a rir francamente numa sex-shop ou durante uma projecção X?
Passado um certo limiar, o excesso "tecnológico" é burlesco. Cómico que vai muito para além do prazer da transgressão ou do levantar do recalcamento: o sexo-máquina, o sexo entregue ao jogo do "tanto faz", o sexo-alta fidelidade, é assim o vector humorístico.
O porno como sexo tecnológico, o objecto como tecnologia porno.
Como sempre, o estádio humorístico designa o estádio último do processo de dessubstancialização: o porno liquida a profundade do espaço erótico, a sua conexão com o mundo da lei, do sangue, do pecado e metamorfoseia o sexo em tecnologia-espetáculo, em teatro indissociavelmente hard e humorístico.»
Gilles Lipovetsky, "Microtecnologia e sexo porno"
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