sábado, março 19, 2005

Sexo-expresso (X) ou o Sexo do Balneário


Se há momentos de intimidade no desporto é na partilha indirecta dos fluidos, humores e odores no balneário. Lá não há como esconder as 'evidências' e o impacto que elas têm em cada atleta: se o 'zézinho' é pequenino, pequenino fica e em segredo cúmplice na equipa; se é 'zézão' e seduz a olhos vistos, contempla-se, parodia-se e partilha-se como que transformado numa energia motivadora para o grupo.
Isto de muitos homens nus, ou melhor, um grupo de homens nus e unidos por uma causa (ainda por cima a do Futebol, a genuína expressão patriótica, laica e sem distinção de classes) é provavelmente a única altura em que a veia máscula e viril ganha características de companheirismo e mutualidade próprias do universo feminino - embora elas nunca tenham precisado de discrição ambiental para assim se desafogarem.
É uma herança da Antiguidade, como aliás em todas as modalidades, este desportivismo e o mais em sua extensão. Os atletas gregos gozavam exactamente dos mesmos benefícios que os de hoje (o estatuto de celebridade; a 'pensão vitalícia' paga para o resto da vida e o protagonismo em eventos públicos e sociais) inclusivé da intimidade por excelência nos balneários.
Têm-se também leituras mais personalistas e de coorporação desse famoso espaço privado onde se conhecem episódios de grande intensidade dos clubes.
Por exemplo no Chelsea, Mourinho elege como busílis terapêutico a presença da música para «se respirar amizade e se olhar de frente com confiança, no elogio e na crítica. Em alegria ou num momento mau, estão juntos mas, sem dúvida alguma, é o balneário com o melhor som».
Não sei se pela sua passagem no FC Porto, que inegavelmente o catapultou para o actual clube inglês, havia «tenda, i-pod ligado a speakers potentes e música seleccionada por um DJ de qualidade», sei sim, que a masculinidade anglo-saxónica de tradição inglesa não deixa para trás a portuguesa e atrevo-me mesmo a dizer que com certeza os nossos portistas já deram mostras públicas de um balneário sentimental explosivo e exponencialmente físico... pelo menos já o fizeram algumas das suas companheiras:
- Em 1991, nos balneários do antigo estádio das Antas, o árbitro Carlos Valente foi abordado com declarado vigor pela mulher de Reinaldo Teles: PAFFFF!!!!!! Apanhado desprevenido pela emoção feminina confessou que «talvez por estar no cousy balneário não tenha tido qualquer reacção contrariada».
Um dirigente de relevo recorda a cena com ternura: «foi uma senhora bofetada. Carlos Valente não estava à espera que isso acontecesse, mas o ambiente estava muito emotivo e, por isso descontrolado. Que estaladão ele levou!»
- 14 Anos depois (2005) Carolina Salgado, companheira de Pinto da Costa, aproveitando o livre trânsito que possuía e que lhe permitiu chegar aos balneários, despediu-se calorosamente dos responsáveis benfiquistas e dos demais, numa soltura de língua tal que os seus entusiásticos impropérios ultrapassaram a ferocidade conhecida dos adeptos e claques azuis.