quarta-feira, janeiro 26, 2005

Sexo-Expresso (II)

Não te amo, quero-te: o amar vem d'alma.
E eu n'alma - tenho a calam,
A calma - do jazigo.
Ai!, não te amo não.


Não te amo, quero-te: o amor é vida,
E a vida - nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai!, não te amo, não!

Ai!, não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.
Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela,

Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não temo, que é forçado,
De mau feitio azado
Este indigno furor.
Mas oh!, não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.

"Não te amo" - Almeida Garrett, 1853