domingo, janeiro 16, 2005

Na solidariedade enquantos uns perdem tudo outros ganham muito mais e Gilberto Madaíl não foi excepção


A solidariedade, enquanto movimento social que cativa a atenção e impele o cidadão ao envolvimento de uma causa, tornou-se neste último século um potencial universo para actividades empresariais e de negócios que têm na generosidade e humanismo do cidadão sedutoras variáveis geradoras de mais-valias.
O fenómeno não surge por acaso e entre as suas razões destaca-se a dependência económica destas estruturas produtivas por parte do anónimo, organização caritária e da própria vítima no momento trágico e desconcertante de urgência.
Nestas alturas os vários segmentos de mercado descobrem autênticas bolsas de oxigénio nos tecidos económicos exaustos pela competição cerrada: os bancos rendem com as omissas taxas nas transferências bancárias, os produtores escoam mais e equilibram receitas, os revendedores libertam os stocks e até na área de serviços estes vêm-se requisitados incessantemente.
Na área em particular da Publicidade os profissionais e agências de comunicação vêem nos últimos anos privilegiada a sua arte comunicacional para acções de natureza ética e de cidadania, além das exponencialmente comerciais que visam o mesmo sujeito comum, mas no seu carácter consumista.

Projectos e publicitários portugueses chegam aos salões internacionais de renome e um exército de marketeers - instrumentos não menos importantes - buscam hoje notoriedade ao serviço das humanidades e chegam a secundarizar o valorizado currículo-tradicional que assenta no Cliente/Produto de carisma comercial.
Nesta ordem de causa-efeito Gilberto Madaíl não foi excepção - apesar de curioso o argumento e o motivo alegado - e ao que parece o Presidente da junta futebolística perante o choque de imagens do socorro às vítimas do tsunami não resistiu ao impulso paternal de ajudar um dos seus.
O federalista do futebol lusitano emocionou-se na TV com uma criança indonésia e sobrevivente à enxurrada que levou tudo e todos - mais e menos jovens -, reparando ainda que no fundo do ecrã e junto ao olhar perdido e assustado só lhe restara o corpo frágil velado pela insígnia da FPF (Federação Portuguesa de Futebol).
Gilberto Madaíl não esteve por menos e anunciou de imediato o seu apoio a Martunis, disponibilizando ao menino de 7 anos um kit completo da Selecção Nacional e a promessa de mais ajuda financeira.
Terá sido a abençoada insígnia o motivo de força maior para a dádiva - todos conhecemos o clubismo romântico desta modalidade - ou trata-se apenas de defeito profissional e o provincianismo português mais uma vez conseguiu desvirtuar um discurso de humanidades para aprimorar uma dissertação de interesses e valores das organizações de futebol nas necessidades no mundo?
Na verdade, pouco interessa, porque sabemos que nestas lidas da solidariedade enquanto uns perdem tudo, outros ganham muito mais com o pouco que oferecem, e neste caso ganhou a FPF o mérito e a nobreza na participação na grande onda generosa em que o mundo mergulhou.
É a coabitação perfeita da sociedade de consumo, seus interesses e da imponderabilidade da espécie humana.