22 Minutos de um futuro holocáustico(*)
O Mundo parou exactamente 22 minutos para acompanhar o juramento de George W. Bush, ou pelo menos parte dele:
- A metade da população que o elegeu há pouco tempo e que o vê como o líder e o "Último Guerreiro", como se das antigas guerras independistas se tratasse;
- Os outros 50%, os kerryanos, toldados com certeza por uma apneia – só que acordados e bem conscientes – pelos próximos quatro anos que se adivinham mandatários de um Iraque multiplicado por cem e uma economia brutalizada e que esqueçe todos;
- A Europa rezando à Nossa Senhora dos Aflitos para que o texano caísse da cavalgadura e folgasse um pouco as suas alergias arábicas, não fosse assim a emergente porta turca consolidar não apenas a convivência islâmica e contrariada dos europeus, mas também arriscar-se a algum Cavalo de Tróia dos secularmente não alinhados com Israel;
- A concorrência chinesa imaginando o jeito que não daria já o imperial telescópio tibetano de 100 metros de diâmetro (um futuro que chega ao âmago do cosmo inimaginável) para observar microscopicamente os suspiros intercalares do delírio do presidente em frases aterradoras que repetia aos milhares de americanos mais papistas que o Papa e que, como uma perfeita Meca, engoliram os arredores do Parque Malcom X, em Washington:
«A liberdade do mundo... (suspirava) A liberdade das nações do mundo... (suspirava) A liberdade da América... (suspirava) A liberdade americana pelo mundo inteiro... (suspirava)».
Lá em casa, entre o calorífico e os cães serenos da sua paz segura, quedei-me perturbada esses mesmos 22 minutos pelo futuro holocáustico(*) que se antevinha.
40 Mil (nem me atrevo a registar a unidade)... obscenos e ultrajantes para pagar um púlpito imperialista e déspota de um estadista ainda mais déspota e com visionismos expansionistas a todo o custo humano.
Em tempos idos (1885/86) o símbolo da Liberdade projectou-se numa figura feminina gigantesca, erguendo uma tocha incandescente de esperança dirigida aos céus e aos mares e que se eleva hoje do porto de Nova Iorque,
Agora, F. A. Bartholdi (escultor francês) talvez não a simbolizasse da mesma maneira.
Talvez lhe poria na mão um míssil ultra-sónico e na figura do corpo a sugestão de um esquadrão da morte que assentasse numa aberrante base de massa humana sacrificada.
(*) - Sei que "holocáustico" é uma derivação incorrecta e inexistente do substantivo, mas é o efeito que pretendo. O correcto seria "do holocausto" mas pretendo-o mais cáustico.
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