(I) Aquele estranho e calado regresso de Clotilde do pequeno-almoço
Clotilde voltara a entrar em casa tão depressa quanto saíra. O marido estranhou e procurou-a pelo chamamento que não mereceu resposta.
Permaneceu afundado no sofá de jornal aberto sobre as pernas e à espera que algum barulho chegasse à sala e explicasse aquele estranho e calado regresso da mulher do pequeno-almoço.
Manteve-se atento e não tardou que Clotilde o chamasse para o almoço entretanto servido e a fumegar adoçicado que já percorria o pequeno hall quadrado e contíguo à sala.
Ergueu-se e poisou o jornal sobre a mesa ao seu lado deixando as folhas impressas como imaculadas, como se nunca tivessem sido violadas na leitura pelo tacto das suas mãos toscas e grossas e seguiu sério e curioso para a cozinha perseguindo aquele silêncio anormal e procurando interpretá-lo no rosto inexpressivo de Clotilde. De pouco lhe serviu que sempre que a encarava ela parecia fugir à sua atenção e forçava no olhar um amuo qualquer que não se encaixava ao seu feitio:
- Esta pescada não é fresca com certeza…
- Não vais comer? – olhou novamente mas em vão que a resposta já ia sumida no ar e pelo corredor a fora.
- Nãoooooooo….. Estou sem apetiteeee..... Tens broa no arm....
[Que raio mas o que é que a mulher tinha? A pescada não lhe parecia nem mais nem menos fresca que a da semana passada e quanto ao resto tudo parecia normal: broa de centeio, azeitonas regadas em alho e azeite, as batatas da aldeia, as únicas que comiam e que se pareciam desfazer ao vapor que era de se ver, o vinho verde de sempre, pouco maduro e bem fresco que transparecia límpido de rolha nos copos grossos.]
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