Até segunda
Acordei bem cedo com as camisas e os lençóis a berrar doidos com a carga de água que lhes caía em cima, dei banho aos cães, entreguei os miúdos aos jogos de matemática que eles adoram e fui-me para a cozinha preparar uma massada de marisco que o meu marido tanto gosta e eu detesto - não porque me saiba mal mas porque dá um trabalhão dos diabos. Almoço pronto a comer. Fui pôr os cães lá fora e levantá-lo da cama no que me indicou precisar de ajuda puxando-me para o meio dos lençóis com uma erecção de palmo e meio e muito saudoso.
Suspirei. Envolveu-me pela cintura e voltei a suspirar. Teimoso, contornou-me por trás - como ele sabe que gosto - e sem que tenha dado por isso encontráva-mo-nos cara a cara, só que a minha expressando grande tédio.
- Estás parva!
Olhei sem lhe dizer nada confirmando o aborrecimento.
- Sinto-me velha...
- Por amor de deus, tens 34...
- Exactamente. Tenho 34 mas fazes amor comigo como se tivesse 58...
Olhou para mim, para o tecto, para a cama e outra vez para mim para se levantar muito ágil e desaparecer no corredor. Fiquei por ali a olhar o nada e enjoada com o cheiro a marisco que perfumava a cozinha, atravessava o corredor e entrava pelo quarto.
O meu marido apareceu-me à porta, nuinho da silva e disse-me sem cerimónias:
- Vou com os miúdos para fora e só voltamos na segunda-feira. Tens o fim-de-semana todo para ti.
- Mas...
- Deixo-te mais a velha, diverte-te! - e beijou-me terno e despachado.
Ouvi os miúdos gritarem excitados e pouco a seguir a porta da rua bater e deixar-me para trás num silêncio deprimente. Só me apeteceu dizer-lhe o que ele me disse a mim:
- Estás parvo? Só voltas na segunda-feira e deixas-me com os cães, que eu é que quis para ter mais trabalho, e sem o teu portátil “para fazer batota ao abandono” e entregue só a mim mesma, aqui a contar as minhas 58 primaveras que não tenho mais a velha que não consegue passar uma tarde sem te ver, quanto mais um fim-de-semana. Estás parvo?
2 Comments:
Já foste? Minha amada! Amor! Amiga! Notícias quero ter todas as horas, porque uns minutos encerra uma eternidade. Porque senão ficarei velho antes de te ver!
Nunca te deixei meu amor... olha para cima.
(Incorro a que este pessoal e lamechas desabafo caia nas mãos erradas mas a paixão baralha-me o discernimento faz já algum tempo portanto que se dane!)
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