domingo, outubro 10, 2004

Agora e sempre, até que...

Será? Não pode ser. (Talvez...)
São 4:30h da manhã e não acredito que sejas tu dentro do táxi que ouço parar à minha porta, afinal isto não são horas para isso, aliás, não são horas para nada senão repousar o meu corpo cansado de ti mas confesso de exasperado por mais.
Não. Não acredito que sejas tu a surpreender-me dessa maneira cruel porque sabes que todas as noites espero por ti, sem que os ossos que me furam e a vista que me falha para os livros que adiei o dia todo - todo o santo dia que só tu e eu via e lia em qualquer sinal, sinalinho, letra e letrinha - não, não me levanto para ir ao varandim e ver que és tu e chorar um sorriso envergonhado porque ainda há poucas horas te ouvi e te vi, tu que nunca me bastas e me deixas sempre rogando por mais, e mais.
Agora que resisto com as poucas forças que me restam ouço vozes na rua. Ouvi um táxi parar à minha porta, faziam já 4:30h da manhã, segui as vozes e constatei feliz que eram de quem se despede e não de quem se apeia à boleia combinada.
É alguém a chegar. Soa-me a masculino (mas não deves ser tu, isso não), é homem concerteza que a porta fechou-se do jeito sólido como só os homens fazem, como só tu fazes quando te despedes dos nosso táxis e fechas-lhes as portas e vens cá para casa.
Vou ver quem é, claro que vou. Vou espreitar no varandim discreto, tão pequeno ele é, vou olhar lá para baixo e ver-te sair sair daquele táxi olhando para cima a procurar-me algures, porque sabes que estou sempre à tua espera, todas as noites no meu varandim minúsculo.
Vou olhar lá para fora ver se és tu nos carros, carrinhas e carroças, em todo o lado que alcançe dali, que só te vejo a ti a surpreenderes-me e a aparecer a qualquer momento a procurar-me lá debaixo, olhando para todos os lados cá em cim à minha procura, só a mim e não outros.
O Chopin que já me anestesia diz-me que és tu em romântica chegada de mala na mão com as camisas e a máquina de barbear a apertarem o teu portátil e a alcançares-me feliz na noite parda que só eu conheçço intimamente porque é minha companheira, amiga sem inveja que só com ela partilho esta insanidade de esperar só por ti e nunca pelo sono que ela me oferece - todas as noites que não durmo porque não quero esquecer-te nos sonhos, esses que não comando e que tenho medo de neles te esquecer, de não te encontrar como na minha rua, ao meu varandim, a procurares-me só a mim - que até tenho medo de dormir e depois de acordar sem te sentir no meu corpo e lembrar-me que passou mais 1 dia e mais 1 noite sem ti comigo e na noite.
Às 4:30h da manhã no táxi que ouço chegar a mim, nesta noite pródiga para o romance perfeito que anseio não sei desde que madrugada, imaginei-te à minha procura na minha rua e alcançando a minha estrela onde te aguardo há muitas noites, que reconheço mais nada nem outros esperar - que tu sabes que não espero por mais ninguém a não seres tu, agora e sempre, até que...