sexta-feira, outubro 28, 2005

Os dramas do crescimento

Cada vez mais me convenço que aquela história de nos "sedimentarmos como indivíduos só até aos 25/28 anos" é um grande equívoco e, porque estamos sempre a aprender, diz a lógica que cresçamos até morrer.
Mas crescer não é o mesmo que aprender, embora para crescermos seja preciso aprender algumas coisas - sobretudo coisas sobre nós com os outros nesta salganhada civilizacional.
Ou seja, não confundamos processos de cognição com processos de maturação individual e social do indivíduo na globalidade. Porque a ser assim o mundo tinha-se ficado pela I Guerra Mundial e João Paulo II não tinha preciso nascer depois de duzentos e tal papas para prestar os devidos reparos e homenagens às vítimas da Inquisição católica ou aos judeus exterminados com o conhecimento da mesma instituição.

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Hoje parece-me que quando era adolescente foi bem mais fácil encenar os dramas do meu crescimento. Os reais e por isso naturalmente pudicos à exposição dos progenitores e outros, e os irreais e próprios do idealismo naïf de quem já desconfia que o mundo à sua volta não vem a quem por direito natural, mas responde ora justa, ora injustamente às investidas e provocações legítimas de cada um.
Por exemplo, a sexualidade avançada foi um drama verdadeiramente sério, inclusive para meus pais impotentes perante a comunidade deserotizada que não sabia sequer que existia o Planeamento Familiar e Sexual para Jovens, quanto mais ouvido falar do precioso Relatório Right que li viciosamente até ao seu último orgasmo tipográfico.
Uma chatice!
Ser obrigada a desenvolver um eros profícuo entre filhos taurinos da terra e filhos de falhados das ex-colónias e de líbido ainda mais pueril que a minha adolescente!
O resultado - e isto é cá comigo - considero-o desastroso e injusto. Afinal, fiquei em banho-maria até aos 18 anos suburbanos e só arranjei amantes porquando me inscreveram numa escola de Lisboa e passei a sair de casa e a fazer amizades.
18 Anos, uffff!!!!!!!
Desastroso porque me vi obrigada a transgredir os canônes da lascívia quando a sociedade já não mo tolerava por ser adulta e injusto por verificar uma grande dose de intolerância e subdesenvolvimento sexual na classe masculina (acabadinhos de chocar ou com idade para serem meus pais) perante o meu sentido estético da coisa carnal e louca.
Correndo o risco de parecer convencida deixem-me, pelo menos, apelar pelo lado comum e prático e que é o que eu não fiz(!!!!) quando miúda e que nos 17 anos a seguir obrigou-me a verdadeiros alpinismos.
Vendo bem... talvez tenha sido dos males o menor, porque o pior veio a seguir.
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Quem teve a triste ideia de sugerir à juventude a ingenuidade de que o "mundo gira e abraça-nos" bem podia ficar caladinho no seu canto.
Doía-nos menos! O mundo não gira e muito menos nos acolhe num regaço generoso.
Pondo de parte as considerações astronómicas que não são para aqui chamadas, o mundo social é essencialmente estático e somente cabem aos desejos de cada um de nós criar-se a ilusão de que o exterior se transmuta e se faz à nossa medida (embore avance ciclicamente de século a século, cada um tem mais anos do que o nosso período por cá).
Afinal, o que são os dramas do crescimento? São as aparentes distorções entre o que julgamos ser e o que verificamos não encaixar com os outros (uma matriz global que é suposto também ter coisas de nós).
Quando os dramas de crescimento são de ordem ideológica e já marinamos na idade adulta, é bem mais difícil encenarmos para os outros a nossa inadaptidão.
O pai e a mãe já cá não estão (pelo menos à mão de semear), os amigos às tantas mandam-nos à merda com o ambiente depressivo que semeamos por todo o lado, etc.
Ao contrário do que é comum nas "crises dos adolescentes", os adultos não têm qualquer tipo de condescendência e pachorra para os tão adultos nas crises de identidade.
O comportamento de alerta passa a ter leituras psíquicas de índole marginal e as "fugas personalistas" propriamente ditas, leituras apocalípticas e ameaçadoras da integridade de todos.
Ou somos crianças ou somos malucos! As crianças crescem e os malucos tornam-se ameaçadores!
Hoje parece-me que quando era adolescente foi bem mais fácil encenar os dramas do meu crescimento, a começar por este registo de diário que aos 35 anos ainda pratico gulosa!

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

http://www.girlspace.com/girlthing/girlthing/moreinfo.asp?WT.srch=1&IQ_ID=27922
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http://www.msnbc.msn.com/id/5344844/
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http://www.mssociety.ca/en/help/GrowingUpStrong_ProjectImplementation.htm
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15:36  

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