O 'velhote' anda manco
Uma Relação de Facto tem mais vantagens libertárias (não, não disse libertinas!) que uma União de Facto e mesmo que algumas se revelem, em circunstâncias particulares, mais "desvantajosas" do que pensávamos isso é a própria vidinha.
- No IRS não há contas a dar por facturas que dobram;
- Mudamos de casa ou emprego sempre que nos der na real gana;
- À agência bancária uma assinatura e B.I. bastam;
- À família nunca parecerá estranho recolhermo-nos três semanas em sua casa com uma valente depressão;
- Para as viagens grandes nunca ouviremos dos outros que «antes de arranjar-mos os cães devíamos ter pensado que se acabariam as honeymoons»;
- Se quisermos adoptar uma criança temos benefícios fiscais por sermos aparentes mães ou pais solteiros; etc; etc.
O mais interessante desta história (para quem assim optou, claro!) é que só se têm os "Amores-difíceis" do Júlio Machado Vaz e daquela mulher interessantíssima (que nunca me lembro o nome) quando se quiser.
Não me tomem e ao 'velhote' - o meu 'mais que tudo' - por mundanos ou de intimidades calculadas quase matematicamente, longe disso.
Todas as uniões, incluindo a católica, geram também os interesses vários que se implicam para cada um e tratam de salvaguardar para o futuro os bens equivalente dos dois:
- comunhão de bens; herança automática aos descendentes directos; contas e créditos bancários conjuntos; etc; etc; (que eu não quero nem nunca quis saber o que é).
Na hora certa, eu e o 'velhote' não nos poupámos a ingenuidades que nos podiam mais tarde sair caras, e, para mim, uma era fundamental e pelos vistos novidade: a SAÚDE!!!!!!!!!!!!!!!!!!
- A saúde???????????? - intrigou-se.
O pormenor de na Relação de Facto a coexistência física funcionar em dois territórios e por isso obrigar à neutralidade das cedências domésticas de ordem prática - ora na minha casa, ora na casa dele - não era impeditivo de alguma pressão da vontade de um sobre o outro, e se havia algo que eu não abdicava era da minha saúde!
- Da tua saúde????????????.
Era importante que eu o avisasse de que nunca abdicaria da minha abstémia médica, ou seja, que nunca esperasse da minha parte zelo e atenção na saúde que podia falhar, a minha claro.
Continuaria a fumar estupidamente como se desejasse um cancro pulmonar à grande e à francesa; a desenvolver curiosa o regime vegetariano que me desfazia gradualmente a resistência óssea e fanava alguns dentes; a levar para o emprego as febres gripais em vez da baixa temporária; a não tomar a pílula porque me alterava o metabolismo todo e o obrigava à camisinha tirana ou ao coitadinho do 'coito'; etc; etc.
- Bem... Está bem!.
Ora, eu não falava de cor, meus amigos.
Estava eu regalada no sofá quando toca o telemóvel e do outro lado o meu companheiro em tom sofrido:
- Estou há meia-hora a tentar apertar os atacadores...
- Como?
- Tenho uma dor na perna esquerda e não me consigo mexer...
Como estava muito longe, não havia como lhe perguntar se precisava que fosse lá, e disse-lhe apenas:
- Vai a uma fármacia e pede um anti-inflamatório - se for uma pequena infecção - ou um creme - se for um mau jeito ou uma luxuação muscular - mas tem calma.
Deixa passar dois ou três dias para não fazeres figuras desnecessárias num médico (o que é que vocês querem, é assim que eu faço comigo!).
- Está bem.
Uma semana depois descobri que ele nem isso quis fazer porque afinal ainda era pior que eu.
Meteu-se doido a consultar mil e uma literaturas médicas e apareceu-me com um auto-diagnóstico de reumático e raquitismo.
- Estou à beira da decadência física e tu a perder tempo comigo.
- Não sejas tonto. Tomás-te alguma coisa?
- Telefonei à minha irmã, que logo disse que já sabia o que era, e me aconselhou a tomar não sei o quê, que ela já tinha tido o mesmo.
Jeitoso! O 'velhote' anda já há um mês manco sem fazer o que quer que seja e eu é que o aturo mais a sua timidez farmacêutica.
É como vos disse: caprichosamente não abdico da minha abstémia dos assuntos da saúde e também me furto ao queixume da dor e mau-estar. Portanto, não chateio ninguém e ninguém me chateia.
Se não... vou mesmo direito aos entendidos dos médicos.
Agora... não ando a queixar-me todo o santo dia!
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